14. ponto pra mim (sue pov)

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- Eu sei que o professor disse que provavelmente nós íamos nos desentender enquanto escolhíamos o tema do trabalho, mas...

- Eu faço o que você quiser.

- O que? - Emily arregala os olhos em minha direção.

- Eu quis dizer que você pode escolher o tema que vamos fazer.

- Mas por acaso eu vou fazer esse trabalho sozinha?

- Não, não é isso...

- Então, você tem que escolher comigo.

- Em, eu só queria que justamente isso não acontecesse. - Eu deveria saber que aquilo sairia ao contrário do que eu tinha imaginado, com Emily era sempre assim.

Nós duas estávamos sentadas em uma das mesas da biblioteca, a que ficava mais afastada. Eu sabia que Emily tinha escolhido aquela porque do lugar que ela estava sentada não teria distração alguma - era muito difícil para ela se manter concentrada em lugares como esse, principalmente quando precisamos estudar.

Eu queria muito sugerir que nós fossemos para a casa da árvore, mas ao mesmo tempo tinha medo de ela recusar novamente, então decidi ficar quieta. Até mesmo porque, além de nós duas, havia somente alguns outros grupos e todos estavam tão ocupados com seus trabalhos quanto nós.

Ela olhava para o lápis em sua mão e eu podia sentir que ela estava agitada. Por isso falei:

- No três, nós falamos juntas o tipo de arte e depois decidimos o artista, o que acha?

- Pode ser.

- Beleza, três dois...

- Não era no três?

- Opa. - Ela ri pra mim, finalmente, mesmo que às custas de minha lerdeza.

"Ponto pra mim"

- Ok, um, dois, três... pintura.

- Música - Ela respondeu ao mesmo tempo.

- De novo, um dois três, música.

- Poesia.

- Eu não acho que isso vai dar certo, Sue...

- Última vez, um dois três... cinema.

- Cinema.

- Viu? Eu disse. - Ela só concorda com a cabeça.

Ela coloca sua bolsa em cima da mesa, abre, e tira seu computador.

- O que você acha do Hayao Miyazaki?

- Como assim o que eu acho dele? Você sabe muito bem o que eu acho dele! Ele é o maior e melhor diretor de todos os tempos!

- Quer falar sobre ele?

- Mas você nem gosta dos filmes dele!

- Eu assisti quase todos os filmes dele.

- Quando? - Eu não precisei responder, bastou nossos olhares se cruzarem para ela entender que foi quando não estávamos nos falando. Afinal, não bastava estar sem falar com ela, eu precisava me enfiar ainda mais no fundo do poço e assistir coisas que me lembravam dela.

O barulho insistente que vinha do celular dela captou sua atenção e nosso contato visual foi cortado. Era uma ligação. Antes de atender, ela olhou ao redor para ver se alguém estava nos observando, quando confirmou que todos cuidavam da própria vida, atendeu:

- Oi... eu estou na biblioteca... não vi as mensagens, o celular estava na bolsa... agora?... o que? você está aonde?... juro, você não tem o que fazer?

O primeiro amorOnde histórias criam vida. Descubra agora