tt: awnchickens
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Novembro, 2018
Camila
Foi o cheiro de bacon que me acordou pela manhã. Eu precisei um minuto para perceber que tinha dormido a noite inteira e mais trinta segundos para lembrar que não estava sozinha. Meus olhos abriram assustados com a claridade invadindo o quarto e com a ausência do barulho do despertador. Eu não fazia ideia de que horas eram, mas com certeza já passava das seis e meia.
Sentei na cama ainda enrolada no cobertor, agradecendo aos céus por aquelas horas de sono. A minha cabeça tinha parado de doer. O peso atrás dos meus olhos tinha sumido. Meus músculos ainda estavam doloridos, mas pela primeira vez em quarenta e oito horas, eu conseguia pensar. O cochilo no carro antes da aula e voltando para casa na caminhonete de Lauren pareciam uma piada de mau gosto perto de uma noite bem dormida na minha cama.
O frio tinha piorado e o aquecimento artificial do apartamento era a única coisa que me impedia de congelar ali dentro. Uma névoa sombria cobria o topo dos prédios no lado de fora da janela. Nova York parecia mergulhada no clima melancólico de um filme acinzentado, tão lúgubre quanto o mal silencioso que assolava a cidade aos poucos. Eu me perguntei quanto tempo demoraria para a primeira tempestade de neve cair e se isso impediria as mortes de chegarem junto com ela.
Minha mão repousou sobre a costura da estampa de Columbia ornamentada no moletom que abraçava o meu corpo. As lembranças do dia anterior voltaram como água escorrendo por uma torneira aberta. Lembranças de Sofia.
Então, eu percebi. Eu não devia agradecer aos céus por ter conseguido uma noite decente de sono. Eu devia agradecer a Jauregui.
O cheiro de manteiga derretida misturado com café invadiu o quarto e a comprovação da presença de Lauren me fez cair de volta nos travesseiros. O meu corpo tinha passado por muitas ressacas avassaladoras desde a morte de Sofia, mas a ressaca moral de ter aceitado a proteção dela era um tipo de vergonha do dia seguinte com a qual eu não estava pronta para lidar.
Eu não sabia como encará-la depois da bomba emocional em que tinha me transformado naquela sala de reuniões. Correr para o meu quarto e deixar Lauren dormindo no sofá como uma segurança particular era a atitude mais covarde e ridícula que eu tinha tomado em muitos anos.
Eu me sentia como uma criança envergonhada, acordando depois de uma noite com medo de monstros no armário. As portas tinham se aberto, a manhã tinha chegado, e óbvio que a única coisa lá dentro eram as roupas penduradas em cabides.
Sem querer prolongar aquilo, levantei da cama e tentei abrir a porta, mas as dobradiças se recusaram a se movimentar. Um resmungo escapou pela minha boca quando lembrei que tinha me trancado ali dentro, apenas mais uma coisa para acrescentar a minha lista de vergonhas do dia.
Mesmo me sentindo uma idiota frágil e covarde, vesti a minha melhor expressão de indiferença antes de girar a tranca e sair. O cheiro de comida ficou ainda mais forte conforme eu me aproximava e o som de uma música baixa me alcançou no corredor. Quando cheguei na entrada posicionada entre o espaço da cozinha e da sala, a cena que encontrei me fez parar.
Jauregui estava em frente ao fogão, dançando no ritmo de algum clássico do rock que eu não sabia reconhecer. Ela mexia os quadris no tempo da bateria e deslizava pelo chão com o seu par de meias como uma estrela em cima de um palco.
Suas mãos controlavam as frigideiras no fogo, uma com a mistura de ovos e bacon fritando na manteiga e a outra com panquecas. A camisa do Departamento de Polícia de Nova York e a calça de moletom que eu tinha emprestado para ela deixavam a sensação de que Lauren estava em casa. Quando ela pegou a espátula que estava usando para mexer a comida e começou cantar como se fosse um microfone, eu não consegui segurar uma risada.

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Fire & Blood
Fanfiction**Fanfic Multifandom com foco em Camren** Quando Lauren Jauregui é solicitada em uma cena de crime no fim da noite, ela encontra uma imagem familiar para a cidade de Nova York. O corpo de uma mulher usando apenas um par de lingerie vermelha, as quin...