Capítulo 30.

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-Quero que diga isso em voz alta- Maya disse, parecendo incontestável em sua postura casual demais e tom de voz calmo.

Respirei fundo algumas vezes, pensamentos profundos vindo a tona com aquelas palavras presas em minha língua. Acho isso ridículo. Ter que falar isso em voz alta.. eu.. urgh!

Mais ridículo ainda, era não conseguir dizer isso. Eu larguei meu namorado, reatei minha amizade com Sean e até larguei meus remédios.. mas por algum motivo, isso era ainda mais difícil de fazer.

Arrisquei um olhar para minha terapeuta, que parecia muito calma me encarando de volta, sobrancelhas levemente arqueadas para me encorajar. 

Suspirei outra vez, achando a parede branca mais interessante. Ela não estava me pressionando, afinal. Não cobrava nada de mim... e, de alguma forma, era mais fácil falar olhando para o branco.

-Eu não preciso estar sobre o controle de tudo a todo momento- respirei -.. e não posso cobrar perfeição de mim e de outras pessoas.

-E por quê?- a filha da mãe continuou, como se eu já não tivesse morrido o bastante para dizer aquelas palavras.

-Porque isso não vai tornar as coisas certas, nem vai me dar certeza de nada... só vou conseguir me machucar tentando.

-Estou orgulhosa de você- ela disse, naquele tom irredutível.

Eu sorri, as palavras que disse ecoando dentro de mim agora. 

Eu estava orgulhoso. Realmente orgulhoso. Como se, dito em voz alta, eu pudesse reconhecer essas falhas bobas e sem sentido. As noites em claro limpando coisas impecáveis, cobrando mais e mais de mim mesmo.. nunca permitindo ninguém entrar por medo.

Eu não estava mais com medo. E, depois de muito tempo e terapia, reconheci que esse medo era nada além de mim mesmo. 

Eu tinha medo de ser eu mesmo, ser rejeitado e julgado pelas pessoas a minha volta, e a maneira que achei de evitar isso era a perfeição. Mas não existe tal coisa, e ver isso depois de tanto tempo.. era incrível.

-Nos vemos na próxima sessão?- questionou ela, tirando-me de meus pensamentos.

-Claro- respondi, agarrando minha bolsa perdida entre as poltronas. Me despedi com um sorriso depois disso, descendo as escadarias da clinica para encontrar uma Gen sorridente encostada em seu carro (bancado por ela mesma).

-Pronto?

-Sim, sim. Só preciso de um segundo- pedi, puxando meu telefone da bolsa de pano.

Disquei o número a anos gravado em minha mente, esperando apenas por alguns momentos até que a voz reconfortante me atendesse do outro lado da linha.

-Oi, Call- disse, animado como sempre.

-Oi, Sean. Tudo bem?

-Ótimo, na verdade. Arrumei um encontro pra hoje.

Eu sorri para isso, um sorriso sujo e de sobrancelhas arqueadas, como se ele pudesse ver isso.

-Com quem??

-Bom, é meio complicado.

-Por Deus, o que você fez?

-Ei, por que você sempre presume que eu fiz algo estúpido?

-Força do hábito. E também, você sempre faz algo estúpido.

Escutei ele concordando do outro lado por alguns momentos antes de continuar:

-Bom, eu estava meio que em um aplicativo..

-Sean, por favor não diga que você vai sair com algum assassino de aplicativo em potencial.

Depois de você - BxBOnde histórias criam vida. Descubra agora