Capítulo 20: Calvin

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A casa estava escura. Escura o suficiente para que eu não conseguisse ver um palmo a minha frente. O silêncio estava preso aos meus calcanhares, arranhando as paredes e sussurrando pelos cantos. Lembranças emaranhadas a culpa; fazendo amizade com o silêncio, confortável com a escuridão. 

Eu estava ofegante, minha cabeça disparando enquanto meus dedos se emaranhavam nas roupas perfeitamente dobradas. Lágrimas ameaçavam vir a tona agora, cegando minha visão pouco privilegiada. 

Eu não conseguia formular um pensamento concreto, minha mente se perdia em meio as lembranças e a informação nova, repassando tudo em um ritmo exaustivo e torturante. 

Jason estava flertando comigo, e então estava me dando as costas, desaparecendo na noite fria. Jason estava me beijando, então me dizia para não chamá-lo mais de Tucker.

Jason estava falando comigo ao telefone, então estava no hospital por coma alcóolico.

Um soluço involuntário deixou meus lábios, ecoando pelas paredes silenciosas e o piso frio. Eu podia sentir o gosto salgado das lagrimas manchando meu paladar. Já não me importava com muita coisa a essa altura. 

As roupas estavam amontoadas na pequena bolsa, casaco em mão conforme descia as escadas para o andar de baixo. Percorri o pequeno caminho até a porta, meus dedos desesperados na fechadura. Não me importei em checar se a porta estava trancada antes de correr para a escadaria. Eu nunca tinha descido aquela coisa tão rápido antes.

Estava ofegando na calçada, os 3 minutos que o Uber demoraria para chegar nunca pareceram tão longos. Meus dedos perfuravam a carne de minhas palmas enquanto meus pés andavam de um lado para o outro, como se por vontade própria. Eu tentava respirar, mas aquilo parecia inútil. Era como se quanto mais eu tentasse, mais ofegante eu ficava. Como se todo o ar do mundo tivesse desaparecido. 

Então o carro chegou, bem no momento em que minha visão ficara turva. Eu ainda não respirava bem, e a tontura ameaçava me derrubar a qualquer momento, mas ainda consegui entrar no banco de trás.

-Aeroporto- foi tudo que eu consegui dizer, encarando meus pés no espaço escuro do carro.

 Meus pensamentos traiçoeiros me absorveram no caminho, como uma bolha ao meu redor.

-Calvin- ele disse, em um tom que não dava espaço para perguntas. -É sobre Jason.

Eu havia paralisado no lugar, meus pés enterrados no chão. Eu podia sentir a presença de Billy pairando ao meu lado, mas naquele momento, eu não ligava mais. 

-Jean..

-Ele está no hospital, Call. Na porra do hospital.

Ofeguei, meus joelhos fraquejando até sentir o concreto duro em contra minha bunda. Billy correu para o meu lado, me enchendo de perguntas sobre o meu bem estar. Eu não o escutava direito, não processava direito.

-O que aconteceu?

-Eu não sei direito. O pai dele ligou para mim pelo telefone de Jason, me falou que ele foi para um hospital chique que financiou....- ele parou, como se para criar coragem -Ele bebeu demais.

-Entregue- o motorista disse, as lembranças desaparecendo como uma névoa densa a minha frente.

Eu não respondi a isso, me concentrei em entregar o dinheiro o mais rápido que podia antes de de pular do carro, as portas de vidro do aeroporto se estendendo a minha frente.

As pessoas ziguezagueavam para todos os lados, um borrão de cores e vozes que me deixava inquieto. Engoli em seco, me concentrando no objetivo principal disso tudo enquanto andava e direção a fila vazia.

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