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Capítulo 26 – Laços e Revezes

O tempo na prisão passava lentamente para Gabriel. As paredes cinzentas e o cheiro de ferro oxidado eram seus companheiros diários, enquanto os advogados que Clara e Arthur haviam contratado batiam de frente com o sistema, sem sucesso. A condenação parecia certa, e a esperança de sair dali antes de cumprir a pena parecia um sonho distante.

Em meio a essa rotina dura, Gabriel encontrou um rosto que nunca esperava ver novamente: Alberto. A chegada do empresário ao mesmo bloco prisional colocou ambos em um campo de batalha silencioso. Alberto, outrora poderoso, agora estava frágil e amargurado, mas não deixava de provocar Gabriel sempre que podia.

— Você acha que venceu? Olhe onde estamos, Gabo. Iguais. Dois ratos presos na mesma jaula — disse Alberto, debochado, durante um momento no refeitório.

Gabriel o ignorava na maioria das vezes, mas a paciência tinha limite. Durante um dia de trabalho forçado no pátio, Alberto não resistiu à chance de provocar novamente, mencionando Mirella.

— Mirella deve estar adorando a liberdade sem você. Talvez ela já tenha encontrado outro...

Foi a gota d'água. Gabriel partiu para cima de Alberto com a fúria de quem carregava anos de desavenças mal resolvidas. A briga começou como socos e empurrões, mas logo escalou. Gabriel, movido pelo ódio, perdeu o controle e acertou Alberto com tamanha força que ele não resistiu aos ferimentos.

A administração da prisão agiu rápido. Gabriel foi enviado para a solitária como punição, sem contato com ninguém por duas semanas.

O plano de fuga.

Na solidão, Gabriel teve tempo para refletir. Ele pensava em Mirella, em Ana, e na promessa que tinha feito de protegê-las a qualquer custo. Sua maior angústia era o silêncio. Não sabia o que acontecia fora dali, e isso o corroía.

Durante esse período, ele começou a notar algo peculiar: um dos agentes penitenciários, que fazia a ronda na solitária, parecia ter um interesse incomum por ele. Certo dia, o agente parou diante da grade e falou:

— Não sei por que, mas todos dizem que você é alguém respeitado lá fora.

Gabriel manteve-se calado, mas a conversa se desenvolveu nos dias seguintes. Aos poucos, o agente revelou que também tinha problemas com a administração da prisão e estava disposto a "ajudar" Gabriel... por um preço.

O plano era audacioso: uma fuga sincronizada durante a troca de diretores dali a quatro meses, quando a segurança estaria mais relaxada devido à transição. Gabriel aceitou, mesmo sabendo dos riscos. Era sua única chance de voltar para a família e para o morro.

No entanto, conforme os meses passavam, os detalhes do plano começaram a mostrar falhas. Informações vazaram entre outros detentos, e Gabriel começou a perceber que seu plano corria o risco de ruir antes mesmo de começar. A ansiedade crescia.

Enquanto isso, fora da prisão.

Mirella estava focada no ateliê, que continuava prosperando, mas a ausência de Gabriel era um peso constante em sua vida. Ana, sempre cheia de energia e curiosidade, fazia perguntas frequentes sobre o pai.

— Titia, por que o papai está viajando tanto?

— Ele está resolvendo algumas coisas do trabalho, meu amor. Mas logo estará de volta.

Mirella que descobrira estar com dois meses de gestação, pensava num futuro incerto. Ela se revezava entre cuidar de Ana e de Laura que havia tido bebê recentemente. Uma menina prematura que havia nascido aos sete meses devido à uma complicação na gestação. Sua mãe, Clara sempre estava presente, ajudava como podia, mas o peso das responsabilidades aumentava cada dia mais.

 O Dono Da Porra TodaOnde histórias criam vida. Descubra agora