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Nunca me imaginei assim, eu vejo outra pessoa, mas é apenas meu reflexo.

- Você está...arrumado - sorrio vendo a imagem de Vinnie preencher o espelho.

- Ah, me poupe de seus elogios. Arrumado, lindo, extravagante...

- Não exagera - resmungo - Ai, fecha os olhos.

- Não é um lugar apropriado pra me matar, moranguinho - me encara duvidoso.

- Só fecha os olhos - repito, e assim o faz.

Em três segundos, pego um buquê de flores que escondi. Isso era meio "brega", mas não consigo me expressar pra alguém em outra forma menos constrangedora.

- Rosas pretas?! - abre os olhos entusiasmado.

- Ser normal é a meta dos fracassados, não?

- Antigamente os homens davam flores, hoje em dia essa mulher moderna que me presenteia, me sinto lisonjeado. Isso é um ato protestante feminista?

- É só um jeito de dizer obrigado - retoco meu batom uma última vez.

- O que? Desculpe, não ouvi, pode repetir? - brinca.

- Não, agora vamos.

A cada passo sinto meu coração palpitar, talvez essa seja a hora de desistir e sair correndo.

- Veredito final? - susurra antes de entrarmos no local da cerimônia.

- Cortem as cabeças.

Parte de mim se perdia nessa maré de sentimentos, era uma confusão em minha mente, o que só me deixava mais inspirada. Para uma escritora, o sofrimento, o amor, o luto, podem ser pontos de partidas pra liberar a imaginação.

Flores brancas, parentes emocionados, crianças chorando, eu já vi essa história antes.

Por que você não pode simplismente o perdoar?

É muito mais que isso. Meus monstros me torturam mais do que isso, mas está na hora de se libertar.

A melodia da música começa, o salão inteiro se levanta.

- Só porque queima não quer dizer que é o fim, você tem que levantar e tentar de novo, pensa nisso - aperta minha mão, percebendo meu desconforto.

Em segundos, uma mulher alta, loira, e linda caminhava pela passarela. Seus olhos brilhavam, como se enxergasse um futuro inteiro pela frente. Por mais que minhas cicatrizes doam, eu nunca vou desejar o pior para alguém. Não é porque em mim sangra, que outras pessoas não possam ser felizes.

A pior doença é aquela invisível aos olhos.

A verdade é que eu não queria estar aqui e admitir que pessoas podem mudar. Esse é o problema, as pessoas podem mudar, mas para mim as memórias nunca vão ser apagadas.

Ele percebeu minha presença, era impossível não perceber com tanto drama solto ao ar. A esperança é visível nele ao olhar a bela moça, ele crê nela, mas não crê em mim. E está tudo bem, eu acho, não ligo pra isso, desde que não me afete nunca mais.

O casamento foi um verdadeiro... casamento. Um padre lendo algums versículos da bíblia, promessas improváveis, gritos e briga para ver quem vai ser a próxima noiva. Esse futuro é provavelmente um dos meus maiores medos.

Dear diary, Vinnie Hacker.Onde histórias criam vida. Descubra agora