capítulo 21

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Capítulo 21

Era a primeira vez, desde o atentado, que Patrick tomava banho sozinho. Para ele era um desafio realizar essa tarefa, que um dia, foi tão banal para ele.
Ao entrar no banheiro, sentiu medo de cair e Matheus confirmar a sua opinião que ele não seria capaz de realizar essa tarefa. Esse medo foi externalizado com as batidas fortes do seu coração.
Ficou por alguns segundos olhando para o box e as barras de ferro na parede e os olhos umideceram. Virou para a porta com a intenção de chamar por Matheus.
No entanto, pensou que não poderia fraquejar e que precisava ir até o fim. Retirou as roupas, ficando completamente nu. Aproximou a cadeira de rodas do box e transferiu-se para a de banho.
Sentindo as águas caindo sobre o seu corpo, fechou os olhos para sentir o sabonete deslizar sobre a sua pele.
Matheus estava do lado de fora do banheiro, perto da porta, pronto para entrar se fosse acionado. Temia que algo ruim pudesse acontecer. Renata passou por ele enrolada numa toalha, pois tomou banho no banheiro da sua suíte.
_ O que você está fazendo aí, Matheus? Deixe o cara! Ele não vai quebrar.
Matheus a ignorou, permanecendo onde estava.
Sentiu um alívio ao ver a porta se abrir uns vinte minutos depois. Patrick estava enrolado com uma toalha na cintura e os cabelos molhados. Sorria orgulhoso de si mesmo e esperava ver em Matheus o mesmo orgulho.
Contudo, Matheus não quis expressar a felicidade que sentia pela conquista do marido. Estava bravo porque Patrick iria à festa de dona Chiquinha, onde Jonas estaria.
O loiro saiu do corredor, indo em silêncio para a varanda, deixando Patrick chateado.
Renata percebeu a frustração do genro e o parabenizou tentando melhorar a situação.
Patrick se direcionou ao quarto, sentou na cama para se vestir. Sentiu um pouco de dificuldade pelo esforço que há tempos não fazia.
Começou pela blusa social azul marinho e paletó preto. Em seguida, pôs a cueca, dobrando a perna até os quadris, onde encaixou uma perna e fez o mesmo com o outro lado. Elevou o corpo se apoiando na cama com uma mão e com a outra puxou a cueca até que tivesse totalmente vestido.  Fez o mesmo com a calça.
Retornando para a cadeira  de rodas, pôs as meias e os sapatos.
Ao se olhar no espelho sorriu diante da imagem do homem vencedor que se sentia pela pequena independência que conquistara. Penteou os cabelos e pôs o perfume, sorrindo, orgulhoso de si mesmo.

Betinho foi confidenciado que Patrick se sentia tenso por ir a uma festa. Ele se compadeceu do amigo pelos seus temores e traumas.
Decidiu ir até à casa de Renata para buscá-lo e trazer um pouco de segurança a Patrick com a sua presença.
Entrou na casa com o seu jeito espalhafatoso. Escondeu a sua pena  para não ofender Patrick. Ele sabia que o ruivo se sentiria muito melhor se fosse Matheus o acompanhante, mas o loiro era orgulhoso demais para dar o braço a torcer.
Quando entrou, Renata e Patrick os aguardavam arrumados na sala. Matheus saía do banheiro depois de tomar banho.
_ Aaaaaaaa!_ Betinho gritou com as mãos para cima.
Todos olharam assustados.
_ O que houve, Betinho?_ perguntou Renata assustado.
_ É a loira do banheiro!
_ Vá se foder!_ Matheus disse se afastando indo para à sala.
_ Ih, Mas ela é brava, hein! Será que morde?
_ Betinho! Pare com isso! Você também implica!
Betinho olhava para Patrick sorrindo, mandando beijos. Girou mostrando o look: uma calça preta social e um casaco brilhoso dourado, e chapéu da cor da calça.
_ Você está um arraso, Betinho!
_ Tá lindo mesmo, amigo!
_ Eu tô um nojo de tão linda que estou. Meu bem, esta noite eu estou tão gata que nem vou falar, eu vou é miar.
_"Arrasani" do jeito que está, vai acabar arranjando um namoradinho.
_ Ah, deus te ouça, Renata. Tô precisando tanto.
Matheus o olhou de cima em baixo, com desdém.
_ Tá reclamando de quê? A senhora escolheu ser puta, ser dadeira e agora quer namorar? Se enxerga!
_ Como diz a  deusa Pablo Vittar "Piranha também ama", Matheusona!
Renata retirou o celular da bolsa.
_ Bom, já que estamos todos prontos, eu vou chamar o UBER.
_ Vocês vão de UBER?! E o seu carro, mãe?
_ Meu filho, eu vou tomar umas cervejinhas, por isso, que  não vou poder dirigir.
_ Você vai sair com o Patrick e vai beber! Ficou louca?
_ Bicha, Deixa de ser chata!
_ Cala a boca, língua de trapo! Mãe, eu não acredito que você seja tão irresponsável!
_ Olha aqui, Matheus, eu não sou nenhuma irresponsável! Mais respeito comigo! Eu vou tomar umas cervejinhas sim, mas não vou beber de cair no chão. Você sabe que eu não faço isso em festas! Eu tenho compostura.
_ Mas...
_ Cala a boca que eu não terminei! Eu sou responsável sim! Como vou beber, não vou pegar no volante.
_ Mãe,  você é uma mulher e vai estar com um cadeirante. Você acha mesmo que é  seguro ir num UBER a essa hora?
_ O Betinho vai nos acompanhar.
_ E desde quando essa pintosa protege alguém? Isso aí só tem força na língua! Um sopro e a bicha se desmonta .
_ Se você está tão preocupado assim, Matheus,  por que você não nos leva?
_ É verdade, amor. Seria muito melhor se você fosse.
Patrick sentiu uma ponta de esperança, que  foi  desfeita ouvindo as seguintes palavras de Matheus:
_ Você não quer a sua independência? Eu não sou o chato que corto as asinhas do passarinho? Então, vá sem mim.
Patrick abaixou a cabeça entristecido, o que deixou Renata furiosa com o filho.
_ Quer saber de uma coisa? Você está agindo como um canalha com o seu marido! Patrick não te merece! Você estar merecendo levar um pé na bunda pra deixar de ser um cretino!
Matheus olhou espantado para a mãe. Não imaginava que ela o diria isso.
_ Vamos, meu amor. Vamos embora antes que eu me esqueça que o Matheus é um adulto e parto para a psicologia da chinelada. Vamos aguardar o UBER no portão.  Aqui dentro o ar está muito tóxico._ Ela saiu empurrando a cadeira de rodas e Betinho mostrou a língua para Matheus antes de sair.


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