Eu estava voltando de outra sessão com Maya. Hoje, particularmente, ela havia explorado muitos pontos fracos. Do tipo que eu fazia de tudo para manter escondido ou enterrado no fundo de minha mente. Do tipo que me fazia estremecer ao lembrar.
Bom, ela não pareceu estar afetada enquanto apontava meus defeitos e minhas falhas. Mesmo quando me defendia do tratamento que recebi na infância e adolescência. O que mais me chocava era a forma passiva que ela usava para isso, como se ela não desse a mínima para o assunto, apesar de escutar sobre ele por horas. Como se estivesse tendo um diálogo com uma criança que acabou de aprender a falar.
Aquilo intimidava bastante quando se está comentando sobre traumas do passado de forma deliberada.
De qualquer forma, aquilo era o melhor para mim. Algumas verdades vindas de alguém, para variar.
Aquilo me dava motivação para não cometer os mesmos erros do passado, me ajudava a enxergar pontos antes cegos para mim. Era uma sensação satisfatória, apesar do cansaço de relembrar magoas e os tapas na cara das minhas ações.
Eu já não me sentia culpado por toda a situação com Jason e Sean. Não estava pronto para ter uma conversa com eles, mas pelo menos estava consciente sobre não ser o culpado por tudo aquilo. Eu não pedi por beijo algum, muito menos correspondi, apesar de estar confuso sobre a situação repentina.
Eu também não mandei Jason embora. Não pedi para que ele se mudasse para onde quer que estivesse, sem nem mesmo se despedir de mim ou ter a decência de empacotar suas coisas.
Mas eu não era totalmente inocente, também. Em meio a crise que tive no Natal, acabei fazendo coisas imprudentes. Como gritar com todos e arrumar as malas sem avisar meu namorado de que estava indo embora.
Ele não sabia onde eu tinha me metido, e ao abrir a porta da frente e me ver de mala pronta e beijando meu melhor amigo, eu sabia que não parecia o melhor namorado do planeta. Mas mesmo com essa parcela de culpa me atormentando, eu sabia que Jason deveria ter me escutado. Tentado, pelo menos. Ele me devia isso depois do que a gente passou, depois das brigas e recaídas.
Mas ele nem mesmo me deu uma chance antes de sumir. Por 4 meses.
Maya me ajudou a enxergar tudo isso, inclusive minha parte da culpa e meus erros.
Eu não seria mentiroso, ou imprudente o suficiente para dizer que faria tudo aquilo outra vez. Que reviveria as brigas desnecessárias com Jason. Que o levaria para a aquela casa. Se me dessem a oportunidade de escolha, eu jamais repetiria um desses erros outra vez. Mesmo que fosse aprender com eles mais tarde.
Mas agora não tinha muito o que fazer além de seguir em frente, com erros e tudo. Maya me disse que não era muito aconselhável eu me envolver em uma intriga com Jason e Sean no momento. Disse que eu deveria recuperar minhas forças antes de virar essa página.
E, para ser bem sincero, esperava que reunir minhas forças demorasse um bocado, porque eu não sei se estou totalmente preparado para seguir em frente. Virar a página.
Tentei me livrar desses pensamentos incômodos ao chegar em casa. Uma fadiga consistia em meu peito, palpitando conforme lembranças e rostos atormentavam meus pensamentos.
Cabelos castanhos, sorrisos bonitos.. um garoto com piercings e um com o dobro de meu peso em músculos.
Senti vontade de me afundar em algum buraco quando me peguei pensando neles. Outra vez.
A fadiga aumentou para uma palpitação, que evoluiu para o aumento de meus batimentos e a diminuição de minha frequência respiratória. De imediato, procurei por algo na casa. Não sabia exatamente o que, mas meus sentidos denunciavam a causa principal.
Um par de chinelos me chamou a atenção. Pensei em como a cor branca parecia encardida enquanto caminhava para o tanque, mas não antes alinhar os móveis tortos da sala e notar a camada de poeira na bancada. Aquilo não daria certo.
Misturei produtos pesados na água. Algo que dizia ser eficaz contra manchas, água sanitária e desinfetante. E antes que eu pudesse registrar, eu estava esfregando aquele chinelo como um louco. Como se minha vida dependesse daquilo.
Estava tão envolvido com aquilo, que mesmo quando branco, ainda pensei poder fazer mais. Deixar mais branco. Mais limpo.
Mas eu não tive tempo para por meu plano em ação, pois no momento em que puxei a escova do armário, percebi que meu telefone vibrava na bancada.
O nome de Gen brilhava na tela, e eu me empenhei em atendê-la enquanto espanava a pedra fria com um pano seco.
-Oi- eu disse, e só aí percebi o quanto minha voz parecia pilhada.
-Já está pronto?!- a voz soou amigável demais para mim.
Parei de me mover, o telefone preso em minha orelha e o pano imóvel em minha mão. Pude ouvir uma das bolhas estourando do tanque.
-Pronto para que?
-Call, eu não acredito que você esqueceu.
-Aí meu Deus- meu coração começou a palpitar outra vez. Meu corpo gelou -.. por favor não me diga que hoje é seu aniversário.
Escutei Gen suspirar profundamente do outro lado da linha, parecendo bem descontente.
-Eu vou fingir que você não sabe meu aniversário porque já estamos atrasados para o primeiro tempo. Mas não pense que eu me esquecerei disso. Você vai me pagar o almoço de hoje, reze para que não vire algo pior.
-Primeiro tempo?!
-Vou estar na sua porta em quinze minutos. Não entre em pânico, e por favor, não use uma jardineira no nosso primeiro dia.
E com isso, Gen desligou a ligação. Eu odiava quando ela me contava apenas a parte que ela queria da história, e isso acontecia com frequência. E como em quase todas as vezes, tive que colocar as engrenagens de minha cabeça para funcionar enquanto voava para um banho.
O chinelo ficaria para outra hora. Percebi isso no momento em que me dei conta sobre o que Gen falava. Era nosso primeiro dia no segundo ano da faculdade.
Me apressei para enxaguar o excesso de sabão em meu corpo, voando para encontrar algo para vestir. Puxei um suéter sem mangas e uma camiseta branca. Já vestia a calça marrom enquanto isso, meus pés se atrapalhando para encaixar nos tênis.
A porta estava sendo praticamente escancarada lá em baixo, minha respiração falhando conforme puxava meus projetos para dentro da pasta e me atrapalhava com a fechadura.
Gen parecia impaciente usando uma blusa que deixava seu umbigo a mostra e uma calça larga. A calça parecia ter sido feita de vários tecidos diferentes .Texturas e peças coloridas capturavam a atenção, deixando a mostra a bainha da calcinha lisa. Não tinha dúvidas que ela havia feito aquilo.
Ela bateu com um dos pés no chão, o tênis plataforma pareciam engolir o ar.
-Graças a Deus, pensei que você usaria macacão outra vez- ela anunciou, me puxando escada a baixo.
-Gen! Espera, eu nem tomei café ainda!
-Eu pago um para você. Você já está encarregado pelo almoço mesmo.
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oi amores, desculpa o atraso. essas semanas eu tenho me atraso bastante o cronograma e isso tem me incomodado muito.
enfim, espero que tenham gostado do capitulo de hoje. espero que vocês tenham notado os pontos de vistas e problemas dos personagens até agora.
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Depois de você - BxB
Teen Fiction***SEQUÊNCIA DE COLEGA DE QUARTO*** Enquanto Jason se fechou para tudo e para todos, Calvin voltou com seus hábitos pouco saudáveis.