•30•

7 0 0
                                    

Capítulo 30 – Novos Passos e Velhas Cicatrizes

O sol nascia sobre o morro, tingindo as casas com tons dourados. O ar, por um momento, parecia leve, sem as tensões que há meses tomavam conta do lugar. Gabriel observava a paisagem da varanda de sua casa, os braços cruzados sobre o peito enquanto pensava em tudo que havia acontecido. O morro estava em paz. O acordo com o comandante do BOPE parecia funcionar, e Gabriel, embora sempre alerta, conseguia respirar sem o peso constante de uma ameaça iminente.

Lá dentro, Mirella cuidava de Benício, que agora com quase seis meses era pura energia e risadas. Ele havia herdado a vivacidade de Gabriel e o sorriso encantador de Mirella. Ana, por outro lado, estava no quintal, cercada por flores, como sempre.

Ana e as flores.

Desde que perdera a mãe, Ana encontrava nas flores um refúgio. Passava horas desenhando-as ou simplesmente conversando com elas. Mirella muitas vezes ficava à janela, observando a menina murmurando palavras suaves para as pétalas coloridas.

— Mamãe Luana, você está vendo o Benício? Ele é tão engraçado — Ana dizia, acariciando uma margarida. — Eu acho que ele gosta de mim, mas às vezes ele chora muito!

Mirella, ao ouvir essas palavras, sentia o coração apertar. Sabia que Ana estava processando a perda da mãe à sua maneira, mas era doloroso ver uma criança tão pequena ter que enfrentar algo tão grande.

Gabriel também percebia. Ele tentou se aproximar em vários momentos, mas sentia que o luto de Ana era um mundo onde ele não podia entrar. Mesmo assim, ele fazia questão de estar por perto, ouvindo e apoiando como podia.

— Você acha que ela está bem? — Gabriel perguntou a Mirella uma noite, enquanto colocavam Benício para dormir.

— Acho que sim. Ela está lidando à maneira dela, Gabriel. O importante é que ela sabe que tem a gente.

Ele assentiu, mas o olhar preocupado continuava.

Benício, a luz da casa.

Enquanto Ana enfrentava seu luto, Benício se tornava a alegria da casa. Com quase seis meses, o bebê já demonstrava uma personalidade cheia de energia. Ele ria alto quando Ana fazia caretas para ele, e adorava quando Mirella o colocava em seu colo para brincar.

— Você tem uma criança muito especial aí, Mirella — dizia Clara, sorrindo enquanto observava Benício estender as mãozinhas para o rosto da mãe.

— Ele é meu raio de sol — respondeu Mirella, beijando a testa do pequeno.

Ana adorava o irmãozinho. Passava horas ao lado dele, balançando brinquedos ou cantando músicas que inventava na hora. Apesar de sua tristeza, era evidente que o amor por Benício a ajudava a encontrar pequenos momentos de felicidade.

A nova rotina de Laura e Aylla.

Laura e Pedro também viviam momentos de tranquilidade. Após as turbulências de sua gravidez prematura, Aylla crescia forte e esperta. Embora ainda exigisse atenção constante, a menina era saudável e encantava a todos com sua vivacidade.

— Ela parece uma miniatura sua, Laura — brincava Gabriel, em uma visita à casa deles.

— Espero que seja mais calma do que eu fui, pelo bem de Pedro! — Laura respondeu, rindo.

Pedro, que segurava Aylla no colo, olhou para Gabriel e deu um sorriso.

— Ela já é a dona da casa, só não sabe ainda.

Gabriel e Mirella riram. Apesar de todos os desafios, era bom ver os amigos felizes e bem.

A paz no morro.

O morro vivia uma paz que há muito não se via. Gabriel, cumprindo sua parte no acordo com o comandante do BOPE, fazia questão de manter as atividades no morro sob controle. Ele sabia que qualquer deslize poderia colocar todos em perigo novamente.

João, agora seu braço direito, ajudava a organizar as operações. Gabriel confiava plenamente nele, e a parceria entre os dois era um dos pilares dessa nova fase.

— Estamos conseguindo, chefe. A comunidade está mais tranquila — comentou João, durante uma das reuniões com Gabriel.

— Não vamos baixar a guarda. Essa paz é frágil, João. Um erro e tudo pode desmoronar.

João concordou. Ambos sabiam que, no mundo em que viviam, a paz era sempre temporária.

Ana e Benício, uma nova dinâmica.

Ana começou a se abrir mais com Mirella sobre seus sentimentos. Uma noite, enquanto Gabriel estava fora resolvendo negócios, Ana se aconchegou ao lado de Mirella no sofá.

— Tia Mirella, você acha que minha mamãe ainda pensa em mim lá no céu? — perguntou a menina, com um olhar sério.

Mirella sentiu as lágrimas chegarem, mas respirou fundo antes de responder.

— Eu tenho certeza disso, meu amor. Sua mamãe te amava muito, e esse amor nunca vai desaparecer.

Ana assentiu, pensativa.

— E você acha que ela conhece o Benício?

— Acho que ela está cuidando de todos nós lá de cima.

A resposta parecia satisfazer Ana, que abraçou Mirella antes de voltar a brincar com seus lápis de cor.

Esperança para o futuro.

Com Benício crescendo e Ana encontrando formas de lidar com a ausência da mãe, a família começava a construir uma nova rotina. Mirella sabia que ainda havia desafios pela frente, mas estava determinada a garantir que seus filhos crescessem rodeados de amor e apoio.

Gabriel, por sua vez, fazia o possível para manter a comunidade unida e segura. Embora nunca pudesse apagar o passado, ele queria construir um futuro melhor para todos, especialmente para sua família.

A vida no morro ainda tinha seus altos e baixos, mas, por enquanto, havia um sentimento de esperança no ar. Mirella, Gabriel, Ana e Benício estavam juntos, e isso era tudo o que importava.

 O Dono Da Porra TodaOnde histórias criam vida. Descubra agora