A bebida já não fazia o suficiente.
Eu percebi isso ao dar uma longa golada no copo batizado em minha mão, já tinha perdido a conta de quantas vezes eu enchi esse mesmo copo hoje. O líquido já não tinha gosto, nenhuma reação para minha língua dormente.
A garrafa ao meu lado estava quase chegando ao fim, o que me deixou muito puto. Eu resolvi que deveria comprar uma garrafa logo quando cheguei. Não estava no clima para pagar 5 dólares a cada copo com gelo e Vodka, muito menos mais de 20 em drinques fracos.
Pedi ao barmen miúdo me dar a coisa mais forte que ele tinha na casa. Acabei com uma garrafa velha de um Uísque. Cheirava a morte e tinha um gosto ainda pior.
E que custava 200 dólares.
Não que eu não pudesse pagar. Eu podia pagar por algo assim, até mais.
Mas eu esperava que algo que custasse 200 dólares pelo menos me tirasse da realidade. Esperava cogumelos falantes e unicórnios dessa bebida, mas ao invés disso eu estava pensando no quanto aquilo já não era o suficiente. Querendo quebrar algo, gritar. Voltar para casa.
Talvez eu precisasse de outra bebida.
Entornei o que sobrava no copo, fazendo uma careta simples e involuntária, mesmo não sentindo completamente o gosto forte do álcool. Puxei a garrafa para mim em um movimento arrastado e molenga, recebendo um olhar do barmen, que no momento limpava os copos quase que roboticamente.
Era o tipo de olhar que dizia que ele via idiotas bêbados como eu serem arrastados por outras pessoas boate a fora todos os dias. Não era muito bom receber um olhar desses, mas de qualquer forma, ele não disse nada. Afinal, eu estava pagando para cair de bêbado.
Ou pelo menos esperava isso.
-Dia ruim?- ele perguntou, a voz experiente e profunda, apesar de ele ser tão novo quanto eu.
-Todos os dias- respondi, bebericando do copo.
-Espero que vender garrafas caras para você todos os dias, então- ele deu uma risadinha, baixando o olhar para guardar um dos copos em sua mão.
Eu observei o movimento. A forma que ele fazia seu trabalho.
Não parecia odiar. Seu rosto estava muito sereno para o ódio, mesmo eu sabendo que certas coisas podem ser escondidas por baixo de rostos bem treinados. Não acho que seria o caso.
Quando eu cheguei aqui, ele não apenas perguntou o que eu queria, mas também disse as coisas disponíveis no cardápio na ponta da língua, indicando as coisas mais pedidas e oferecendo seu próprio conselho.
Eu estava irritado demais para reconhecer isso quando cheguei aqui, com uma carranca e modos de um babaca. O tipo de comportamento que eu odiaria se viesse de outra pessoa.
-Você trabalha aqui a pouco tempo?- eu perguntei, me concentrando nas palavras. Minha língua estúpida havia resolvido enrolar.
Ele acompanhou o movimento dos meus lábios com seus olhos finos quase se fechando, a boca tentando não esboçar seu divertimento.
Fiquei tentado a perguntar sua raça por um momento, ao observar seu cabelo extremamente preto e os olhos puxados. Mas a parte educada e sóbria em mim prevalecia, temendo bancar o cuzão.
Sóbrio. Eu acho que não estava mais sóbrio.
-2 anos. 3 se eu não for demitido antes- ele respondeu simplesmente.
A forma miúda de seu corpo e sua agilidade me lembrava de alguém.... voltei a beber.
-Você parece gostar- eu soltei, minha língua se enrolando dessa vez.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Depois de você - BxB
Novela Juvenil***SEQUÊNCIA DE COLEGA DE QUARTO*** Enquanto Jason se fechou para tudo e para todos, Calvin voltou com seus hábitos pouco saudáveis.