Capítulo 18: Calvin

1.8K 194 75
                                    

O primeiro dia foi um surto. Pessoas perambulando para lá e para cá, barraquinhas armadas pelo gramado com veteranos balançando panfletos de fraternidades a cada metro quadrado. Gen e eu esbarramos em pelo menos 20 calouros, e ela começou a levar a coisa para o lado pessoal já na segunda pessoa. 

Toda aquela gente estava me deixando inquieto. De repente, senti como se todos estivessem reparando nos meus defeitos (mesmo que ninguém estivesse dando a mínima para minha presença) e de imediato, me agarrei a alça da pasta como se fosse meu bote salva vidas naquele mar de gente desconhecida. Sabia que o caos estava longe de acabar, e uma parte minha dizia que eu deveria voltar correndo para casa e trancar as portas para o caso de Gen tentar me puxar de volta para o campus a força. 

Era um bom plano, se for pensar nos benefícios a longo prazo. Não correria o risco de ganhar mais um trauma para a lista, e acho que o máximo que poderia acontecer se eu voltasse para a casa seria chorar no chuveiro ou comer uma pizza inteira sozinho (chorando).

Mas eu não fiz isso, mais pelo fato de Gen ter me empurrado pelo caminho do que pela falta de vontade. Estava com o estômago apertado pelo fato de não ter comido nada e a crescente ansiedade, e usei isso como desculpa para atrasar meu caminho para a aula.

-Nós já perdemos o primeiro tempo- Genevive alertou, a sobrancelha arqueada.

-Os professores devem ter se apresentado para a turma individualmente. Nada muito grande.

-O Call que eu conheço estaria apavorado com a possibilidade de perder alguma matéria- ela deu um risinho.

-Que bom que o antigo Call não existe mais, então- eu dei de ombros, não dando tempo para uma resposta de sua parte antes de caminhar para a uma das cafeterias do campus. Escutei os passos vacilantes de Gen me acompanhando, e me peguei sorrindo com isso.

O ar carregado de canela nos saudou quando entramos. Fui direto para a fila, onde uma infinidade de dependes de cafeína esperavam ansiosos por sua vez. Gen parou ao meu lado, batendo seu quadril com meu ao ponto de doer.

Esfreguei o local enquanto choramingava feito um bebê.

-Eu não queria que o antigo Call deixasse de existir- admitiu ela, quando chegou nossa vez. Eu acabei me atrapalhando com o cardápio quando ouvi aquilo, fazendo com que o objeto se espatifasse no chão.

-O cara cheio de inseguranças e traumas?- perguntei, na defensiva.

Gen olhou nos olhos, do jeito que era impossível identificar o que ela estava sentindo.

-O cara que sempre tentava ver o melhor de tudo- deu de ombros. Não era um sermão, deu para perceber isso pelo tom descontraído em sua voz. Mas doía, de qualquer forma.

-E.. eu ainda tento. E para falar a verdade, isso é meu pior. Tentei demais, e foi por isso que tudo deu errado- dito isso, apontei para um café duplo no cardápio. Não deixei Gen pagar pelo meu café, como ela se ofereceu para fazer. Não estava com muita coragem de olhar para ela.

Não que eu estivesse bravo com o que ela disse. Estava apenas processando as coisas um pouco. Estava separando tudo, revirando minhas ações atuais e as antigas do avesso. Comparando-as entre si. 

Eu odiava o Call. Odiava sua fraqueza e odiava sua passividade. Odiava como ele sempre se colocava para baixo e as situações destrutivas em que se enfiava. Mas se for colocar as cartas na mesa, o Call novo não é tão diferente. Uma versão mais polida que a antiga, mas ainda sim cheia de problemas mal resolvidos.

 Droga, eu tinha tido uma crise ainda no mesmo dia, limpando e procurando defeitos por todo o lado. Eu ainda não estava bem. Pelo menos não totalmente.

Depois de você - BxBOnde histórias criam vida. Descubra agora