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Eu fazia os preparativos finais no vestiário. Meu cabelo, como sempre, estava solto ao ar, meus olhos se destacavam com o preto na linha d'água, ressaltando o olhar profundo.

"Olhos de oceano", como odiava amar ficar pensando em seus apelidos tolos. Mas não se tratava só disso, eu pensava em você a cada segundo, tudo o que me disse quando eu precisava ouvir.

Sabe quando algo é tão intenso e você sequer sabe de onde essa intensidade vem? Talvez seja todo os sentimentos que eu havia me privado de sentir vindo a tona, tudo de uma vez. Me fazendo pensar, é possível algo ser tão intenso e ser eterno? Pois ainda sim tenho a sensação de que passe o tempo que passar, serei a mesma, e você o mesmo para mim, cada dia mais.

Quando decidi assumir o que sentia no fundo de meu coração, foi como se não houvesse amanhã, a verdade é que talvez não tenha, mas não ligo, e é essa fúria de não conseguir voltar atrás que estou falando. Talvez não queira voltar atrás, talvez nem tente voltar atrás.

Você está linda. — a imagem de Lily toma o espelho, colocando suas duas mãos sobre meus ombros.

— Não, você é linda. — Kelly sorri.

Não esqueci em nenhum minuto sobre minha conversa com Hacker mais cedo, nós iríamos sair daqui, talvez por uns dias, uma semana, ou até meses. A ideia de fugir era tentadora, mas não para sempre, apenas nós dois, em um carro velho, som alto, insultos, a única diferença agora era que não precisávamos esconder sentimentos.

Ir pra longe, esquecer tudo, se me dissesse isso a alguns meses eu aceitaria com um sorriso no rosto.

Agora, tenho as meninas, Vinnie, mamãe, tenho uma família.

Vou até o armário na intenção de guardar minhas coisas, mas algo cai no chão antes que pudesse perceber.

"Você tinha razão, flores são bregas." Leio o bilhete.

— Eu sempre tenho razão. — pego as rosas, pintadas na cor preta.

— Vamos? — as garotas gritam.

— Eu tenho escolha? — reviro os olhos.

— Não, você nunca tem.

Elas seguraram minha mão firmemente, quase me arrastando pra fora de onde estava.

E pensar que tudo isso começou quando não desisti, quando tentei por uma última vez esperando o pior, e recebi motivos pra sorrir, talvez algumas lágrimas, mas posso dizer que as expectativas de Beatrice Hell finalmente foram quebradas. Isso sendo profunda, a realidade é que começou em uma cidade esquisita com um menino esquisito que teve uma atitude mais esquisita ainda.

Era possível ouvir alguns gritos sem nem colocar um passo no estádio. Essa é a merda do sonho adolescente? Ridículo, mas não vou perder Vinnie Hacker jogando futebol americano.

— O que é pra gritar mesmo? — digo fazendo Kelly rir.

As portas se abrem, como nos filmes. Elisey, a líder, comandava as cadáveres da torcida (como apelidei carinhosamente), de forma bruta, isso era um campo de batalha, engraçado ver sua cara.

Logo atraímos toda a atenção, pessoas do lado esquerdo e do direito balançavam dedos gigantes de isopor. Isso é pra motivar? Aí meu Deus, o que estou fazendo?

Não demorou minutos pra Lily começar a tropeçar, e Kelly fazer seja lá o que sejam aqueles movimentos.

— Dança das cavernas? Que antiquado. — rio delas, já no local de torcida.

— Quem deixou a gestante dançar? - uma delas grita.

Por que as coisas tem que ser assim? Talvez porque certas pessoas sejam assim. Só esperam um momento, um contexto, e então acham alguma forma de te criticar totalmente de graça.

Dear diary, Vinnie Hacker.Onde histórias criam vida. Descubra agora