capítulo 19

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Capítulo 19

Ao chamar Jonas de traíra,  sem sombras de dúvidas, Matheus se referia a traição que sofreu por parte do ex-namorado e do primo. No entanto, pela expressão de preocupação de Bruno, o loiro sorriu, percebendo , sem querer, que pôs uma pulga atrás da orelha de Bruno, e decidiu alimentar ainda mais a sua desconfiança.
_ Do que você está falando, Matheus?
Com um sorriso sarcástico e um olhar debochado Matheus disse:
_ Eu tenho uma vida própria para cuidar. Não tenho o hábito de meter na alheia. Portanto, descubra você mesmo.
_ Matheus! Diga agora!
_ Olha, a corninha não sabe de nada! Ah, tadinha dela! Eu me solidarizo com você. Sei bem como é fazer o papel de palhaço que você está fazendo.
Jonas ficou nervoso. Temia que Matheus soubesse de algo comprometedor e revelasse para Bruno. Puxou o marido pelo braço, para levá-lo embora antes que algo que o prejudicasse pudesse acontecer.
Contudo, Bruno estava extremamente nervoso e não fazia questão nenhuma de ir embora.
_ Me solta, Jonas! Se esse idiota está insinuando algo, vai ter que ser homem o suficiente para dizer na minha cara!
Matheus sorria vendo Bruno nervoso. Destravou a cadeira de rodas e deu um passo para se afastar. No entanto, foi paralisado pelo ódio que sentiu quando Bruno tocou em seu ombro.
_ Me diga, porra!_ Bruno gritava libertando a  sua  raiva.
_ Não toque em mim, seu merda!
Matheus se afastou com brutalidade tirando a mão de Bruno de cima do seu ombro e fechou o punho.
A cadeira de rodas deu uma leve derrapada e Rose se atirou na frente para impidí-la de perder o controle.
Para evitar uma briga física entre os dois, Renata puxou Matheus e Jonas fez o mesmo com Bruno, o arrastando para o carro.
_ Seu filho da puta! Nunca mais encoste essas mãos imundas em mim!_ Matheus gritava, se libertando da mãe e indo em direção ao carro.
Bruno empurrou Jonas para o lado e foi em direção a Matheus. Há anos desejava se vingar pelas perseguições que sofreu por parte do primo, quando morava na casa de Renata.
Patrick temia uma briga e gritava para Matheus parar.
Marquinhos ouviu os gritos de sua casa e saiu para segurar Matheus. Jonas conseguiu conter Bruno novamente e o arrastou para o carro, saindo.
No carro, Bruno gritava, brigando com Jonas por ter o impedido de matar a sua vontade de bater no primo.
_ Para com isso, Bruno! Que papelão ficar se atracando no meio da rua como dois moleques! Porra, me admiro você!
_ Eu já estou farto do Matheus! Estou de saco cheio de ser humilhado por ele! Sabe o que é pior, Jonas? É aquele desgraçado sabe de alguma coisa que eu não sei e está rindo da minha cara! O que você está escondendo de mim, Jonas? Eu exijo saber!
_ Deixe de ser surtado, Bruno! É lógico que ele não sabe de porra nenhuma, porque não há porra nenhuma para ele saber!
_ Ah, ele não te chamou de traira à toa.
_ O Matheus é surtado e rancoroso. É lógico que ele estava falando pela nossa traição com ele.
Bruno ficou em silêncio por alguns segundos. Chegando a conclusão que havia sentido no que Jonas dizia.
_ Ele quis te provocar para te tirar do equilíbrio. E conseguiu. Você caiu na pilha dele!
Bruno socou as próprias pernas e o janela do carro.
_ Porra! Que moleque desgraçado! E você também não tinha nada que ter me segurado. Há anos que desejo quebrar a cara daquela bicha desgraçada! Eu suportei tantas humilhações dele. Você não sabe o quanto foi doloroso pra mim! Até um rato na minha comida ele pôs! Já cospiu na minha cara! Matheus é cruel! Merecia levar umas boas porradas!
Jonas estacionou o carro e abraçou o marido.
_ Oh, minha borboletinha, não fique assim. Fique calminho! Tudo isso já passou.
_  Como que vou ficar calmo, Jonas? Aquele verme me tira do sério. Eu tenho até pena daquele marido dele. Deve sofrer nas mãos daquela erva daninha.
Jonas o abraçava e beijava a cabeça. Estava aliviado de Bruno ter acreditado nas suas desculpas.

Matheus estava como um furacão. Andava de um lado para o outro esbravejando xingamentos contra Bruno e Jonas. Todos tentavam acalmá-lo, mas, naquele momento, era impossível.
Patrick permanecia em silêncio, olhando para o marido de um jeito sério e decepcionado. Sentia-se irritado com aquela confusão.
_ Meu filho, se acalme. Tome esse copinho com água e açúcar. _ Renata esticou  o copo em direção a Matheus, que ignorou.
_ Eu não quero porra de água nenhuma! Eu quero arrebentar a cara daquele Judas! Que desgraçado! Ainda teve a coragem de pôr a mão em mim! Quem ele pensa que é? Vocês não tinham nada que ter me segurado!
_ Matheus, não seja grosseiro com a sua mãe!
A repreensão de Patrick o deixou ainda mais bravo. Atirou sobre o marido um olhar de tormentas.
_ Isso tudo é culpa sua!
_ Minha?!
_ Sua sim! Você tá me tirando de otário? Foi só o Jonas ficar "solteiro" pra você correr pra casa da vovozinha dele! E ainda foi escondido de mim!
_ Você tá maluco, Matheus? Em primeiro lugar o Jonas não está solteiro! Você não viu que o Bruno veio conosco? Em segundo lu...
_ Você não sabia disso até chegar lá! Com certeza deve ter sido uma baita decepção!
_ Não! Você tá dizendo coisa por coisa!
_ Matheus, não viaja! Eu levei o Patrick lá na casa de dona Chiquinha porque era aniversário dela!
_ Matheus, se acalme, meu filho! Não tem necessidade desse fuzuê todo!
_ Ah, não tem, mãe? Está tudo bem. Não! Está tudo maravilhoso. O meu marido fica sabendo que o ex dele está solteiro,  fica todo empolgado e vai escondido de mim para a casa da vovozinha, que sempre shipou o casalzinho! Oh, que gracinha! Está tudo maravilhoso, mamãe!
_ Quer saber? Eu vou embora antes que eu estresse. _ Rose disse, pondo a bolsa no ombro e saindo porta fora, irritada.
_ Deixe de ser infantil, Matheus! Vê se cresce!
_ Eu sou infantil?! É só isso que você sabe dizer? Você é um mentiroso!
_ Eu sou mentiroso?
_ Eu te liguei avisando que chegaria mais tarde e você nada de me dizer que iria para a casa do  Jonas!
_ Eu não fui para a casa do Jonas! Fui pra casa de dona Chiquinha.
_ Que seja! É tudo a mesma bosta! Você foi correr atrás do merdinha e foi contar com a ajuda da velha! O que que foi? Sentiu saudades da pica do babaca?
Patrick girava a cabeça negativamente diante dos absurdos que ouvia.
_ Eu não fui atrás de pica nenhuma! Eu fui me distrair! Espairecer a cabeça para não pirar diante de tudo que eu estou passando! E tive uma tarde ótima com os meus amigos e esperava ter uma noite melhor ainda com o meu marido! Mas, pelo visto isso é pedir demais, porque você é um babaca! Obrigado, Matheus, por ter destruido tudo!_ ele dizia com a voz trêmula e os olhos lacrimejando.
Renata sentia dó do genro, lamentando pela briga do casal.
_ Você teve uma tarde ótima ao lado do homem que você adorava sentar. Patrick, você precisava sair desta casa, onde é infeliz! Deixe de ser ingrato!
_ Eu não disse isso! Eu não sou o que você quer me definir! Eu tenho personalidade e me conheço muito bem! Você está me tratando como se eu fosse um canalha, que quero te trair e eu não sou assim! Você me trata como se eu fosse um inútil...como se fosse um...um...uma coisa imprestável, que não pode tomar banho sozinho! Uma criança boba que  não é capaz de tomar as próprias decisões! Você me sufoca, Matheus!
_ Eu te sufoco?! Seu filho da puta ingrato! Tudo que eu faço é para o seu bem! Eu estou cuidando de você! Foi se queixar com o Jonas sobre isso? Agora eu entendi por que ele me disse para pegar leve. Ah, que merda!
_ Quer saber? Tudo o que você está dizendo são coisas absurdas! Aliás, vamos pôr os pingos nos is. Se tem alguém aqui que deveria ter ciúmes do Jonas esse alguém sou eu! Que eu saiba quem namorou ele foi você!
_ Não mude o rumo da conversa! Se não havia nada de errado, por que não me disse que iria para a casa da velha coroca?
_ Mais respeito com a dona Chiquinha! Tenha mais respeito pela sua mãe e por mim! Eu não admito que me trate desta forma! E a briga acabou por aqui! Pra mim já deu! Me desculpe, Renata, por ter que presenciar está cena patética. Eu vou para o quarto!
_ Você não vai a lugar nenhum! Eu não terminei de falar!
Patrick girou a cadeira, indo para o corredor. Matheus, quis impedi-lo, mas Renata o deteve.
_ Matheus, pra que tudo isso? Puxa, você magoou o menino! Vocês estão passando por um momento tão difícil! É para um dar apoio ao outro e não brigarem desse jeito!
_ Eu vou sair!
_ Aonde você vai, meu filho?
_ Não sei! Vou dar uma volta! Se eu ficar perto desse ingrato, nervoso do jeito que estou, vai dar merda!
Matheus saiu, deixando a mãe preocupada. Ela ia atrás pedindo para que ele se acalmasse, mas de nada adiantou.
No quarto, Patrick chorava abraçado no travesseiro. Sentia uma angústia profunda no peito, que o fazia doer. Lamentava ter saído de casa naquele dia.
Renata bateu na porta alguns minutos depois, trazendo um copo com água e um comprimido de calmante. Sentou ao seu lado na cama e acariciou os seus cabelos, enquanto ele chorava em seu ombro.
_ Eu não deveria ter saído. Me desculpe, Renata. Você não merecia presenciar tudo isso.
_ Não se preocupe, meu amor, eu já estou mais do que acostumada com os chiliques  do meu filho. A minha preocupação é contigo. Você não fez nada de errado em sair um pouco. Matheus é que precisa aprender a controlar esse ciúme dele.
_ Ciúme sem cabimento nenhum! Eu tô me sentindo muito ofendido. Ele me tratou como se eu fosse um leviano.
_ Meu bem, Matheus é louco por você. Ele morre de medo de te perder. Ele ficou apavorado quando achou que você morreria. Ele se acha culpado por não ter te protegido. E agora, com a sua saída, ele pirou com ciúmes do Jonas e com medo e inseguranças bobas. Mas, ele vai se acalmar e tudo vai ficar bem.
_ Eu odeio brigas. Ainda mais as conjugais. Quando eu brigo com o Matheus eu fico péssimo.

Patrick se sentiu aliviado quando Matheus chegou por volta das onze da noite. Ele entrou no quarto em silêncio para trocar de roupas, vestindo o pijama.
O ruivo sentia um cheiro de cerveja no hálito do marido. O silêncio entre eles era perturbador para Patrick. Toda aquela situação o deixava muito entristecido.
_ Amor, vamos conversar?_ Patrick propunha olhando para Matheus de um jeito doce e esse nada respondia. Permanecia em silêncio pegando o travesseiro e dois lençóis no guarda-roupas.
_ Matheus!
O loiro saiu do quarto, levando os objetos de dormir. Patrick puxou a cadeira de rodas e sentou sobre ela.
Na sala, percebeu que Matheus preparava o sofá para dormir.
_ Você vai ficar de gracinhas? Pare com isso, vida! Vamos ficar de boa?
Matheus sentou no sofá e o olhou de um jeito sério. A decepção estava expressa em seu rosto.
_ Você vive infeliz aqui comigo, mas bastou uma tarde com o Jonas que isso mudou. Não é?  Eu faço de tudo por você e de nada adianta, porque você continua infeliz e me acusa de te sufocar. Mas, basta ter uma tarde com o Jonas que tudo fica maravilhoso pra você.
Patrick se aproximou de Matheus.
_ Matheus, pare com isso! Não é bem assim. Eu sou feliz contigo! Você é tudo pra mim! Eu não sei se eu teria forças para suportar tudo isso se não fosse pela sua ajuda. Eu te amo!
O ruivo tentou segurar a mão do marido, mas Matheus a puxou e virou o rosto para o lado oposto dele.
_ Amor, deixe de ser mimado! Vamos lá para o quarto! Não vai fazer bem pra sua coluna se  dormir neste sofá.
_ Me deixe em paz! Eu preciso  dormir, porque tenho que acordar cedo para trabalhar. Você deu azar de ter perdido o proprietário da rede de pizzarias e bares e se casado com um professor.
Matheus deitou virando para o lado oposto de Patrick.
_ Volte para o quarto e apague a luz!
_ Você tá me machucando, Matheus.
_ Não mais do que você me machucou correndo atrás do Jonas._ Matheus respondeu sem olhar para o marido.
Percebendo que a situação não iria melhorar, Patrick voltou para o quarto arrasado de tristeza. Deitou na cama, apagando a luz do abájur.
Ver o lado de Matheus vazio, cortava o seu coração.

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