Sou acordada pelo som estridente e infernal de meu despertador, que estava tão alto, que acabei no chão.
Rolei sobre o piso, sentindo cada parte de meus ossos latirem de dor no processo. Meu corpo parecia se recusar a me por de pé também, mas consegui alcançar minha bolsa com certa dificuldade. Desliguei o despertador no mesmo segundo que reconheci não estar em casa.
As paredes eram cinzas e sem nenhum adereço, a cama de casal colada na parede.. esse quarto fedia a colônia masculina e estava cheio de roupas descartadas no chão: cuecas, jeans, camisetas... minha.. calcinha?
Merda.
Merda, merda, merda, merda, MERDA!
Não ouvi nenhum som vindo da cama, embora o despertador dos infernos e meu baque de baleia sejam o suficiente para acordar o prédio inteiro. Não me atrevi a olhar para cima quando me arrastei, pela segunda vez na manhã, pelo chão.
Parei apenas quando estava com calcinha em mãos, e não demorei para enfiar aquilo de volta para o devido lugar em uma bagunça de pernas e tecido.
Demorei a notar que estava usando sutiã, mas logo consegui identificar a camisa de seda verde que fiz para a apresentação na sala, a saia foi achada no batente da porta.
Arrisquei um olhar para os lençóis uma última vez antes de me por de pé, rezando para quem quer que fosse, continuasse em seu sono de pedra por mais algum tempo. De novo, nem um suspiro foi ouvido vindo de lá. Tomei isso como incentivo para me por na ponta dos pés e continuar andando.
A porta estava aberta, o que era um presente de Deus para mim e..
-Bom dia- a voz ecoou, rouca e provocativa.
Por um segundo, pensei estar louca. Pensei que deveria ser alguma vozinha interior, algo como minha voz soaria se eu não fizesse a transição ou algo assim. Maya certamente diria que isso faria sentido, mas, olhando para trás.. era um garoto. Nada de vozinha da minha cabeça sem transição.
Aquilo vinha do dono da cama. O responsável por me fazer rastejar atrás de minha calcinha.
Loiro, de olhos cortantes e sorriso-arranca-calcinhas.
-Uhm, bom dia- eu respondi, sentindo minhas bochechas esquentarem um pouco.
Quando seus olhos desceram de meu rosto (cheio de maquiagem borrada, aposto), ao meu colo mal vestido, deslizei a saia antes que tivesse a oportunidade de olhar para... bem, como se ele não tivesse visto.
-Como se eu não tivesse visto tudo ontem a noite- brincou, com um olhar a mais para minhas pernas cobertas. Cafajeste.
-Sim, Jean, tenho certeza de que você deve estar bem feliz com isso. Devo ter sido a única pessoa nesse campus que você ainda não tinha levado para a cama.
-Bem, sim... mas..
-Juro por Deus que se você disser ''mas com você foi diferente'' ou alguma merda assim, jogo meu sapato em você- sapato, que por sinal, é plataforma.
Ele não pareceu abatido com minha ameaça (embora fosse bem verdadeira), e logo se colocou de pé fluidamente. Soprei um cacho solto de meu campo de visão, não dando o gostinho de encarar seu abdômen a ele quando me dobrei para encaixar os sapatos. -Onde está o maldito..
Ele me entregou o outro, sabe se lá Deus de onde puxou. Ainda estava irritantemente seminu, e nada envergonhado quanto a isso. Anos, de prática acho.
Puxei o sapato de suas mãos, não me importando em amarrar cadarços antes de marchar para a porta da frente. O relógio em sua parede dizia que eu estava fodidamente atrasada para o dia de Laboratório de Criação. A professora arrancaria minhas tripas com aquelas unhas de gel.
-Onde está indo?- sua voz praticamente acariciava o ar ao ser pronunciada, calmo e descontraído.
-Tenho aula, acho que você não deve saber o que significa, mas eu preciso delas para me formar- respondi, no melhor tom passiva-agressiva que eu tinha.
Não olhei para ele, pois sabia que algo estava errado. O resto do apartamento, diferente do quarto, estava surpreendentemente limpo, mas não era isso que eu estava olhando exatamente...
Jean, como da última vez, abriu um portal com a força do pensamento e puxou minha bolsa de sabe se lá Deus onde. Ele sorriu vitoriosamente quando meu olhar pousou em seu rosto.
-Acho que é seu.
Com dois passos duros, puxei pela alça, e ele soltou com facilidade.
-Ok, alguém está irritadinha de novo.
-Se eu estivesse irritada, você estaria sem bolas agora- respondi, saindo do apartamento. Quando a porta fechou, conclui que ele tinha fechado na minha cara e voltado a dormir.
Não contava com sua figura usando tênis frouxos, camiseta amassada e shorts de dormir. Arqueei uma sobrancelha, mas não perguntei o que diabos ele estava fazendo, porque sabia que ele gostaria muito disso.
Mas a coisa realmente começou a me irritar quando atravessamos a quarta quadra. Juntos.
Eu estava teclando furiosamente para uma colega de turma, pedindo atualizações sobre o que estava acontecendo na aula, ao mesmo tempo que checava se as pílulas hormonais estavam em dias e pensava sobre o meu café da manhã. Mas os passos leves de Jean estavam me acompanhando, as mãos nos bolsos do casaco.
-O que você quer- disse, mas não era uma pergunta.
-Estou indo para a faculdade, por quê?
Queria socar a cara dele.
-Parece muito que você está me perseguindo.
Ele deu de ombros, cumprimentando uma pessoa aleatória com um beijo no ar.
-Eu estava pensando em te chamar para comer, sim. Mas parece que você está prestes a arrancar meu pau com as unhas, então...
-Está querendo uma confirmação sobre isso? Porque a resposta é sim- atravessei a faixa de perdeste, me segurando a alça da bolsa.
-Bom, bom. Gosto de garotas com atitude.
Eu realmente o soquei dessa vez. Bem forte, no braço. Ele nem piscou.
-Achei que largasse todos depois da primeira noite.
-Posso fazer exceções.
Bufei um riso.
-Bom, eu não- desviei de um calouro sujo de gema de ovos ao entrar no campus, franzindo o nariz com o cheiro de suor no ar. Os trotes haviam começado para os pobres coitados.
Quando me virei, Jean ainda estava ao meu lado. Me olhando como se eu fosse algo incrível, mas eu sabia que meu sutiã estava aparecendo e meus olhos borrados de preto.
-Espere um momento- pediu, correndo para algum lugar. Por algum motivo, permaneci parada. Mesmo estando atrasada e me detestando por me rebaixar a esse garoto.
Resolvi que nunca mais iria a um bar de universitários depois disso.
-Aqui- ele apontou um copo fumegante para mim, com uma rosquinha no topo -Achei que poderia estar com fome.
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Depois de você - BxB
Ficção Adolescente***SEQUÊNCIA DE COLEGA DE QUARTO*** Enquanto Jason se fechou para tudo e para todos, Calvin voltou com seus hábitos pouco saudáveis.