O Dono Da Porra Toda

•6•

Capítulo 6: Rupturas e Recomeços

Na escuridão tranquila do esconderijo improvisado, Mirella finalmente sentiu que podia respirar. Ainda assim, os últimos dias haviam deixado marcas profundas, e as emoções que ela mantivera reprimidas agora ameaçavam transbordar. Gabriel estava sentado ao lado dela, esperando pacientemente enquanto ela buscava as palavras para explicar o que a levara àquela situação.

— Eu nunca imaginei que as coisas chegariam a esse ponto, Gabriel... — Mirella começou, a voz baixa e vacilante.

Ele a olhou atentamente, sem interromper, enquanto ela continuava.

— Depois daquela noite na favela, quando Heitor me seguiu, tudo começou a desmoronar. Ele ameaçou me expor para a minha mãe, para todo mundo. Disse que, se eu não saísse com ele, contaria que eu tinha estado na favela... com você.

Gabriel sentiu o estômago revirar ao ouvir aquilo. Ele sabia que Heitor era um canalha, mas não imaginava que fosse capaz de algo tão baixo.

— Eu não tive escolha. — Mirella continuou, lutando contra as lágrimas. — Ele me chantageou, e eu tive que ir naquele maldito encontro. Fui obrigada a fingir que tudo estava bem, enquanto por dentro eu só queria desaparecer.

Ela fez uma pausa, tentando recuperar o fôlego.

— Mas não parou por aí. Ele ficou me cercando, aparecendo na minha casa, tentando me forçar a gostar dele. E quando viu que eu nunca cederia, foi até a minha mãe e contou tudo.

Gabriel apertou os punhos, os dentes cerrados de raiva.

— E o que sua mãe fez?

— Ela me trancou em casa. Disse que eu era uma vergonha para a família, que estava jogando fora tudo o que eles construíram. Ela tirou meu celular, me cortou do mundo... — Mirella respirou fundo, olhando para ele com os olhos marejados. — Se não fosse por você e pela Laura, eu ainda estaria lá.

Gabriel ficou em silêncio por um momento, absorvendo cada palavra. Quando finalmente falou, sua voz estava cheia de determinação.

— Eu não vou deixar esse cara continuar fazendo isso com você.

— Gabriel, não faça nada que possa te colocar em perigo. — Mirella disse, preocupada. — Só quero seguir em frente e deixar tudo isso para trás.

Ele balançou a cabeça.

— Você merece mais do que isso. Não vou permitir que esse desgraçado saia impune.

Apesar dos protestos de Mirella, Gabriel já havia tomado sua decisão.

Na manhã seguinte, Gabriel reuniu seus subordinados mais confiáveis. Ele sabia que confrontar Heitor diretamente seria arriscado, mas estava disposto a correr o risco por Mirella. O plano era simples: intimidar Heitor o suficiente para que ele nunca mais se aproximasse dela ou de sua família.

Gabriel e seu grupo esperaram do lado de fora de uma das empresas do pai de Heitor. Assim que o viram saindo, bem vestido e despreocupado, Gabriel se aproximou com passos firmes, enquanto os outros cercavam a área para garantir que ninguém interferisse.

— Precisamos conversar, playboy. — Gabriel disse, a voz baixa e perigosa.

Heitor tentou disfarçar o nervosismo, mas o olhar de Gabriel e a presença imponente de seus amigos o deixaram claramente abalado.

— O que você quer? — Heitor perguntou, tentando soar confiante.

— Quero que você fique longe da Mirella. — Gabriel respondeu, cruzando os braços. — E que pare de mexer com a vida dela.

— E se eu não quiser? — Heitor provocou, mas sua voz tremeu levemente.

Gabriel deu um passo à frente, reduzindo a distância entre eles.

— Não vou repetir. Se você tentar alguma coisa, da próxima vez não será só uma conversa.

Heitor, finalmente entendendo que estava em desvantagem, levantou as mãos em sinal de rendição.

— Tá bom, tá bom. Eu me afasto.

Gabriel o encarou por mais alguns segundos antes de se virar e ir embora, deixando Heitor pálido e visivelmente abalado.

Enquanto isso, Clara estava desesperada. Depois de dois dias sem notícias de Mirella, havia acionado conhecidos e até contratado um detetive particular para encontrá-la. A ideia de que sua filha estava desaparecida — e talvez em perigo — era insuportável, mas Clara não conseguia enxergar como suas próprias ações haviam contribuído para a situação.

Quando Mirella finalmente conseguiu um momento de privacidade, decidiu ligar para a mãe. Sabia que o confronto era inevitável, mas precisava esclarecer as coisas.

— Mãe? — Ela disse, assim que Clara atendeu.

— Mirella! Graças a Deus! Onde você está? — Clara exclamou, a voz uma mistura de alívio e raiva.

— Estou segura, mas não vou voltar para casa.

— O que você está dizendo? — Clara perguntou, incrédula. — Você pertence a esta casa, a esta família!

— Não, mãe. Eu pertenço a mim mesma.

As palavras de Mirella foram um choque para Clara, que ficou em silêncio por alguns segundos antes de recuperar a voz.

— Você está se deixando influenciar por pessoas erradas, Mirella. Pessoas que não têm nada a ver com a nossa realidade.

— A sua realidade não é a minha, mãe! — Mirella respondeu, com firmeza. — Vocês querem que eu seja alguém que eu não sou, alguém que só liga para status e aparências. Mas eu quero algo diferente. Quero viver minha vida do meu jeito.

— E você acha que vai conseguir isso fugindo? — Clara rebateu, a voz cheia de indignação.

— Não estou fugindo. Estou me libertando.

Clara tentou argumentar, mas Mirella estava irredutível. Quando a ligação terminou abruptamente, ambas ficaram com um vazio no peito.

Nos dias que se seguiram, Mirella começou a reconstruir sua vida. Com a ajuda de Laura e Gabriel, encontrou um pequeno apartamento onde poderia morar temporariamente. Decidiu retomar os estudos, mas desta vez, em um curso que realmente a interessava.

Gabriel, embora aliviado por tê-la tirado de casa, sabia que o caminho de Mirella seria difícil. Ainda assim, ele prometeu estar ao lado dela, independentemente do que acontecesse.

— Você é mais forte do que imagina. — Ele disse, segurando as mãos dela.

— Eu só estou começando a descobrir isso. — Mirella respondeu, com um sorriso tímido.

Apesar das cicatrizes do passado recente, Mirella finalmente sentiu que estava no controle de sua própria vida. E, com Gabriel ao seu lado, sabia que poderia enfrentar qualquer desafio que viesse.