capítulo 20

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Capítulo 20

A frieza de Matheus se estendeu por dias. Sempre que Patrick se aproximava para tentar iniciar uma conversa, ele se mostrava sério e só se comunicava para perguntar e responder o essencial.
Patrick sofria muito com as atitudes do marido, chegando a desabafar com os amigos Isabel e Betinho, que se compadeceram da sua situação.
_ Eu sei que a bicha é otária quando o assunto é macho. Eu sempre esfreguei isso na cara dela. Mas, desta vez eu tô com tanta peninha dele. Coitadinho do meu amigo._ Betinho se lamentava com Isabel.
_ Eu também tô péssima com isso. Sacanagem do Matheus! Porra, moleque idiota! Ele tinha que estar cuidando do Patrick e não fazendo gracinhas por causa ciúmes bobos. Ah, Matheus é muito ridículo.
Betinho sorriu num estalo. Comunicou a Isabel que teve uma ideia para alegrar um pouco o amigo.
No dia de sua folga, Betinho organizou um churrasco na varanda do seu apartamento. Não era uma festa, e sim uma pequena reunião entre amigos íntimos. Eles dividiram entre si as despesas das carnes e cervejas.
Os convidados foram, além de Patrick e os organizadores Isabel e Betinho, Cinthia, Olivia e Rafael, mas esse não foi porque resolveu trabalhar.
Por volta das 10 horas da manhã, Patrick recebeu uma mensagem do amigo via Whatsapp.
"Bom dia, bela adormecida❤.  Daqui a pouco, eu tô passando aí para te buscar, para vir aqui em casa. Estou de folga e quero por as fofocas em dia.😜"
"Irmã, não vai rolar. Eu ñ tô legal. Prefiro ficar no meu cantinho.😥"
Betinho enviou um nudes do Leo Stronda.
"Toma aí a foto do pirocão desse gostoso pra te animar🍆"
"Deixa pra outro dia. E além do mais Matheus está em casa e não quero piorar o clima. "
"Foda-se o pitbull boiola. Eu estou indo aí te buscar."
Patrick mandou mais uma mensagem dizendo que não iria, mas percebeu que Betinho não estava mais online.
Betinho parou na soleira da porta abrindo o leque colorido, se abanando com a cabeça erguida para cima.
Ao vê-lo, Renata abriu um sorriso de felicidade. Ela adorava receber Betinho em sua casa e desfrutar da sua companhia animada.
Patrick revirou os olhos para cima, lamentando a teimosia do amigo e Matheus permaneceu sério, sentado no sofá com  um pé no chão e outro no sofá,  cortando as unhas.
_ Cheguei, gentaaa! Cheguei mais linda e poderosa do que de costume para o desespero das inimigas.
Ele caminhou rebolativo em direção a Matheus, simulando uma jogada de cabelos.
_ Atura ou surta, gataaaa!
Matheus o olhou sério, voltando a se concentrar no corte das suas unhas dos pés.
Betinho cumprimentou Patrick e Renata com beijos no rosto e abraços.
_ Que bom te ver por aqui, Betinho! Que bons ventos o trazem?
_ Renatinha, eu vim buscar Patrick para passar o dia comigo lá em casa. Bora gay, se apronta pra gente ir.
_ Ai que ótimo! Seria muito bom para o Patrick se divertir um pouco.
_ Ele está realmente precisando, depois de tudo que teve que aturar._ Betinho dizia olhando para Matheus, que o ignorava.
Patrick desejava ir com Betinho, mas temia um outro chilique de Matheus.
_ Eu não vou não, amigo.
_ E por que não, meu bem? Você precisa se distrair um pouco! Vai curtir  a companhia do seu amigo.
_ Viu, Patrick? Até a sua sogra concorda comigo. Renatinha, ele está preocupado se a Matheusona aí não vai dar piti.  Não se preocupe não, gata, que eu devolvo o seu maridinho inteirinho. E na minha casa ele não será humilhado.
_ Tem algum problema eu ir, amor?
Matheus desviou os olhos da unha e olhou para Patrick.
_ Faça o que você quiser._ disse antes de levantar e ir para o quarto.
_ Viu? Agora você pode ir sem medo. Como você é submissa, deve respeitar a vontade do seu macho, que disse pra você fazer o que você quiser. E você quer ir comigo.
Renata olhou para Patrick com um jeito carinhoso.
_ Vai, meu amor. Pode deixar que eu vou dar o meu jeito para Matheus não grilar. Pode confiar em mim e se divertir muito.
Patrick sorriu sem mostrar os dentes como forma de agradecimento.

Mesmo com os amigos tentando animá-lo, Patrick ainda estava aflito. Tentava esconder a tristeza sorrindo e ouvindo as anedotas dos amigos.
_ Você vai no aniversário da minha avó, né Patrick? Ela tá toda empolgada com a sua presença. Você não sabe o quanto ela ficou feliz de você ter aparecido lá no almoço.
_ Eu não vou não, Olivia.
_ Uh, é! Por que não?
_ Porque o macho dele não deixa.
Patrick olhou para Betinho de um jeito repreensivo.
_ Tá me olhando assim por quê? É verdade!
_ Não é nada disso! Eu não sou nenhum pau mandado do Matheus.
Betinho deu uma gargalhada, deixando Patrick bravo.
_ Eu não vou aceitar um não como resposta. A minha avó e todos nós queremos muito que você vá. E como o Matheus é o seu marido, ele vai contigo, ora!
_ Ele não quer ir, Olívia. Você sabe que Matheus não suporta ficar no mesmo ambiente que o seu irmão e cunhado.
_ Matheus ainda tá com essa bobeira? Porra, já tá na hora de crescer._ disse Cinthia, cortando as carnes assadas para servir aos amigos.
_ Essa festa seria o primeiro lugar em público que eu iria depois do que aconteceu.  E não sei   se estou preparado para isso. Eu não sei explicar. Mas, só de pensar em estar no meio de um monte de gente eu me sinto apavorado.
Os amigos se sensibilzavam com Patrick, demonstrando em seus olhares.
_ Mas, amigo, você precisa vencer esse trauma. Todos nós vamos estar lá. _ Isabel dizia acariciando a mão dele.
_ Vocês podem achar que é infantilidade minha...acho que até seja, mas o Matheus me passa muita segurança. É um sentimento inexplicável de se como ele me protegesse. Eu acho que se o Matheus estivesse comigo na festa, eu me sentiria mais seguro...não sei explicar direito. Eu adoraria ir por causa da dona Chiquinha. Mas, se o Matheus tivesse comigo seria muito mais fácil.
Betinho o abraçou quase chorando.
_ Oh, meu amor, não fique assim. Eu e as rachas aqui vamos estar do seu ladinho o tempo inteiro na festa. Ninguém vai soltar a sua mãozinha.
_ Fale isso pra o Matheus, que com certeza ele vai ir contigo.
_ Depois do show que ele fez, eu duvido, Cinthia.
_ Que show?
Por trás das costas de Cinthia, Isabel fez sinal para que Betinho não contasse. Ela conhecia o temperamento da esposa e temia, que essa se exaltasse.
Contudo, Betinho não estava disposto a guardar segredos e rasgou o verbo, deixando Cinthia revoltada.
_ Puta que me pariu! O que Matheus tem na cabeça?! Caralho que ódio! Eu não acredito que ele teve essa coragem!_ Cinthia gritava.
Olivia bebeu um gole de cerveja para ajudar a descer o espanto.
_ Eu soube que Matheus e o Bruno quase saíram na porrada, mas eu não imaginei que tinha sobrado pra você, amigo.
Patrick abaixou a cabeça. Estava sensível demais e acabou chorando.
_ Eu não aguento mais as coisas desse jeito. Matheus me interpretou mal quando eu disse que ele estava me tratando com um zelo exagerado. Me acusou de ingratidão e isso me doeu muito!
_ Matheus que não apareça na minha frente, que ele vai ouvir poucas e boas...ah, foda-se! Ele vai ouvir aparecendo ou não. Se for preciso eu vou atrás dele.
_ Não se meta nisso, Cinthia.
_ Me meto sim, Bel! Eu amo o Matheus. Ele é um dos meus melhores amigos, mas é muito mimado! E não só pela mãe e sim por todo mundo! "Ai não pode falar assim com o Matheus." "Ai com o  Matheus tem que ter jeitinho pra falar." Uma ova, caralho! Porra! Chega de ficar passando paninho pra ele. Matheus está precisando ouvir umas boas verdades e levar uns bons sacodes para acordar pra vida. Pra deixar de ser um moleque babaca e virar homem!
_ Eu não quero que piore as coisas para o Patrick, amor.
_ Eu acho que a racha tem razão. A Matheusona tá sim precisando de um esporro. Eu mesmo queria dar, mas do jeito que a loira do banheiro é brava, eu tenho medo dela me morder.
_ Eu não tenho medo!_ Cinthia se aproximou da cadeira de rodas, se ajoelhou e segurou no queixo de Patrick, olhando no fundo dos seus olhos._ Escuta bem o que eu vou te dizer, Patrick.  Você é um guerreiro! Não é uma bichinha fraca e manipulável para continuar agindo como tal.
_ Cinthia, por favor!_ Isabel exclamava, com medo da esposa magoar Patrick.
_ Não me interrompa, Isabel! Olha aqui, Patrick, todos  nós aqui somos minorias: eu e a Bel somos sapatões,  o Betinho é veado e a Olivia mulher. Todos nós sofremos com preconceito das pessoas e lutamos diariamente contra eles. Nós somos minorias e como tais temos que nos impor diante da sociedade. Quanto mais abaixo da pirâmide do privilégio nós tivemos, mais temos que erguer as nossas cabeças e mandar os cuzões ir pra casa do caralho!
"Você é gay e um deficiente e por isso, tem a obrigação de pôr pra fora o homão da porra que há dentro de você. Ninguém vai parar de te tratar como um coitado até você parar de se comportar como um. Erga a cabeça e se impõe, caralho! Em frente o Matheus e diga: "Eu vou tomar banho sozinho sim! Eu vou me vestir sozinho sim! Você querendo ou não eu vou conquistar a minha independência!
Deixe claro para todos que você é muito grato por tudo que fazem por você e que os ama, mas diga a eles o quanto te incomoda ser tratado como um inválido. Ninguém tem bola de cristal para adivinhar que esse tipo de tratamento te incomoda. Você tem que se expressar. Empodere-se, meu amigo! Empodere-se!"
Nervosa, Isabel puxou Cinthia e se desculpou com Patrick.
_ Me desculpe, amigo. A minha mulher bebeu demais.
_ Não, Bel. A Cinthia tem razão. Eu preciso tomar uma atitude e resolver essa situação.
_ Esse é o meu garoto!_ Cinthia disse dando um tapinha no ombro do ruivo.

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