Capítulo 15 - A Madrugada

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tt: awnchickens

Veio aí a famigerada atualização. Só gostaria de dizer que o capítulo está gigantesco. Boa sorte.

***

Novembro, 2018

Lauren

Um labirinto de oxigênio contado. Em vez de heras verdes subindo por metros em direção ao céu, chamas e concreto ardendo. Essa era a sensação de se jogar em um incêndio.

Séculos tinham passado até que o homem aprendesse a usar o fogo, a fazer fogo, e, finalmente, a controlar o fogo. Era irônico como uma das ferramentas mais fundamentais na manutenção da vida também tinha o poder de acabar com ela da forma mais inescrupulosa e agonizante.

O fogo era uma potência da natureza, domada pelo homem, muitas vezes feita por ele e para ele, mas nunca para tê-lo tão perto. Não era natural estar entre chamas. Não era do temperamento delas receber vida, apesar de serem responsáveis, em grande parte, por criá-la.

Eu não sabia no que estava pensando quando coloquei a jaqueta contra o rosto e comecei a correr. Assim que meus pés passaram pelo lobby e encontraram o caminho das escadas, a minha memória muscular tentou recuperar os treinamentos de Gibbins. Mas existia uma diferença brutal entre subir degraus embaixo do sol de verão de Miami e subir degraus engolindo fumaça, sentindo o calor de Fahrenheits desumanos conforme o terceiro andar se aproximava.

Chamas consomem oxigênio. Eu percebi isso assim que o meu começou a faltar e a minha garganta ressecou com a fuligem que entrava pelos meus pulmões. A proteção inútil da minha jaqueta contra o nariz parecia tão inocente quanto uma criança esperando presentes vindos da chaminé em uma noite de Natal. Ingênua.

O tecido de pele era uma piada perto da força do calor e da toxicidade do ar. Em menos de cinco segundos o suor se acumulou nas minhas costas, na minha testa, no meu rosto, em todos os lugares. O frio congelante de Nova York que sempre me irritava tanto parecia um convite para o paraíso lá fora.

Isso porque eu mal tinha chegado no foco principal.

Eu passei pelo segundo pavimento, vendo a luz alaranjada já dançando pelas frestas da porta de metal que separava as escadas do corredor. O fogo estava descendo e provavelmente também subindo. Isso significava que eu tinha grandes chances de acabar presa. O caminho de ida não necessariamente existiria na volta. Tudo dependia de quem conseguiria agir mais rápido. Eu ou as chamas.

A minha mão queimou quando automaticamente se esticou na direção da maçaneta de ferro do terceiro andar. Teoricamente, era ali que o incêndio tinha começado e era ali que alguém estaria se ainda estivesse preso. Mas eu não precisei de muito para receber a minha primeira lição sobre brincar com fogo.

Tudo queimava. Até mesmo o que não estava em contato direto com ele.

Eu soltei um grito abafado, segurando a mão direita contra o meu corpo enquanto a ardência se espalhava pela minha palma. Ser dona de cinco sentidos era superestimado.

Eu dispensaria o olfato sem pensar duas vezes se isso me poupasse do cheiro nauseante de queimado misturado com querosene. Mas não foi o cheiro que me abandonou porque isso seria fácil demais. Foi o tato quando a dor alucinante se espalhou, guiada pelas minhas terminações nervosas danificadas, gritando por não conseguirem sentir nada e por sentirem tudo ao mesmo tempo.

Queimaduras, por mais superficiais que fossem, doíam como inferno. Eu teria xingado se conseguisse proferir palavras, mas a fumaça e o calor estavam ainda mais fortes ali em cima e abrir a boca parecia um sinônimo de se engasgar com o ar.

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