Capítulo 13: Calvin

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Engoli em seco, minhas pernas se movendo contra minha vontade. 

Minhas unhas cravaram mais fundo em minha pele quando notei o olhar avaliador varrendo meu corpo. A sala parecia pequena demais, branca demais. 

Estava me deixando nervoso.

Tentei focar em algo. Os quadros gêmeos de flores roxas e azuis em um vazo de porcelana, a cadeira de veludo no canto... procurava até mesmo por algum detalhe interessante na mesa vazia a direita, tudo para não encarar quem estava a minha frente.

-Então, Call?- a voz doce chamou.

Balancei afirmativamente a cabeça, temendo não ser capaz de controlar meus lábios traiçoeiros. Eu encarei o chão, incapaz de olhá-la nos olhos, tendo um vislumbre de suas pernas cor-de-canela brilhantes. De seus pés envoltos em um sapato de pico pontudo, tiras prendendo os tornozelos.

Ela tinha uma tatuagem difícil de decifrar perto de um dos tornozelos, e eu me empenhei para descobri-la por algum tempo, antes que ela chamasse outra vez.

-Então- continuou, a cabeça baixa tentando encontrar a minha - o que te trás aqui?

Eu percebi que sua voz era calma e de um tom constante, o rosto inabalável.

-Genevive, uma de suas clientes, me indicou- eu disse, pela primeira vez em quase 20 minutos.

Gen tinha me arrastado para cá, se quer saber a verdade. Não descansou enquanto não recebeu minha confirmação relutante. E aqui estava eu, o coração batendo rápido demais e as mãos tremendo. Com medo de estar fazendo algo errado, ainda mais com o som da caneta sendo usada contra o papel nas mãos da mulher a minha frente.

-Ela me falou antes de você chegar. Disse que seu apelido é ''Call''- uma das sobrancelhas grossas da mulher se arqueou divertidamente, os olhos negros com um brilho sereno. -Pensei em como isso era igual ao nome que damos a ligações telefônicas- ela deu uma risadinha serena. -Mas falando em voz alta, faz sentido. 

Não pude deixar de sorrir um pouco. Meus olhos não encaravam mais o chão, e Maya, a mulher a minha frente, pareceu satisfeita com isso.

-Gen disse que estava fazendo sessões com você a algum tempo.

Ela fez que sim com a cabeça, o rosto ainda sereno. Eu me dei conta, no silêncio que se seguiu, que nós não estávamos aqui para falar de Gen. Maya ainda esperava minha resposta. Minha verdadeira resposta sobre o por que de eu estar aqui, e pela sua postura nada cansada, ela esperaria o dia todo.

Eu engoli em seco, reunindo o que ainda restava de minha coragem, forçando-a garganta a fora.

-Eu....E-eu estou aqui, porque não estou bem- suspirei, vergonha tingindo meu rosto de vermelho, ao mesmo tempo que alívio inundava meu estômago. -Eu não estou bem a algum tempo.

Os olhos da mulher eram doces. Doces demais para suportar, cheios de compaixão.

Eu tive que desviar os olhos dos dela para respirar, apertando os punhos com força para canalizar os sentimentos a espreita.

-E por que você tem se sentido assim?- perguntou, e eu senti vontade de socar seu nariz comprido.

-Eu não sei- disse, meio que automático.

Ela não insistiu, então outro silêncio se formou. O silêncio que dizia que eu deveria continuar.

-Eu.. eu terminei com meu namorado. Eu fiz algo irreparável, e agora ele não me quer mais.

-E o que você fez de tão ruim?- perguntou.

-Beijei meu melhor amigo.

Ela arqueou as sobrancelhas outra vez.

Depois de você - BxBOnde histórias criam vida. Descubra agora