Capítulo 28 - Ohana

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tt da autora: awnchickens

tt da fanfic: fireandbloodfic

>>>> Aviso de gatilho <<< para os seguintes temas:

- Tentativa de suicídio;

- Alcoolismo;

- Abuso psicológico.

***

Lauren

Camila Cabello estava na minha cama. Esse foi o meu primeiro pensamento ao acordar e sentir o seu peso insignificante por cima de mim.

Eu pisquei algumas vezes, tateando pelo colchão até encontrar o celular largado na mesa de cabeceira, bem ao lado de outro telefone que não me pertencia e uma Glock.

O frio do cano da arma na minha mão fez um arrepio descer pelo meu pescoço. A preguiça matinal de segunda-feira desapareceu assim que minha cabeça entrou em alerta, como sempre acontecia quando encontrava o primeiro sinal do ferro de uma pistola.

Esbarrar na arma me despertou de vez, sendo atingida pela claridade que escapava entre as cortinas e ouvindo os primeiros sons de uma cidade se preparando para começar mais um dia. Buzinas distantes, o som dos poucos pássaros que se arriscavam a cantar no frio do inverno para anunciar o começo de mais uma manhã.

Meus dedos se fecharam em torno do celular, levantando o aparelho para espiar a hora. Cinco e meia. O meu relógio biológico moldado em uma prisão nunca falhava.

Eu soltei um resmungo, olhando para baixo e encontrando Camila ainda dormindo.

Um sorriso se formou no meu rosto, não mais acostumada com aquilo. Ela estava deitada de bruços, metade do seu corpo largado no colchão e a outra metade aninhada por cima do meu, encontrando no meu ombro o lugar preferido para a sua cabeça.

O contato cru das nossas peles e das nossas pernas entrelaçadas me fez suspirar. Nós não tínhamos nos dado o trabalho de vestir roupas antes de dormir e isso me dava o prazer de sentir tudo. Os seus seios no meu abdômen, a sua intimidade encaixada na minha cintura e sua boca entreaberta, soltando a respiração quente contra o meu peito. Sua mão direita descansando na minha barriga e o braço esquerdo se encaixado por baixo da minha nuca.

Eu observei cada detalhe, aproveitando-os e os guardando na minha memória. Meus dedos passearam leves pelo seu rosto, fazendo um carinho na sua bochecha enquanto meus olhos registravam o resto.

O cobertor azul em volta dela, deixando metade das suas costas à mostra e a tatuagem recente, uma novidade para mim, exposta por baixo do seu cabelo e por cima da cicatriz.

Camila tinha razão. O seu corpo tinha mudado e, por mais que eu não me importasse esteticamente, isso não significava que eu gostava de perceber como cada provação que ela tinha passado estavam registradas nele. A sua pele estava mais pálida e tudo parecia seco, como se a camada de gordura protegendo seus ossos fosse insignificante.

Eu conseguia enxergar a ondulação das suas costelas, a protuberância alta das suas escápulas. Olhar para ela era como encarar uma foto em um livro sobre distúrbios alimentares e isso me incomodava. Padrões de beleza não.

Ainda sem saber como fazê-la se sentir confortável sobre esse assunto, eu tentei me mexer. Meus planos de levá-la para jantar tinham falhado e eu não queria que ela saísse dali sem comer nada. Com a entrevista coletiva marcada para às dez e meia, seria mais um dia difícil.

Ali, Camila estava segura. Em cima de um palanque, respondendo perguntas sobre um assassino para provocá-lo, ela era apenas uma isca.

Lentamente, eu tentei tirar o meu corpo debaixo do seu, deslizando pela cama para me levantar sem acordá-la. Nós tínhamos muito tempo para nos arrumar com calma e ainda assim chegar na delegacia antes do horário combinado com Mariah e da reunião marcada para alinhar os últimos detalhes da entrevista. Mas o meu movimento cuidadoso foi suficiente para Camila abrir os olhos.

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