Capítulo 12: Jason

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Jason.

Jason.

-Jason, você está me ouvindo?- a voz grita, me fazendo piscar.

Meus olhos estavam desfocados para fora, apenas azul e o cinza dos prédios. Minha mente vagando, vazia. 

No começo, achei que a voz era da minha cabeça. Meu subconsciente trazendo de volta a forma que ele me chamava, um sussurro suplicante e sombrio.

Mas não havia olhos cor de mel me encarando, muito menos cabelo cacheado e brilhante. Olhos claros me fitavam ao invés disso, o cabelo castanho claro sendo afastado de sua visão com o auxílio de dedos magros.

Louis me encarava com um ponto de interrogação estampado no olhar, a boca franzida em preocupação, a mão segurando um tablet para mostrar gráficos sem sentido algum tomando conta da tela.

-Desculpe- eu disse, o tom não passando por verdadeiro.

Ele assentiu, sem dizer nada, então se aproximou.

-Bom- ele tossiu- meu superior recebeu ordens de seu pai. Ele quer que você se encarregue dos números da empresa.

Puxei o ar com força, os olhos fechando enquanto expirava de vagar. Pensando em quanta merda aconteceria se eu simplesmente desse um soco na coisa mais próxima.

Louis era a coisa mais próxima.

-Pensei que a ideia era ser um estagiário- eu disse, a voz tensa enquanto apertava o osso de meu nariz.

Louis deu de ombros, parecendo tão feliz e tão ridículo naquele terno quanto eu.

-Estou apenas fazendo meu trabalho- disse, batendo a tela do tablet contra meu peito e parando apenas quando sentiu que eu segurava o aparelho. -Eu não sei nada sobre o assunto. Mas acho que você já sabia que, como futuro dono e herdeiro, isso não seria apenas um estágio.

Ele me deixou encarando os gráficos de pizza, raiva se alastrando por meu corpo como uma droga. Fatias coloridas ridículas mostravam as quedas em relação as empresas rivais nos meses do ano passado, e aparentemente, o plano era descobrir como fazer com que isso não se repetisse mais.

Louis caminhou calmamente de volta para sua mesa, os sapatos clicando contra o piso e os dedos finos ágeis no teclado do computador. 

Eu queria sair daqui. 

Queria jogar o tablet no chão, rasgar esse terno infernal e correr para o bar mais próximo. Queria me entupir de bebida até não aguentar mais. Queria fazer isso até esquecer. Até não pensar mais em nada.

O vazio me incomodava. Não era algo que eu já não estivesse habituado, não depois de 7 anos. Mas ainda era ruim.

Aquele era um vazio diferente. Um vazio novo, mas tão profundo e destrutivo quanto o vazio de sempre. A ferida estava aberta, recente. Vazando sem parar, como se estivesse drenando tudo que restou. Toda a força. Toda a esperança.

Eu nunca vou esquecer a decepção em sua voz ao dizer sua última palavra, a forma como sua voz soou embargada e engasgada. Cheia de pesar.

Eu repeti para mim mesmo que aquilo era o melhor. Que aquilo era o melhor para ele.

Eu repeti aquilo depois de terminar a ligação, enquanto eu engasgava com as palavras e sentimentos grossos, um gosto amargo na língua e um ardor nos olhos. Eu permaneci lá, paralisado como um idiota, a mão agarrada ao telefone e encarando cegamente o teto escurecido pelas sombras. 

Eu não sentia aquilo a anos.

Eu quis sair. Quis descer todos os malditos 10 andares de escada até chegar ao térreo. Quis correr para algum lugar que servisse a bebida mais forte, e entornar aquilo até morrer. Mas não fiz, não porque eu havia desistido da ideia, mas sim porque eu não conseguia.

Eu não conseguia me mover. Meu corpo permanecia colado ao colchão. Meus pés nem se mexiam. Eu estava paralisado, ao mesmo tempo em que eu parecia afundar.

Isso durou algum tempo, meus olhos incapazes de fechar. Uma tortura lenta e dolorosa quando a exaustão começou a tomar conta dos meus sentidos. Meus membros rígidos gritando por alívio e meus olhos ardendo, eu finalmente consegui dormir nesse momento.

Tive que acordar 2 horas depois, pulando da cama quando fugi daquele sono pesado e sem sonhos. Meu corpo não respondendo de imediato aos meus comandos. Eu só sabia hiperventilar desesperadamente, meus pulmões de araque não fazendo seu devido trabalho. 

Quando me acalmei, o surto de adrenalina deu lugar a fadiga de exaustão que me acompanhou pelo resto do dia. Meus olhos pesados e o pescoço gritando como uma cadela. 

Eu tomei um banho gelado na esperança de melhorar, mas aquilo só conseguiu deixar minha pele mais pálida e meus olhos roxos nas pálpebras. A manhã tinha passado como um borrão, a gola da minha camisa sem graça me sufocando enquanto tudo que eu via era corpos desfocados e os prédios distantes da janela. Tentei cobrir o cansaço com uma boa dose de cafeína, mas aquilo só serviu para me deixar tremendo pra caralho.

De repente, o sol da tarde estava ferindo meus olhos, e eu estava andando em passos apressados para o banheiro mais próximo. 

Afundei meu rosto na água corrente da pia, o nariz ardendo e pedindo por ar enquanto eu esfregava meus olhos sem parar. 

Quando finalmente parei de me afogar, consegui focar meus olhos no espelho. Louis estava me encarando assustado, metade do corpo para fora de uma das cabines, como se fosse fugir a qualquer instante. 

-O que está olhando?- minha voz soou como um rosnado, e achei que meu rosto não parecia muito gentil também.

-Eu só estava...- ele piscou os olhos- nada.

-Saía daqui, então.

Virei meu pescoço para trás, as mãos apoiadas na pedra pálida da pia. Eu não conseguia saber o que ele estava sentindo. Seus olhos piscavam sem parar e sua boca estava aberta. Inclinei a cabeça, uma sobrancelha arqueada para enfatizar.

Louis praticamente cambaleou para fora, o rosto vermelho até as orelhas.

Não me senti culpado quando ouvi a porta se fechar atrás de mim, nenhum resquício de sentimento, para falar a verdade. Eu apenas continuei lá, arfando de um ódio cru e uma dor insuportável que vinha de lugar algum. Encarando os abismos negros que eram meus olhos.

Esbarrei em um bocado de gente quando finalmente decidi deixar o banheiro, xingando baixinho para mim mesmo e recebendo olhares assustados em resposta. Tentei me concentrar no trabalho designado a mim quando voltei a sala, Louis ignorando totalmente minha presença enquanto escrevia calmamente atrás de sua mesa. 

Puxei um papel avulso e calculadora, a caneta rabiscando números de qualquer jeito. 

Eu percebi que aquilo não daria certo quando cheguei em outra conta sem saída. Regras de 3 viravam frações, frações viravam estatísticas... tudo acabava sem explicação alguma.

Agradeci quando olhei para o relógio. Já eram quase 19, hora de ir para casa.

Eu não olhei para trás quando corri para o corredor, tirando a parte de cima da porra do terno e afrouxando a maldita gravata. Mal consegui permanecer naquele elevador, meus sapatos clicando no chão a cada fração de segundo. 

Não me importei de chamar um carro quando tracei um caminho pela rua, meus olhos desesperados em busca de...

Eu entrei, a atmosfera escura me recebendo, assim como alguns olhares atravessados e risadas bobas. Eu não me importei com isso, deslizei para o banco mais próximo, os dedos tamborilando no balcão brilhante.

-O que vai querer?- a garota perguntou, olhos pintados de pretos e cheios de tédio.

-Vodka. Uma garrafa.


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