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Capítulo 24 – Sob a Sombra da Tempestade

Mirella despertou em um dos dias mais tranquilos que havia experimentado em meses. O sol entrava pelas janelas de sua casa, refletindo a paz que finalmente começava a se instalar em sua vida. Gabriel e Ana estavam na cozinha, e o som das risadas da menina preenchia o ambiente. Era isso que ela sempre quis: um lar, um amor verdadeiro e uma família.

Enquanto ajudava Ana com o café da manhã, Gabriel entrou na sala com o telefone pressionado contra o ouvido. O sorriso desapareceu de seu rosto, substituído por uma expressão séria e preocupada. Quando ele desligou, Mirella soube imediatamente que algo estava errado.

— O que aconteceu? — ela perguntou, a voz cheia de receio.

Gabriel hesitou por um momento antes de responder.

— O BOPE. Eles estão planejando subir o morro. A informação chegou agora, e eu preciso agir rápido.

Mirella sentiu o estômago revirar. Ela sabia o que isso significava. Uma invasão era perigosa, imprevisível e poderia deixar um rastro de destruição.

— E o que você vai fazer? — perguntou ela, tentando manter a calma.

— Eu vou segurar as pontas, como sempre. Mas desta vez é diferente. — Gabriel segurou as mãos de Mirella e olhou nos olhos dela com uma seriedade que a assustou. — Eu preciso que você e Ana saiam daqui. Não é seguro.

Mirella balançou a cabeça imediatamente, recusando a ideia.

— Eu não vou te deixar, Gabriel. A gente enfrentou tanta coisa juntos. Por que agora seria diferente?

— Porque agora você não está sozinha. Você tem a Ana. E eu não posso arriscar perder vocês duas.

Ana, que ouvia a conversa sem entender completamente, puxou a barra da camisa de Mirella.

— A gente vai viajar, tia Mirella?

Mirella olhou para Gabriel, sentindo um nó na garganta.

— Vai ser só por um tempo, pequena. Até o papai resolver umas coisas.

Ana sorriu, animada com a ideia de uma "aventura", enquanto Mirella sentia o coração se partir.

Preparativos para a partida.

Gabriel foi rápido em organizar tudo. Ele arrumou um carro para Mirella e Ana, junto com um esconderijo seguro na casa de um amigo de confiança, longe do morro. Antes de saírem, ele abraçou Ana, beijando sua testa com ternura.

— Eu volto pra você logo, princesa. Cuida da Mirella, tá?

Ana assentiu, embora não entendesse completamente o que estava acontecendo. Quando chegou a vez de Mirella, Gabriel a puxou para um abraço apertado.

— Eu te amo. Promete que vai fazer exatamente como eu disse?

Mirella assentiu, segurando as lágrimas.

— Só me dá o sinal. Assim que estiver tudo bem, eu volto.

Gabriel não respondeu, mas a expressão em seu rosto dizia tudo: ele não tinha certeza de que esse dia viria.

O morro em alerta.

Após garantir que Mirella e Ana estavam seguras, Gabriel voltou para o morro. A tensão era palpável. Seus subordinados estavam armados e prontos, mas o medo era visível nos olhos de muitos. Todos sabiam o que uma operação do BOPE significava.

Gabriel reuniu os homens no galpão principal.

— A gente não vai recuar, mas também não vamos procurar confronto. O importante é proteger as famílias daqui. Todo mundo tem que saber que não vamos deixar ninguém desamparado.

Os homens assentiram, confiando cegamente em seu líder. Gabriel sabia que o BOPE era imprevisível, mas ele tinha uma vantagem: conhecia o morro melhor do que ninguém.

A invasão

No final da tarde, o barulho de helicópteros cortou o céu, anunciando a chegada do BOPE. Gabriel estava no comando, orientando os moradores a se protegerem enquanto seus homens seguravam as entradas principais.

Os confrontos começaram pouco depois. Tiros ecoavam pelo morro, e o cheiro de pólvora preenchia o ar. Gabriel estava na linha de frente, liderando seus homens e garantindo que ninguém inocente fosse ferido.

Mas nem todos tiveram a mesma sorte. Dois dos moradores foram atingidos no fogo cruzado e perderam a vida. Outros ficaram feridos, alguns gravemente. Gabriel, em um momento de descuido, acabou sendo atingido por um tiro na lateral do abdômen.

Mesmo ferido, ele continuou comandando até que o BOPE finalmente recuou, incapaz de dominar o terreno.

O Hospital improvisado.

Após a retirada do BOPE, os homens de Gabriel o levaram para um hospital improvisado no morro. O médico local, que já estava acostumado a lidar com ferimentos graves, fez o possível para estabilizá-lo.

— Você teve sorte, Gabriel. Se a bala tivesse acertado dois centímetros para o lado, não estaria aqui agora.

Gabriel respirava com dificuldade, mas ainda pensava em Mirella e Ana.

— Elas estão seguras, né? — ele perguntou a João, que estava ao seu lado.

João assentiu.

— Estão bem longe daqui, chefe. Agora descansa. Você fez o que tinha que fazer.

Gabriel fechou os olhos, deixando que a exaustão tomasse conta.

A angústia de Mirella.

Longe do morro, Mirella não conseguia dormir. Cada som do lado de fora a fazia pensar no pior. Ela passava o tempo com Ana, tentando manter a menina distraída, mas sua mente estava sempre em Gabriel.

Quando uma semana passou sem notícias, Mirella começou a temer o pior.

— Ele prometeu dar o sinal. Por que não deu ainda? — ela murmurava para si mesma, os olhos fixos no telefone.

Ana, percebendo o nervosismo de Mirella, perguntou:

— O papai tá bem, né? Ele disse que ia voltar logo.

Mirella sorriu com esforço, abraçando a menina.

— Ele vai voltar, sim.

Mas, por dentro, ela estava à beira do desespero.

Um novo dia no morro.

Com o tempo, o morro começou a se recuperar da invasão. Gabriel, embora ainda fraco, já estava de pé, supervisionando os trabalhos de reconstrução e ajudando as famílias que haviam perdido entes queridos.

Ele sabia que o que aconteceu era apenas o começo. O BOPE poderia voltar, e ele precisava estar preparado. Mas, acima de tudo, ele sabia que precisava encontrar uma forma de trazer Mirella e Ana de volta sem colocá-las em perigo novamente.

Com determinação renovada, Gabriel começou a planejar seu próximo passo, prometendo a si mesmo que faria o que fosse necessário para proteger sua família e sua comunidade.

Porque, para ele, o morro era mais do que um território. Era sua casa, e ele lutaria por ela até o fim.

 O Dono Da Porra TodaOnde histórias criam vida. Descubra agora