O Dono Da Porra Toda

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Capítulo 29 – A Dor de uma Perda

Dois meses haviam se passado desde que o pequeno Benício chegara ao mundo, trazendo uma nova onda de alegria para a vida de Mirella, Gabriel, e todos ao seu redor. A paz finalmente parecia ter se instalado. Mirella estava ajustando sua rotina como mãe e empresária, enquanto Gabriel equilibrava sua nova vida de pai com suas responsabilidades no morro. Ana, por sua vez, adorava seu irmãozinho e não perdia uma oportunidade de abraçá-lo, apesar das constantes advertências de Clara para que ela fosse delicada.

Mas, como a vida muitas vezes faz, um golpe inesperado abalou essa felicidade.

A notícia chega.

Era uma manhã ensolarada, e Mirella estava no jardim da casa de Clara, aproveitando um momento tranquilo enquanto Benício dormia em um carrinho sob a sombra de uma árvore. Ana estava sentada no chão ao lado de Mirella, colorindo um desenho com a ajuda de Clara. Gabriel tinha descido para o morro cedo, como de costume.

O som insistente do telefone quebrou a calmaria. Mirella atendeu, pensando que seria Laura ou alguém do ateliê. Mas a voz do outro lado era de João, e ele carregava uma gravidade que Mirella reconheceu de imediato.

— Mirella, preciso falar com o Gabriel, mas você precisa saber... Luana faleceu hoje de manhã.

O impacto das palavras foi como um soco no estômago. Mirella levou a mão à boca, sentindo as lágrimas se acumularem antes mesmo de conseguir responder.

— Como? — sussurrou.

— O câncer... Ela já estava muito debilitada nas últimas semanas. Não resistiu.

Mirella olhou para Ana, que continuava entretida com seu desenho, e sentiu o peso do que aquela notícia significava para a pequena.

— Eu aviso Gabriel. Obrigada por me contar, João — disse, antes de desligar.

A difícil tarefa de contar a verdade.

Quando Gabriel chegou à casa de Clara naquela tarde, ele percebeu de imediato que algo estava errado. Mirella estava inquieta, e Clara o encarava com um olhar de pena e solidariedade.

— O que aconteceu? — perguntou ele, colocando a bolsa de Ana, que trazia nos ombros, sobre o sofá.

Mirella respirou fundo e se aproximou, segurando as mãos dele.

— Gabriel, eu recebi uma ligação do João... É sobre a Luana. Ela faleceu hoje de manhã.

O rosto de Gabriel endureceu, e ele levou alguns segundos para processar a notícia. Ele sabia que Luana estava doente, mas não esperava que o fim chegasse tão rápido.

— Meu Deus... — ele sussurrou, passando a mão pelo rosto.

Mirella apertou as mãos dele, tentando oferecer algum consolo.

— Precisamos contar para a Ana. Ela merece saber.

Gabriel balançou a cabeça, com o olhar perdido.

— Como eu vou explicar isso para ela? Ela é tão pequena, Mirella...

— Vamos fazer isso juntos.

Ana e a realidade da perda.

Eles decidiram esperar até o fim do dia para conversar com Ana. Após o jantar, Gabriel a chamou para o quarto e se sentou ao lado dela na cama, enquanto Mirella ficou em pé, observando a cena com o coração apertado.

— Papai, por que você está triste? — perguntou Ana, com a inocência de uma criança que ainda não entendia a complexidade da vida.

Gabriel respirou fundo, segurando as pequenas mãos da filha.

— Ana, você sabe que sua mamãe estava muito doente, não sabe?

Ela assentiu devagar, seus olhinhos se arregalando.

— Sei... Ela disse que ia melhorar.

Mirella sentiu um nó se formar em sua garganta, mas manteve-se firme, permitindo que Gabriel continuasse.

— Ela tentou, filha. Mas às vezes, mesmo quando tentamos muito, as coisas não acontecem como queremos. Sua mamãe... Ela foi morar no céu.

Ana piscou algumas vezes, tentando processar aquelas palavras.

— Morar no céu? Igual aos passarinhos?

Gabriel assentiu, sentindo uma lágrima escorrer pelo rosto.

— Sim, como os passarinhos. E agora ela vai estar sempre cuidando de você, como uma estrelinha no céu.

Ana ficou em silêncio por um longo momento, olhando para baixo. Quando ergueu o rosto, uma lágrima solitária descia por sua bochecha.

— Eu não vou mais ver ela?

— Não, minha princesa. Mas ela sempre estará com você, aqui no seu coração.

Ana abraçou o pai com força, e Gabriel a segurou como se nunca mais fosse soltar. Mirella se aproximou, envolvendo os dois em seus braços.

Lidando com a perda.

Nos dias que se seguiram, a casa foi tomada por uma atmosfera de tristeza. Ana, embora ainda muito pequena para compreender completamente, parecia ter entendido que sua mãe não voltaria. Ela começou a ficar mais grudada em Gabriel e Mirella, buscando conforto na segurança que eles proporcionavam.

Mirella fazia o possível para ajudar Ana a lidar com a perda, envolvendo-a em atividades que a distraíssem. Muitas vezes, ela a levava para o ateliê ou para passeios curtos, sempre reforçando que ela era muito amada.

— Você está se saindo uma mãe incrível para ela — disse Gabriel, em uma noite enquanto observava Mirella ajudar Ana a pintar um quadro.

— Eu só quero que ela saiba que nunca estará sozinha — respondeu Mirella, sorrindo levemente.

Lembranças e recomeços.

Em um dos momentos mais difíceis, Gabriel e Ana resolveram organizar as coisas de Luana que estavam guardadas em uma caixa. Entre fotos e pequenos objetos, Ana encontrou um álbum de recortes que sua mãe havia feito para ela.

— O que é isso, papai?

Gabriel pegou o álbum e começou a folheá-lo com Ana em seu colo. Lá estavam fotos de Ana recém-nascida, seus primeiros passos, e várias anotações de Luana sobre os marcos da filha.

— Sua mamãe fez isso para você lembrar de como ela te amava.

Ana abraçou o álbum com força, e Gabriel teve que se controlar para não desabar.

Um futuro unido pela saudade.

Apesar da dor, a família começou a encontrar forças na união. Ana, com a ajuda de Gabriel e Mirella, começou a sorrir mais uma vez, encontrando conforto nos momentos simples do dia a dia.

O pequeno Benício, com seus sorrisos e travessuras, também trouxe uma luz renovada à casa. Mirella e Gabriel sabiam que ainda tinham um longo caminho pela frente, mas estavam determinados a enfrentar cada desafio juntos.

A dor da perda de Luana seria sempre uma cicatriz na história deles, mas a memória dela viveria no coração de Ana e na determinação de Gabriel em ser o melhor pai possível para seus filhos.