Capítulo 4

73 7 1
                                    

Capítulo

A aranha observava a sua presa dedicando a ela o máximo da sua atenção. As longas patas fixas nos fios da teia lançando sobre a mosca o seu olhar hipnotizador.
A mosca voava em torno da teia sem ter consciência do perigo que corria. Somente seguia o fluxo e voando, girando, vivendo. Perdeu o controle sobre os seus próprios movimentos, sentindo uma vontade inexplicável de seguir em direção à teia,onde foi capturada e devorada lentamente.
Os oito anos de idade não deram a Matheus o tempo necessário para a compreensão do mundo a sua volta. Soluçava em prantos correndo em direção aos braços de Marília.
Sem entender o motivo do choro do menino, ela interrompe a sua atividade de passar roupas, pondo o ferro em pé sobre a tábua de passar. Toma o menino em seus braços.
Gargalha ao ouvir do menino o motivo de seu choro. Achava engraçado como a morte de uma mosca poderia entristecer a ingênua criança.
_ Oh, meu amor, a vida é assim mesmo. A aranha precisava comer e a mosca era a comida dela.
_ Mas, a mosca não estava fazendo nada de errado. Só estava voando.
_ Essa é a lei da natureza, meu filho. Uns caçam e outros são  devorados.
Matheus sentiu uma profunda angústia. O sentimento de injustiça gritava em seu peito o fazendo chorar.
Anos depois Matheus tinha o mesmo sentimento, contudo acompanhado do desespero.
Se perguntava o porquê de Patrick ter sido estraçalhado como a mosca. Agora, com os seus vinte e três anos ele compreendia que animais matavam para se alimentarem, se defenderem e por instinto. Mas, e o ser humano? Matá por quê? Ele sabia a resposta e sentia nojo dela. Ser humano mata por prazer.
Ainda estava tentando processar dentro de si todo o acontecido. Desejava chorar como fez quando criança, mas desta  vez o desespero estava desacompanhado das lágrimas.
Segurava a mão ferida do amado e acariciava os seus cabelos. Para Matheus era doloroso demais ver o homem da sua vida desacordado naquela cama de hospital, com aparelhos respiratórios ao seu lado e uma sonda no nariz.
A tristeza o consumia ao observar os hematomas arroxeados presentes na face do marido. Os olhos roxos e inchaços, a boca cortada.
Perguntava-se o motivo de tamanha violência. Patrick nunca fez mal a alguém. Sempre foi pacífico e fazia de tudo para evitar conflitos.
Encostou a cabeça próxima a dele e as lembranças das palavras do médico o deixou desolado.
Apesar da gravidade do seu estado, Patrick tinha grandes chances de sobreviver. No entanto,  o ato de crueldade dos monstros odiosos resultariam em sequelas, que mudariam a vida de Patrick para sempre.
Uma das balas lesionou  sua a coluna vertebral  e o jovem perderia para sempre os movimentos das suas pernas.
Matheus se sentia incapacitado de dar essa notícia a ele, quando despertasse.
Por volta das seis da manhã daquele dia, foi despertado com Renata entrando em seu apartamento para dar a  trágica noticia.
A princípio, quando soube, ela não queria contar ao filho por medo do seu sofrimento, mas foi orientado por Marquinhos a fazer.
_ Você não pode impedir que Matheus sofra. A tragédia já aconteceu e ele tem o direito de saber.
Assim que soube, compreendeu o motivo da sua angústia na noite da festa. Era um presságio!
Foi ao hospital às pressas. Como o atentado ocorreu perto do bar. Jonas soube quando os outros convidados chegaram no ponto de ônibus e os encontraram quase mortos.
Os agressores desapareceram.
Das vítimas, dois faleceram por sofrerem traumatismo craniano,  os outros chegaram ao hospital feridos  em estado de choque e Patrick estava desacordado e gravemente ferido.
Jonas fez questão de chamar uma ambulância de um hospital particular e arcar com as despesas. Ficou desesperado ao ver Patrick no chão. Chorava muito acreditando que o amigo havia morrido.
Foi até o hospital e sentiu pena de Matheus. Imaginou-se no lugar dele. Patrick foi vítima de homofobia,  uma violência que ele e Bruno também corriam risco de sofrer.
Observava a aflição de Matheus, que estava pálido e trêmulo. Sentado no banco fitando um canto do corredor, com lágrimas nos olhos, num silêncio dolorido.
"E se fosse Bruno?  Poderia eu estar sentado naquele banco sofrendo o que Matheus está sofrendo." Foi o que pensou e se desesperou com essa possibilidade.
Aproximou-se de Matheus, que estava ao lado de Renata. A mulher tentava acalmar o filho oferecendo um copo com água. Mas, ele permanecia em silêncio como se ninguém estivesse ao seu lado.
Jonas os cumprimentou e ofereceu a sua solidariedade.
_  Matheus, eu  sinto muito. Eu... você pode contar comigo para o que precisar.
Matheus continuou calado olhando o corredor, enquanto as lágrimas escorriam.
_ Obrigada, Jonas._ respondeu Renata.

Borboletas sempre voltam 2Onde histórias criam vida. Descubra agora