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Capítulo 8: Caminhos cruzados.

Dois meses haviam se passado desde o fatídico baile. Mirella e Gabriel, apesar das dificuldades, pareciam estar finalmente encontrando um equilíbrio. A rotina de trabalho no restaurante do seu Arnaldo e os momentos ao lado de Laura e Gabriel haviam se tornado a base de uma nova vida para Mirella. Cada dia era uma pequena vitória em sua jornada de reconstrução.

Gabriel também parecia mais tranquilo. Desde que tirara Mirella de casa, havia trabalhado incansavelmente para manter sua segurança. Sua presença era uma constante na vida dela, tanto como um protetor quanto como alguém que a incentivava a se tornar mais independente.

Apesar da simplicidade de suas vidas, havia uma felicidade genuína entre eles. Gabriel era diferente de qualquer pessoa que Mirella já conhecera. Ele era intenso e protetor, mas também tinha um lado gentil que ela começava a desvendar aos poucos. E ela, por sua vez, trazia uma leveza à vida dele que ele não sabia que precisava.

Em um final de tarde, enquanto Mirella fechava o restaurante, Gabriel apareceu para buscá-la.

— Pronta para ir? — Ele perguntou, encostado na porta.

— Quase. Só vou pegar minha bolsa. — Ela respondeu, com um sorriso.

Os dois caminharam juntos até a praça no centro da favela, onde algumas crianças jogavam bola enquanto outros moradores conversavam despreocupadamente. Gabriel a levou até uma lanchonete simples, mas acolhedora, onde haviam começado a se encontrar com frequência.

— Parece que você está se acostumando com essa vida, hein? — Gabriel provocou, enquanto ela tomava um gole de suco.

— Mais do que isso. Acho que finalmente estou me encontrando.

Ele sorriu, orgulhoso.

— Sabia que você ia se dar bem. Você é mais forte do que imagina.

Mirella olhou para ele, tentando esconder o rubor que subia em suas bochechas. Ainda era difícil acreditar que estava tão próxima de alguém como Gabriel, alguém tão diferente de tudo o que ela conhecia, mas que, de alguma forma, parecia ser exatamente o que ela precisava.

Enquanto isso, em outro canto da cidade, Heitor continuava alimentando seu ressentimento. Desde que Mirella o rejeitara, sua vida havia se tornado um emaranhado de ódio e obsessão. Ele não conseguia suportar a ideia de que ela preferira alguém como Gabriel, um "marginal" aos olhos dele, a um homem "de posição" como ele.

Sua obsessão o levava a monitorar cada passo de Mirella. Ele pagava informantes para saber onde ela estava, com quem andava, e, principalmente, para encontrar uma oportunidade de se vingar.

— Ela não pode simplesmente me humilhar assim e sair impune. — Ele disse, em voz baixa, enquanto analisava algumas fotos que um de seus capangas havia tirado dela e de Gabriel juntos.

A visão dos dois sorrindo, parecendo tão à vontade um com o outro, fazia seu sangue ferver.

— Vamos ver até onde esse romance deles vai durar.

Na favela, a tranquilidade de Mirella estava prestes a ser abalada. Ela e Gabriel, sem saber que estavam sendo observados, continuavam a construir seu relacionamento. No entanto, Mirella começou a perceber pequenos sinais de que algo estava errado.

Certa noite, enquanto voltava para casa sozinha depois de um turno mais longo no restaurante, teve a sensação de estar sendo seguida. Ela olhou para trás várias vezes, mas não viu ninguém. Apesar disso, seu coração estava acelerado, e ela apertou o passo até chegar ao apartamento.

— Tudo bem? — Gabriel perguntou, quando ela contou o que havia acontecido.

— Acho que estou sendo paranoica, mas não consigo me livrar dessa sensação.

Gabriel ficou pensativo. Embora Mirella não tivesse visto ninguém, ele sabia que Heitor era astuto e que sua obsessão por ela não havia desaparecido.

— Vou dobrar a segurança. Não quero que você fique sozinha por aí.

— Gabriel, você não pode ficar me protegendo o tempo todo. Eu preciso aprender a cuidar de mim mesma.

— E você vai. — Ele disse, com firmeza. — Mas, até lá, eu estarei aqui.

Alguns dias depois, enquanto Gabriel estava ocupado resolvendo questões com seus homens, Mirella decidiu ir até a casa de Laura para conversar. Durante o caminho, porém, ela teve mais uma vez aquela sensação inquietante. Dessa vez, teve certeza de que alguém a estava seguindo.

Ela parou em uma esquina e olhou para trás, mas novamente não viu ninguém. Ainda assim, sentia que algo não estava certo.

Quando chegou à casa de Laura, contou o que havia acontecido.

— Isso está começando a me assustar, Laura.

— Você precisa contar tudo para o Gabriel. — Laura disse, preocupada.

— Ele já está tão sobrecarregado cuidando de mim. Não quero dar mais trabalho.

— Mirella, isso não é sobre trabalho. Ele se importa com você, e se você está em perigo, ele precisa saber.

Mirella assentiu, decidindo que falaria com Gabriel assim que voltasse para casa.

Enquanto isso, Heitor estava planejando seu próximo movimento. Ele sabia que não podia atacar diretamente, não enquanto Gabriel estivesse por perto. Precisava de algo que causasse um impacto maior, algo que fizesse Mirella se arrepender profundamente de suas escolhas.

— Vamos dar um aviso. Algo que ela não possa ignorar.

Seus capangas ouviram as ordens com atenção, prontos para executar o plano.

Naquela noite, enquanto Gabriel e Mirella conversavam na varanda do apartamento dele, um dos homens de Gabriel chegou com um recado urgente.

— Chefe, tem movimento estranho na área. Uns caras que a gente não conhece estão rondando.

Gabriel imediatamente entrou em modo de alerta.

— Mirella, fica aqui. Não sai por nada. — Ele disse, antes de sair para verificar a situação.

 O Dono Da Porra TodaOnde histórias criam vida. Descubra agora