capítulo 43

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Capítulo 43

Pela janela do quarto da pousada que estava hospedado, Patrick observava a arquitetura colonial da cidade de Paraty.
As casas e sobrados, na sua grande maioria, eram de cores azuis e branco. O ruivo admirava a preservação histórica da cidade, pensando que aqueles monumentos foram construídos há muitos anos atrás e aqui sobreviveram o tempo.
_ Engraçado, né amor. Como as coisas são estranhas. Bem antes de chegarmos ao mundo essas casas foram construídas e vamos embora e elas ainda permanecerão por aqui. É esquisito pensar que tijolos e barros sobrevivem a nós.
_ Que papo mais profundo. Tá filósofa, minha ferrujinha?_ Matheus brincou, beijando a sua face.
A manhã de quinta-feira estava ensolarada e num clima agradável. No céu o azul era exuberante e com poucas nuvens brancas.
O casal chegou na cidade na noite anterior. Hospedaram-se numa pousada de arquitetura colonial. Como os quartos ficavam na parte superior da pousada, Patrick foi levado por Matheus pelo colo.
A princípio, ficou desconfortável, sentindo-se mal por não ser mais capaz de subir uma escada. No entanto, ao chegar no quarto e observar pela janela, todo o seu incômodo foi evaporado. Através da janela, pode ver uma boa parte da cidade.
Cansados, pediram o jantar no quarto ao invés de irem ao restaurante. Adormeceram abraçados e tranquilos. Estavam felizes por, finalmente, terem o tão sonhado descanso.
Despertaram por volta das nove da manhã, e Matheus decidiu repetir a mesma atitude do jantar, solicitando o serviço de quarto para o café da manhã.
Enquanto Patrick observava a cidade pela janela, Matheus tomava banho e vestia um calção de praia e uma camiseta regata.
Patrick o olhou de um jeito interrogativo, quando o viu sair do banheiro vestido do modo citado no parágrafo anterior, com os cabelos molhados e um protetor solar na mão.
_ Pra que isso?_ Patrick perguntava apontando para o protetor solar.
_ Eu sou branco, mas você é uma vela perto de mim. É melhor você usar na praia.
_ Que praia?
_ A praia que fica próxima da pousada.
_ Matheus, eu não posso ir à praia! Eu sou cadeirante!
_ É por acaso é crime cadeirantes frequentarem a praia? Ah, é melhor você nem comprar nada, branco desse jeito, vão pensar que é europeu e vão cobrar o dobro do preço pelos produtos. _ Matheus brincou sorrindo e bagunçando os cabelos vermelhos do marido.
_ Você ainda brinca! Eu não posso ir à praia. Eu não posso entrar no mar. E como vou circular com a cadeira de rodas pela areia?
_ Que bicha perguntativa! Amor, relaxa! Você não precisa entrar no mar para curtir a praia. E fica tranquilo, que eu já pensei em tudo. Você sempre gostou de praia, vai ser muito bom. E o  "senhorito"  tá precisando pegar uma corzinha.
_ Isso é loucura!
_ Eu garanto que será uma loucura deliciosa!
Matheus o beijou, deixando-o um pouco mais tranquilo.

A vista do mar era encantadora aos olhos de Patrick. Sua cor era de um azul cristalino e as ondas batiam na praia levemente, eram brancas como espumas.
O céu, sem nenhuma nuvem, exibindo a sua beleza. O sol proporcionava um calorzinho aconchegante e uma leve brisa brincava com os fios vermelhos dos cabelos de Patrick.
O ruivo fechava os olhos, enchia o pulmão de ar e soltava, respirando fundo e   sentindo a energia positiva do ambiente.
Há muito tempo não ia à praia. Acreditava, que devido a sua deficiência, nunca mais poderia ver o mar de perto.
Ele estava sentado numa espreguiçadeira confortável e acochoada, que Matheus havia alugado. Entre a espreguiçadeira dele e do marido havia uma mesa redonda de madeira, Com um guarda-sol em cima. Sobre ela uma lata de cerveja que Matheus consumia, um prato de camarões fritos e umas rodelas de limão em volta do prato.
Há tempos Patrick abandonou o hábito de consumir bebidas alcoólicas e não sentia falta do gosto do álcool. Preferiu pedir uma água de coco na fruta.
O som do mar mesclava com o  do canto das gaivotas, o tranquilizando.
Olhou para Matheus e percebeu que o marido o observava com um sorriso bobo. Sorriu de volta, fechando os olhos e fazendo duas covinhas nas bochechas, o que deixava Matheus muito encantado.
Sentiu a mão macia do marido tocar a sua e levá-la até a boca para receber um beijo.
_ Que dia perfeito, meu príncipe!
_ Perfeito é você. _ Matheus respondeu   piscando o olho e mandando um beijo.
_ Eu pensei que jamais voltaria à praia.
_ Por que, minha vida? Você sempre gostou de praia!
_ Eu sempre gostei mesmo. Numa das minhas vagas lembranças da minha mãe, eu me recordo de ir à praia com ela e brincar com as conchinhas que colhia.  Mas, devido ao meu estado, eu temia virar um estorvo para você.
_ Que bobagem, Patrick! Então é por isso que você recusava ir com a minha mãe toda vez que ela te convidava? Oh, meu amor, você não é um estorvo. Eu não admito que pense dessa forma de si mesmo.
_ Eu estava errado mesmo. Obrigado por me mostrar isso. Não me importa se não posso ir ao mar, só de estar aqui, olhando pra ele, eu já me sinto feliz.
_ Quem disse que você não vai ao mar?
Patrick o olhou intrigado.
_ Matheus? Matheus!
Matheus levantou com olhar audacioso. Deu a volta até a cadeira de Patrick e o pegou no colo.
_ Matheus, o que você está fazendo? Ficou louco?
_ Confie em mim._pediu Matheus, dando um beijo no rosto de Patrick.
Assustado, o ruivo, se agarrou forte nos ombros de Matheus, fechando os olhos para que não visse os outros a sua volta. Ao contrário de Matheus, que caminhava em direção ao mar, sem se importar com os olhares curiosos dos banhistas.
Ao chegar na beira do mar, pôs Patrick sentado com as penas dentro da água. O mar daquela praia era calmo e as ondas não chegavam a um metro. Ele sentou atrás de Patrick, o abraçando pelas costas e encostando a cabeça em seu ombro.
_ Fica tranquilo, meu bem. Eu não vou deixar que nada de ruim te aconteça.
Os batimentos cardíacos de Patrick estavam tão acelerados, que Matheus o sentiu ao tocar em seu peito. Estava tenso e respirava fundo, quase ofegante.
_ Pode abrir os olhos.
A voz de Matheus o transmitia tanta segurança  que abriu os olhos, segurando forte nas mãos do marido.
A visão do mar azul e das ilhas repletas de árvores verdes o fizeram  se sentir mais calmo. Soltou a mão de Matheus para tocar o mar.
No peito um sentimento estranho o invadia, uma alegria imensa misturada com uma emoção indescritível. Seus olhos se umideceram e Patrick não conseguiu conter as lágrimas. Para ele, era inacreditável que conseguia sentir o mar novamente,  que a sua deficiência não o impediu.
Patrick não conseguia sentir as águas em suas pernas, mas o barulho do bater nas ondas o lembrou de como era a sensação de ter as pernas molhadas. Apertava a areia umida e brincava a deixando escapar pelos dedos.
Matheus pegou um pouco de água nas mãos e molhou o rosto do marido, para que ele pudesse sentir o mar.
Patrick sorria como fazia quando era criança e ia à praia com a sua mãe.
_ Isso é tão bom! Obrigado, minha vida!_ Agradeceu virando a cabeça para traz para tocar nos lábios de Matheus o beijando.

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