Capítulo 30

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Naquela manhã, após a última aula antes do almoço, Matheus se dirigiu a sala dos professores para guardar o material de trabalho, antes de ir à lanchonete almoçar,  como de costume, decidiu ligar para Patrick. Queria ouvir a voz do marido e perguntar como havia sido a sua manhã. Ao parar perto da cafeteira, tirou o celular do bolso. Percebeu que havia várias ligações perdidas de Patrick e Renata e a preocupação bateu com força.
Ninguém o ligava no horário em que estava lecionando, sabiam que durante as aulas o celular ficava no silencioso, o que o deixou ainda mais preocupado, presumindo que algo havia acontecido com Patrick. Retornou as ligações de imediato, com o coração apertado.
Ficou um pouco aliviado ao ouvir a voz do marido, descartando a possibilidade desse ter sofrido um grave acidente.
_ Minha vida, você me ligou? Aconteceu alguma coisa?
_ Sim, meu amor.  Foi com a dona Marília.
_ Com a  minha avó?! O que aconteceu com ela?_ Matheus perguntou sentindo um leve tremor. Como ela era idosa temeu que tivesse tido algum AVC ou infarto.
_ Ela caiu da escada.
_ Que escada?!
_ A escada que usa para limpar o lustre da sala. Ela se desequilibrou e caiu. Como  o Marquinhos  e a Leninha estão trabalhando, eu te liguei. Depois liguei pra Renata. E aí eu lembrei do Betinho. Sorte que ele só trabalha no turno da tarde e a levou de carro para o Pronto Socorro.
_ Ela se machucou muito?
_ Eu não sei dizer direito. Na hora do nervosismo, Betinho esqueceu o celular aqui em casa. Eu liguei pra Renata e ela disse que está indo pra lá.
_ E como ela saiu daí?
_ Ah, tadinha! Chorava de dor. Foi de cortar o coração.
_ Mas também que ideia da minha avó! Ela sabe que tá velha e não pode ficar trepando em cima da escada. Porra, eu falei pra ela que eu limpar os lustres, mas ela é impaciente. Não sabe esperar...ah, coitada da minha avó...tô morrendo de medo dela ter se machucado grave. Eu vou ao Pronto Socorro. Não vou me aguentar se ficar aqui.
_ Tá bom, amor. Quando chegar lá, você me liga me dando informações?
_ Claro. Eu tô indo pra lá. Beijo.
_ Outro, príncipe.

.....

Matheus procurava pela avó entre os muitos rostos de pacientes a espera de um atendimento na recepção do Pronto Socorro.
Sentiu alívio ao ver Renata sentada em um dos bancos, digitando no celular.
Ele se aproximou chamando  dela e tocando em seu ombro.
_ E a minha avó?
_ Eu acabei de chegar aqui agora e não vi nem a Marília e nem o Betinho. Suspeitei que ela já tivessem entrado para ser atendida, aí confirmei na recepção. Mas, não sei de nada que está acontecendo lá dentro. Betinho esqueceu o celular lá em casa.
_ Oh, bicha desmiolada! Só tem piroca na cabeça e não faz nada direito. Agora eu tô aqui preocupado.
_ Você precisa se acalmar, Matheus. Daqui a pouco, você vai dar um piripaque e vai acabar lá dentro.
_ Como eu vou me acalmar, mãe?! A minha avó pode ter se machucado feio! E a culpa é minha por não ter limpado aqueles malditos lustres antes dela meter a mão.
_ Matheus, pare com essa mania de querer carregar o mundo nas costas e assumir culpas que não são suas. O que aconteceu com a Marília foi um acidente.  Filho, você tá precisando relaxar.
_ Mãe, como eu vou relaxar com a minha avó acidentada?! Acho que você não está bem.
_ Não deve ter sido nada grave. Se fosse, a gente já estaria sabendo. Notícia ruim chega rápido.
Matheus sentou ao lado da mãe, apoiando os cotovelos no joelho. Esperou por algumas  horas aflito. Só se sentiu aliviado quando viu Betinho empurrar a cadeira de rodas com Marília sentada e uma perna engessada.
Matheus correu para abraçá-la. Ajeolhou-se no chão segurando a sua mão negra e enrugada e a beijou.
_ Oh, vó, a senhora tá bem? Tá sentindo dor?
_ Agora não estou sentindo tanta dor, meu filho. Mas, na hora eu sofri com muita dor._ Ela disse de um jeito manhoso, sob os carinhos do neto de coração.
_ Bom, a dona Marília está bem. Ela fez vários exames e não teve nenhuma lesão interna ou hemorragia. Só fraturou o fêmur. O médico disse que terá que procurar um ortopedista e fazer fisioterapia. Forte do jeito que a senhora é, logo logo, vai estar boazinha limpando vários lustres.
Betinho sentiu o peso do olhar raivoso que recebeu de Matheus.
_ Ih, calma fera ferida! Foi só uma brincadeira.
_ De muito mal gosto, pintosa.
_ Obrigada, Betinho.
_ De nada, Renatissima! Alguém aqui sabe ser educada e agradecer a coleguinha. Ah, o médico disse para agendar pelo SUS o quanto antes a consulta da Marília.
_ Que mané, SUS! Eu vou pagar tudo. Se depender do SUS a minha avó perde a perna.
_ Ih, olha como ela é próspera! Riquíssima! Sônia Matarazzo é você? Já é loira e malvada,  agora rica! Huum!_ Betinho ironizou pondo as mãos na cintura.
_ Quem essa tal de Sônia Matarazzo?_ perguntou Marília, virando a cabeça para trás, tentando olhar para Betinho.
_ É uma personagem  psicopata de um livro que o Patrick me emprestou. A história é babadeira! Depois eu empresto pra senhora, dona Marilda.
_ Uh, é! Você sabe ler, baleia?! Tô chocado agora!
Betinho fez careta para Matheus.

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