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Ainda é estranho.

Acho que nunca vou me acostumar com a idéia de que em frente a mim, bem embaixo dessa terra está o corpo de Luke Cullen, meu pai.

É um dia frio.
Frio tal qual o dia em que cheguei nessa cidade, dia em que minha vida mudou por completo.

Hoje, nesse cemitério, são só corpos, mas um dia, esses corpos foram acompanhados por almas.

Almas repletas de sonhos, de paixões, de dores, algumas maldosas, outras piedosas...

Almas humanas.

Almas não podem ser enterradas.
Almas nunca morrem.

Deixo flores próxima a sua lápide e respiro fundo antes de deixar o lugar.

Fazia tempo que não caminhava por Lincon Hills com tanta tranquilidade, como era aliviador sentir paz de espírito.

O mesmo parque, crianças diferentes brincando.

Me lembro de chegar aqui e sentir tudo tão feio, sem cor, assombrado. Hoje vejo que aquilo talvez era apenas uma reflexão do meu interior.

Foi um longo tempo, tantas vivencias, tantos aprendizados, tantas dores. Me vejo diferente do dia em que cheguei aqui, amadureci.

Entretanto, a Beatrice da "mansão assombrada", sempre vai existir.

- Mãe! Cheguei! - abro a porta de casa.

Silencio absoluto. O que é estranho, levando em conta que ela não para sequer um minuto de escutar Britney Spears.

- Mãe? - procuro pelos cantos - Vamos mãe, você ja não está meio senhora para brincar de pique-esconde?

Foi meu quando senti meu corpo paralisar por três segundos, até reagir caindo no chão, ao lado do corpo de minha mãe.

- Mãe! Acorda por favor! - gritei enquanto cuidadosamente tentava a levantar.

Sem respostas. Me deitei em seu peito enquanto chorava desesperadamente.

Já não ouvia mais seu coração bater.

Me levantei sentindo meu corpo doer.
A dor era bem maior que qualquer machucado, que qualquer bolada, braço quebrado, corte.

Era maior que a dor do vazio no qual me afundei.

Essa dor queimava. Tentei tanto me preparar para isso, mas a verdade é que isso é impossível, apenas uma mentira para tentar consolar e fingir que nunca iria ocorrer.

Mas aconteceu.

E assim eu andei, sem rumo em choque.

Passei pela porta de casa.

- Alguém me ajuda! Por favor! - meu grito ecoou pela rua.

E então, na mesma rua em que anos atrás mamãe estacionou o carro para mudar nossas vidas pra sempre, sem ao menos eu saber disso, me peguei aos prantos, implorando por uma salvação inexistente.

- Mamãe...

Dizem que quando estamos de frente com a morte, um filme de sua vida inteira passa por sua mente.

"Mamãe"

Foi minha ultima palavra, antes de uma buzina ensurdecedora corromper minha audição e meu corpo se desligar por completo.

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Próximo capítulo em breve.

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⏰ Última atualização: Mar 17 ⏰

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Dear diary, Vinnie Hacker.Onde histórias criam vida. Descubra agora