Capítulo 9 - O Luto

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tt: awnchickens

Voltamos, agora com atualização para as aproximadamente dez pessoas que leem essa fanfic.

***

Novembro, 2018

Camila

E como estão as coisas com a Lauren?

— Pelo amor de Deus, você também não. — Eu me afastei da janela e virei para encarar Myrna. A psicóloga estava na sua poltrona de sempre, me analisando com os braços cruzados em cima das pernas enquanto eu observava a cidade pela janela. Por algum motivo, eu não gostava de sentar ali dentro. Me manter em pé era o meu último ato de resistência em um lugar que me deixava tão vulnerável.

— É meu trabalho perguntar sobre isso. — Ela tentou se defender, sem conseguir disfarçar o divertimento escondido no seu rosto.

— É seu trabalho perguntar sobre mim. Sobre o caso. Não sobre a Lauren — eu rebati, mas Myrna não se intimidou.

— A Lauren está trabalhando com você. Perguntar sobre a dinâmica de vocês duas é perguntar sobre você.

Eu suspirei, um pouco incomodada com como a chefe de psicologia do departamento de polícia tinha aprendido a me ler durante os anos. As sessões de terapia acumuladas desde a morte de Sofia eram suficientes para eu saber como as coisas funcionavam. Myrna não desistiria até conseguir arrancar o que queria de mim.

— A Lauren continua sendo a mesma pessoa de sempre. A mesma arrogante prepotente que acha que o mundo gira em torno dela. — Mas era impossível não me perguntar o quanto eu realmente acreditava no que estava falando depois da noite que Jauregui tinha dormido no meu sofá.

— E o que te faz dizer isso com tanta certeza? — como sempre, Myrna percebeu a falta de confiança na minha voz.

— Tudo! — joguei as mãos para o alto e comecei a caminhar de um lado para o outro. Era impressionante como Lauren conseguia me irritar até mesmo quando não estava ali.

— Ela tem essa mania insuportável de escolher o que a gente vai fazer, como a gente vai fazer e quando a gente vai fazer! Primeiro, ela decidiu que eu era incapaz de dirigir até a minha casa. Depois que eu precisava de companhia para passar a noite. Agora cismou que a gente precisa revezar entre o meu apartamento e o dela para eu não ficar sozinha. Você acredita que até a hora do almoço hoje foi por conta dela? Nem mais comer em paz eu consigo com essa mulher em cima de mim! Ela acha que eu tenho que fazer o que ela quer, quando ela quer, do jeito que ela quer!

— Camila — Myrna me interrompeu soltando uma risada baixa —, nós duas sabemos que você não ia comer sozinha se a Lauren não tivesse te obrigado a ir almoçar. Você só não ia comer.

— Isso não é importante. Eu tenho direito ao meu livre arbítrio de decidir o que quero comer, se quero comer e quando quero comer. Ela só faz essas coisas para me irritar. Para provar que o mundo se ajoelha aos pés dela.

Os olhos da psicóloga seguiam os meus passos sem rumo pelo escritório. Mesmo sem olhar para ela, eu sabia que Myrna estava com aquele sorriso presunçoso de quem sabia mais sobre a minha vida do que eu mesma.

Em alguns momentos, ela realmente sabia.

— Tem certeza? Ou você só está falando isso porque é difícil admitir que talvez a Lauren esteja fazendo isso tudo porque se importa com você. — Eu parei de andar pela sala e automaticamente os meus dedos encontraram o elástico preso no meu pulso. Myrna acompanhou os meus movimentos, descendo pelos meus braços em silêncio quando comecei a puxar e soltar o prendedor contra a minha pele.

Fire & BloodOnde histórias criam vida. Descubra agora