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O relógio marca uma hora da madrugada. Vinnie fez questão de vir até aqui com esse terno preto, agora um pouco menos formal e sem graça.

Todas as coisas que ele me disse, passando constantemente por minha cabeça. Não paravam de me martelar por sequer um minuto.

Esse lugar era mais do que um simples bar, as pessoas transpiravam e gritavam em conjunto por mais música e solos.

— A casa está cheia, você vai amar — tira sua guitarra do carro.

— É claro que vou, I'm a Brooklyn baby.

— Sim, você é, e por isso vai aproveitar do lado do pequeno palco.

— Quer dizer que não vou pular na multidão e provavelmente ser pisoteada? Lamentável.

Ele ri baixo.

— Hacker! Que bom que veio, a próxima pala é sua cara — um homem enorme grita.

— Quebre a perna, rockstar — pisco de lado.

— Me lembre de não levar isso a sério — coloca os braços sobre meu ombro, ditando o caminho para o show.

Me sentia especial, e isso era um massacre. Todos aclamavam na parte de baixo, enquanto eu sentia a adrenalina do maior público que já vi. Era apenas um bar, lotado na madrugada, mas parecia mais um festival.

Vinnie e seus amigos entram, fazendo os gritos se expandirem.

Antes da música começar a tocar, sinto um pequeno olhar dele sobre mim, sorrio em resposta.

— Essa música vai para a pessoa mais chata e sábia que eu já conheci — diz ao microfone me fazendo rir — Ela provavelmente acharia isso idiota e brega, mas moranguinho, essa é para você, amiga do fim e inimiga de tudo o que vocês podem pensar.

Minha música preferida, como ele sabia? Vinnie Hacker sabe tudo sobre mim a esse ponto.

Quando o solo de guitarra começa, o garoto me chama ao palco.

— Não, nem nos seus sonhos — recuso de longe.

— Sonhos se realizam — me obriga a entrar.

Eu parecia envergonhada de primeira, mas logo a música tomou conta do meu corpo, e o microfone foi tomado.

— Kiss me hard before you go, summertime sadness, i just wanted you to know, that, baby, you're the best...

As letras saiam de minha boca perfeitamente, é como se eu tivesse nascido para aquilo, não tinha olhos para mais nada, apenas sua euforia ao meu lado, acompanhando o vocal.

Quando as luzes se apagaram, palmas e mais gritos vieram a tona, eu estava fora de si, mas me sentia completa. Nunca me senti tão segura.

Eu realmente fiz isso.
Eu fiz isso.
E eu me sinto bem.
Livre.
E não estou sozinha.

Vinnie segurou meu rosto, intercalando seu olhar entre meus olhos e minha boca, o espaço era mínimo.

— Eu vou partir seu coração — murmuro baixo.

— Você já partiu — quebra a distancia, fazendo de nós dois, um só.

Um beijo, como descrever? Normalmente é só o encontro de duas bocas, mas ali, cada parte de mim se dissolvia ao ar, eu queria, e não me importava com o que aconteceria em seguida.

Ninguém se importava.

Eram só eu, Vinnie, sua banda, um bar lotado, e um oceano de sentimentos.

"Algum dia, alguém vai te fazer sentir as estrelas"

Em alguns meses, eu deixei me levar, e nunca me deixo levar. Permiti que isso tudo viesse a tona, e nunca permito.

Não sei quando nós nos perdemos, deixamos de nos odiar. Talvez tenha acontecido no momento que seu olhar cruzou o meu, ou quando minhas cicatrizes foram acariciadas.

Estava desarmada, minha torre caiu, e todo meu mecanismo de defesa foi embora com seu toque, como se estivesse me transformando.

Vou me arrepender mais tarde, mas agora, só quero você.

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Próximo capítulo em breve.

Dear diary, Vinnie Hacker.Onde histórias criam vida. Descubra agora