Capítulo 16 - Confissões

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tt: awnchickens

A revisão desse capítulo foi seriamente prejudicada por um joelho machucado em um acidente envolvendo a autora e um skate. Peço desculpas se tiver ficado uma merda.

***

Novembro, 2018

Camila

Onde você vai?! — eu perguntei enquanto Lauren disparava na minha frente e abria a porta do meu apartamento.

O bilhete ainda pendia preso entre as suas mãos. A caixa de papelão também. Quando Billie e Finneas colocaram o entregador na patrulha e o levaram direto para a delegacia, Lauren voltou para o meu prédio e subiu até o oitavo andar sem falar nada. Ela já estava praticamente dentro da minha casa quando consegui alcançá-la.

— Lauren! — eu tentei de novo, começando a ficar irritada com o jeito que ela estava me ignorando. Aquilo me lembrava a perguntas que morreram em silêncios sem respostas durante os nossos meses na academia. Me lembrava a uma versão mais jovem de Lauren que não se esforçava para se comunicar.

As suas costas viradas para mim não combinavam com a pessoa que me abraçava e que passava por cima das minhas barreiras de um jeito tão sutil que eu mal percebia que estava cedendo. Com a pessoa que tinha me beijado na cozinha, feito promessas nas quais eu não queria acreditar, e me coberto durante a noite antes de preparar, mais uma vez, o meu café da manhã.

Eram duas versões de Lauren colidindo bem diante dos meus olhos. A que me faria rodar o mundo por ela e a que ainda me deixava do lado de fora do seu.

— O que você está fazendo?! — a minha voz saiu inconscientemente mais alta e esganiçada quando ela entrou no quarto, abriu os meus armários, e começou a jogar peças de roupa em cima da cama.

Meus ternos para trabalhar. Minha camisas de algodão, suéteres e moletons para ficar em casa. As roupas que eu costumava usar para sair quando ter uma vida social ainda era algo cotidiano. Os tecidos se empilhavam em cima do colchão conforme as mãos dela seguiam em movimentos frenéticos.

Eu dei um passo para trás, assustada com aquele descontrole momentâneo. Lauren era sempre era tão impenetrável, tão inabalável. Encontrar rachaduras naquele fronte confiante ainda me surpreendia. Não era todo dia que ela se permitia tamanho desequilíbrio. Mas, nas últimas semanas, aquilo estava se tornando cada vez mais comum. Principalmente quando o assunto em questão era a minha segurança.

— Você não vai mais ficar nessa merda de apartamento! — ela declarou, ainda arrancando roupas do meu armário. — Você está ficando maluca se acha que eu vou te deixar aqui sozinha!

Então, era sobre aquilo. Sobre o bilhete e a caixa largados ao lado da bagunça que aos poucos se formava em cima do colchão. Sobre a obsessão que Lauren tinha criado com a ideia de assumir o papel de super protetora que me manteria a salvo.

— Lauren. — Eu fechei os olhos, respirando fundo e tentando escolher por onde começar.

A lista de motivos para aceitar moradia na casa de alguém parecer dez vezes pior do que ficar sozinha era longa e cheia de argumentos que ninguém conseguiria entender. Mas Lauren entendia sem que eu precisasse dizer nada e isso era muito mais assustador do que noites insones. Ela sabia que eu não queria colocar mais ninguém em risco. Ela sabia que aceitar ficar com qualquer pessoa seria o mesmo que pintar um alvo em um corpo que não era meu.

Eu estava acostumada a ser visada. Eu estava acostumada com a certeza de ser vigiada, talvez até silenciosamente caçada. Isso não significava que eu queria me acostumar com a possibilidade de colocar mais pessoas naquela situação. Sofia tinha pagado o seu preço e essa era uma dívida que eu carregaria pelo resto da vida. Aumentar essa conta inconcebível. Eu podia viver com o risco de me perder, mas eu nunca aceitaria qualquer ínfima chance de perder mais alguém.

Fire & BloodOnde histórias criam vida. Descubra agora