Capítulo 10: Jason

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A ligação ainda fluía fresca em minha memória, a voz de Jean áspera e cheia de desprezo na linha, como se estivesse conversando com um estranho.

-Que porra você está fazendo com a sua vida? Você vai embora e nem se incomoda de se despedir, não fez questão de ligar em todos esses meses. Merda, você alguma vez se perguntou como ele deve estar se sentido?

-Fodase Jean, você não tem direito de vir com esse papo moralista para mim. Não você, que dorme com alguém diferente todos os dias.

-É, porque eu sou um fodido, e porque eu nunca quis me comprometer com ninguém. Você estava namorando, até conheceu os pais do garoto. 

-Ele me traiu, se você não está lembrando.

-Pelo que você contou da história, não foi ele que beijou.

-Não tenho como saber, quando saí para fora, ele já tinha empurrado o brutamontes. Mas ele poderia estar beijando o Sean a horas.

-Olha cara, eu vou desligar. Se você realmente acha que ele seria capaz de trair você, então você nunca o conheceu realmente- ele fez uma pausa, sua respiração sendo a única indicação de que ainda estava na linha -Me liga. Eu ainda estou vivo e infelizmente ainda ligo para nossa amizade. 

Foi a ultima coisa que ele disse antes de desligar, me deixando no vazio sufocante da suíte daquele hotel de merda. As palavras dele perfuravam meu peito, como se estivesse usando uma faca cega a cada sílaba. Eu me sentia como uma merda, um maldito orgulhoso sem coração que não ligava para nada além do próprio umbigo. 

Talvez Jean estivesse certo, talvez eu nunca o tivesse conhecido realmente. Talvez eu tenha me convencido de que precisava amá-lo e protegê-lo por ser meu despertar sexual. Talvez eu estivesse cego por uma mentira bonita, a ideia de que iria chegar em casa e alguém que me ama e se importa de verdade estaria esperando por mim no sofá. Contando os segundos para me ver como eu estava, pelo menos uma vez na vida.

Eu quase podia ver a imagem perfeita de minha mãe enquanto fechava os olhos. O rosto gentil e os cabelos cheios presos por uma presilha velha com cristais faltando. Ela sempre me esperava na volta da escola com um sanduíche de atum, sorrindo abertamente ao ver minha satisfação. Sempre perguntava se eu queria mais um, e eu sempre respondia que sim.

Quase 7 anos já tinham se passado, mas eu ainda conseguia sentir o gosto exato que aquele sanduíche tinha.

Ela não estaria feliz com o rumo da minha vida. Sentia isso como um soco do estômago. 

Afundei a cabaça ainda mais nos travesseiros, como se pudesse entrar dentro do colchão. Como se pudesse desaparecer. Era ridículo ter tantos travesseiros na cama, até meio desconfortável. Não conseguia encontrar uma posição que não mostrasse a cara de minha mãe e de Calvin, e eu culpava os travesseiros por isso também. Talvez, se eles não fossem tão estupidamente grandes eu pudesse dormir um pouco.

Eu estava realmente esgotado. Aparentemente, trabalhar naquela empresa requer mais do que usar terno e sentar a bunda em uma sala chick com outros caras de bunda. Eu tive que correr, buscar cafés para pessoas que eu nunca vi na vida e passar metade do dia imprimindo papéis e mais papéis para essas mesmas pessoas. Eu mal tive tempo de mijar, o almoço não passou de um lanche fino como papel e refrigerante quente. 

Nenhuma noite na boate me cansou tanto.

Quando atravessei a recepção para o quarto, pensei que tomaria um banho quente e que pediria para entregarem uma garrafa de Uísque com pelo menos 15 anos em conserva, mas ao invés disso, ganhei uma comida de rabo por ligação e memórias de infâncias desbloqueadas rolando soltar pela minha cabeça.

Depois de você - BxBOnde histórias criam vida. Descubra agora