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Bucky sabia de todas as merdas que rondariam sua cabeça depois que saísse da guerra, quer dizer, se ela não o matasse primeiro. E sinceramente, ele acreditava que isso seria o melhor.

Viu seu amigo de combate morrer também tentando salvar sua vida após um ataque surpresa em sua trincheira. Não acreditou quando Steve se jogou em cima de seu corpo para servir como escudo humano.

Bucky sabia que estava ferrado quando sentiu a vida de Steve sendo sugada para fora de seu corpo, seus olhos claros se apagando e um sorriso carinhoso.

"Você esteve comigo até o fim da linha, amigo." Essas últimas palavras de Rogers cravaram uma cicatriz permanente na cabeça de Bucky.

Ele não pode salva-lo.
Seu amigo de infância também recrutado. Prometeram um ao outro que estariam juntos até o fim, e assim foi.

Bucky voltou para cara apenas para rever os pais de Steve. Para senti-lo mais uma vez, em uma casa que tantas vezes brincaram juntos de soldadinho.

Bucky continuara a visitá- los. É como uma terapia. Uma terapia do jeito errado. Bucky só consegue se sentir mais culpado sempre que vê os pais de seu amigo. Todas as lembranças da guerra voltam a tona e ele suporta, suporta porque não pode desmoronar na frente das pessoas que perderam um filho para que pudesse salvar sua vida.

Sam sabe do que Bucky passa e não concorda com a frequência em que ele se submete a isso. Lembranças o destrói e vê-lo assim é como a morte para Sam.

- Não devia ir.

- Eu quero ir.

- Você foi semana passada.

- Mês passado, você quer dizer.

- Bucky...

- Não começa, Samuel.

Bucky já está posicionando na sala pronto para ir de encontro a porta, Sam o fita da ilha.

- Você já sabe o que eu vou dizer?

- Eles são como pais pra mim, você sabe!

- Você deveria deixá-lo ir. Você vai lá na tentativa de se sentir melhor, mas isso nunca acontece. Você não se perdoa.

- Eu me sinto melhor. - Bucky nega como se não significasse nada.

- Você está de brincadeira comigo?

- Não estou. - Mais uma vez desconexo.

- Isso foi uma pergunta retórica. - Sam levanta suas sobrancelhas.

- Okay, Sam. Até logo. - Bucky dá de ombros e tenta acabar com essa conversa o mais rápido possível, ele sabe onde isso pode chegar.

- Eu só quero o seu bem, isso te faz mal!

- O que você quer que eu faça? - Bucky se altera.

- Eu quero que você esqueça o que aconteceu!

- Esquecer o que ? O fato do meu melhor amigo ter morrido por mim? Ele deveria estar vivo agora, Sam! - Ele grita e seu plano de não se abrir, vai por água abaixo.

- Mas não está! Você é que está e devia viver e deixar essas merdas para trás! - Sam grita de volta.

- Fácil pra você falar... - Bucky volta ao seu tom de voz indiferente. - Herói americano.

- Eu não sou Herói.

- Suas medalhas de "bom trabalho" dizem o contrário.

- Você também recebeu uma e jogou fora.

- Não preciso de pedaço de metal para me lembrar das minhas "fasanhas". - Ja com a porta aberta Bucky continua falando. - Não disse o contrario, você foi um herói, merece seu reconhecimento. Salvou outros que devem ser bem mais gratos que eu. - Sai fechando a porta levemente. 

Na casa dos pais de Steve, Bucky faz o de sempre. Conversa com eles enquanto encara os quadros da casa, quadros com fotos de Bucky e Steve crianças. É cruel, no fundo Bucky se machuca porque quer, quer sentir algo.

Tudo o que Sam sempre fala, passa pela sua cabeça e ele tem a plena certeza que ele está certo. Mas não assume. É muito mais fácil viver em negação, trancado em uma fortaleza de sentimentos reprimidos, no final, tudo se torna apenas culpa. Ele se sente patético, mas nunca transparente, transparente nunca.

Ele nunca deixa que os país de Steve saibam o que ele realmente sente, apenas deixa com que saibam de sua gratidão pelo amigo, o que é a mais pura verdade, ele só oculta a parte da culpa.

Ele esconde de todos, inclusive de Sam. O que Bucky não sabe é que Sam sente tudo, ele sabe no fundo tudo que acontece com Bucky.

O de olhos azuis tem medo de encarar seus demônios, deixar que as pessoas saibam a bagunça que ele é por dentro. Toda a incerteza, medo e decepção. Ele não quer ser essa pessoa.

Voltando para casa, Bucky decide entrar em um bar e beber um pouco para esquecer suas ideias ruins de se desculpar com Sam.

Cumprimenta o bar man, um senhor de uns 65 anos, muito simpático, amigo de Bucky para todos os efeitos. Mas continua sentado sozinho no balcão bebendo sua cerveja, quando alguém senta ao seu lado.

- Quer um amigo de copo? - A moça pergunta e põe sua bolsa chic em cima do balcão.

Bucky a olha de canto e reconhece a mulher. Ela é Wanda, está usando um batom vermelho demais e seu cabelo solto não está nem um pouco bagunçado.

- Wanda... Olha ela aí de novo. - Bebe mais um pouco de sua cerveja e faz pouco caso da moça.

- Onde está o Sam? Pensei que vocês eram tipo... inseparáveis.

- Eu não sei, estou sozinho não estou?

Curto e grosso.

- Você tem aquela síndrome? - ela pergunta casualmente.

- O que? - ele se ofende.

- Aquela, sindrome de bipolaridade. Você tem não é?

- É claro que não!

- Parece.

- Não parece nada.

Os dois ficam rebatendo acusações e perguntas como duas crianças.

- Então por que ontem você foi legal e hoje você está me tratando assim?

- Eu não fui legal coisa nenhuma, eu nem te conheço.

- Mas você pode. - Wanda é sugestiva.

- É só que eu não estou nem um pouco afim, você é amiga do Sam, não é nada minha. - Bucky bebe o resto de sua bebida.

- É mas... - ela também bebe mais um pouco. - Se eu me aproximar mais ainda dele, você sabe, vou querer ser amiga dos amigos dele.

- Pra quê você quer se aproximar dele. - Bucky parece mais ofendido do que nunca. O que essa mulher está pensando?.

- Ele é um cara legal... e... - ela faz um pausa, parece não querer falar sobre o assunto.

- E...?

- E eu estou sozinha há muito tempo e não encontro alguém legal o suficiente-

- O que você tá dizendo? - ele se vira totalmente para ela e deixa de olha-la de canto de olho.

- Calma aí! Meu Deus qual é o seu probelma, Bucky? - ela tenta acalma-lo depois que percebe que Bucky está irritado.

- Meus amigos me chamam de Bucky. Você não nada pra mim.

Ele então se levanta e a deixa para trás, sai do bar e caminha até o seu carro.

Say it all - sambuckyOnde histórias criam vida. Descubra agora