Capítulo 11
Quando Cinthia entrou em casa, Isabel a aguardava vestida com uma camisola de cetim rosa, contornada com renda preta na borda do decote. A minúscula calcinha era do mesmo material da camisola.
Naquela noite, ela desejava entregar -se a mulher. Soltou os belos cachos. Os seus lábios carnudos pintados de vermelhos despertavam em Cinthia o desejo de beijá-los.
Contudo, ao ver o semblante triste da esposa, presumiu que algo ruim havia acontecido e que a noite não terminaria como esperava.
Na face, Cinthia expressava revolta.
Sentou no sofá com as pernas abertas, apoiando os cotovelos nas coxas.
Narrou para Isabel o que havia acontecido na casa de Paulo Cézar.
Sua voz era trêmula. Respirava fundo, tentando aliviar o peso no peito.
_ Eu tinha um amigo que dizia : "Só há dois tipos de héteros, os que nos odeiam pela frente, e os que nos odeiam por trás. " Eu discordava dele, mas estou começando a mudar de opinião.
_ Mas, isso não é verdade! Há héteros que não são preconceituosos. Os meus avós, por exemplo, eles te adoram e aprovam a nossa relação! Há também a Renata, a dona Chiquinha, o Rafa e a Olívia.
_ Mas, os que nos odeiam estão ocupando lugares de poder: como igrejas, mídias, no política, no judiciário, sala de aula...
Naquele instante um carro de som circulava próximo ao apartamento delas, tocando a seguinte música:
"Para o fim da corrupção
Vote certo, meu irmão
É Ricardo Policarpo 66
Agora é nossa vez..."
_ Outros estão tentando chegar ao poder.
Isabel deitou a cabeça de Cinthia em seu ombro e a beijou na testa.Matheus entrou no quarto do jeito mais delicado que podia para não acordar Patrick.
Abriu a porta delicadamente e não acendeu a lâmpada do teto, deixando apenas a luminária do criado mudo iluminando o quarto escuro.
Deitou ao lado do marido, observando-o adormecido.
Acariciou o seu rosto, sentindo o coração angustiado. "Como pode um pai dizer coisas tão horríveis sobre o próprio filho?" Foi o que se questionou, com a memória dos insultos de Paulo Cézar nítidos em sua mente.
_Não é justo tudo que você sofreu e sofre na vida. Você não merece todas as maldades que fizeram contigo. Eu não consegui te proteger naquela noite...fui tão incompetente. Eu me lembro que senti algo estranho...uma espécie de presságio...sei lá. Eu deveria ter trancado aquela porta, ter feito qualquer coisa para te proteger, mas falhei.
Matheus encostou a cabeça sobre o peito de Patrick e o envolveu com os seus braços.
As palavras duras de Paulo Cézar eram como golpes de chibatadas, que batiam em sua alma, causando uma tempestades de sentimentos. Entre angústia, ódio, desespero, o que mais reinava era uma intensa tristeza.
Preencheu o seu coração, transbordando em forma de lágrimas.
Chorava em silêncio para não acordar Patrick.Despertou por volta das 6 da manhã para preparar o café da manhã. Queria levar o desjejum para Patrick na cama.
Renata levantou enrolada numa manta para ir ao banheiro e estranhou ver o filho na cozinha, ainda vestido com o pijama.
_ Já está de pé, meu amor?_ perguntou bocejando, tapando a boca com a mão.
_ Eu não consegui dormir direito.
Renata se aproximou do filho e o abraçou.
_ Não foi uma ideia ter ido até lá, né?
_ O que você acha? Um pai que agride um filho por causa da sexualidade dele e o põe pra fora de casa não tem coração para se comover com qualquer situação que o filho esteja passando. O que você esperava, mãe? Que ele dissesse "Ah, meu filho, eu te amo." ?
_ Eu só quis ajudar. Sinceramente, eu não esperava que o cara agisse dessa forma tão cruel. Ele é pai do Patrick! O esperado é que ele o amasse.
_ Mas, não o ama, mãe! O tio Gustavo também era pai do Bruno e não o amava! Tentou atirar nele! O cara que me fez não me amava, tanto que nunca quis saber de mim. Nunca se interessou em saber se nasci vivo ou morto! Nem todos os pais e mães são como você. Eu sei que a sua intenção foi boa, mas não podemos ser ingênuos.
_ Você tem razão. Infelizmente, essa é a nossa realidade.
_ Quer café?_ Matheus perguntou acarinhado o cabelo da mãe e a beijou no rosto em seguida.
_ Hum! O cheirinho está ótimo! Vou querer sim._ Renata beijou a ponta do nariz do filho.
Matheus arrumou a mesa e os dois se sentaram para fazer a primeira refeição do dia.
_ Que saudade que eu estava desses momentos juntos, meu filhinho.
Olhando para a mãe, Matheus sentiu algo bom preencher o seu coração. Uma luz brilhou dentro de si, tendo consciência o quão privilegiado era por tê-la como mãe. De quanto o amor e cuidado o fazia bem e era tão necessário. Lamentou por Patrick não ter tido a mesma sorte.
_ Eu te peço para que não comente nada com o Patrick. Eu não quero que ele sofra com esse assunto. O coitado já está sofrendo muito.
_ Com toda certeza. Faço questão de poupar o Patrick dessa situação desagradável.
_ No que depender de mim, Patrick não terá nenhum tipo de contato com aquele desgraçado.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Borboletas sempre voltam 2
RomanceQuatro anos se passaram e as vidas dos nossos personagens mudaram muito. Jonas e Bruno estão casados e desfrutando de uma boa vida financeira, no entanto o casamento enfrenta uma crise. Para salvar o casamento, Bruno aceita a ajuda do seu estagiári...