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sexta-feira, 22/01/1999, 7h30min, São Paulo

A hora tinha chegado. Depois de longos e sofridos nove meses a bolsa de Laura havia estourado naquela manhã quente do verão brasileiro, sua garotinha chegaria ao mundo a qualquer momento agora. Laura se preparara a gestação toda para esse momento, portanto estava calma. Pelo menos era o que aparentava em sua face tranquila, mas o que ninguém sabia, além de seu médico, era que, muito provavelmente, ela não resistiria ao parto de sua filha, mas tinha a esperança de que veria seu rostinho pelo menos uma vez antes de deixar a vida terrena.

Diferente da esposa, Ayrton estava desesperado. Estava, mais precisamente, surtando. Diferente da esposa, não havia se preparado tanto para aquele momento e, para piorar, tinha um sentimento estranho em seu peito desde que acordara de madrugada, mas não tinha tempo para pensar nisso agora, precisava levar Laura para o hospital para que pudessem receber o maior presente de suas vidas, sua filha Ana Carolina, a garotinha que fora desejada por anos e ansiosamente aguardada por nove meses.

Chegando ao hospital logo foram atendidos e encaminhados para a sala de parto, a equipe do hospital assustada com os gritos ensurdecedores a agoniados de dor da gestante. Junto com os futuros pais chegou o obstetra responsável por Laura, e única pessoa que sabia da possibilidade da mãe não resistir ao parto. Ao entrar no quarto em que o casal estava, rodeado por enfermeiras, trocou um olha preocupado com a gestante, olhar esse que não passou despercebido por Ayrton e só serviu para aflorar ainda mais o sentimento estranho que o vinha perturbando desde as primeiras horas da manhã.

Em menos de meia hora Laura foi levada com urgência ao centro cirúrgico, estava com uma hemorragia muito forte e precisaria de uma cesariana de emergência. Dentro da sala de cirurgia tudo aconteceu muito rápido. Em questão de minutos a neném já havia nascido e, junto com o pai, que estava desesperado, foi levada ao berçário para fazer os exames de rotina e ser limpa. Quando Ayrton foi comunicado pela enfermeira de que não poderia ficar com a filha naquele momento e que assim que ela estivesse pronta ele seria chamado, ele se dirigiu à sala de espera do hospital, onde encontrou sua mãe, dona Neyde, a quem tinha ligado antes de sair de casa para comunicar o nascimento da neta, e assim que a viu, desabou. Chorava de felicidade e preocupação. Felicidade pelo nascimento de Ana, sua bonequinha, como carinhosamente havia apelidado a filha quando soube que seria pai de uma menina e ele e Laura ainda não tinham um nome para ela. Preocupação por não saber como sua esposa estava, mas mantinha a esperança de que ela ficaria bem e viveria muito ainda ao seu lado e ao lado de Ana, viajando o mundo e conhecendo novos lugares onde ele ainda correria.

Algumas horas depois, o médico responsável por Laura chegou com a triste notícia de que a mãe não havia resistido às complicações do parto. Naquele momento o mundo de Ayrton parou. O dia que deveria ser o mais feliz de sua vida havia se tornado agridoce, e foi naquele momento que percebeu que deveria ser forte, mais forte que nunca, para passar por essa situação e cuidar de Ana Carolina da melhor maneira possível.

Quando pôde segurar sua filha em seus braços pela primeira vez, fez uma promessa à garotinha e à sua esposa. Disse, em um sussurro, para que apenas Ana pudesse ouvir:

- A partir de agora somos nós dois, sempre e para sempre.

***

tt: @hermione_bass

Always and Forever | Mick SchumacherOnde histórias criam vida. Descubra agora