Capítulo 14

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Disseram que uma breve excursão no meio da floresta seria divertido e produtivo, ainda mais em nosso último ano no Castelo Bruxo. Disseram que seria a oportunidade perfeita para apreciar pequenos detalhes que poderiam ter passado despercebido durante outras visitas. Disseram que poderíamos levar todo o tempo do mundo e desfrutar da ocasião, afinal a Amazônia é um local gigantesco e cheio de novas possibilidades.

 O professor de magizoologia e a Sra. Dourado não poderiam estar mais enganados e equivocados, todo aquele exaustivo discurso motivacional e de inspiração não serviu em nada nessa situação. Quais as chances de encontrar um saci-pererê e ser proclamada sua deusa? Eu digo, são absolutamente nulas, mas  foi exatamente isso que aconteceu comigo, a criatura tem me seguido para cima e para baixo, declarando estar apaixonado e encantado com minha beleza.

- Vai embora, por favor, garoto - Implorei cansada, ele consegue ser muito insistente e teimoso.

- Mas, minha deusa, eu acabei de encontrá-la, não posso abandonar uma jóia tão bonita e preciosa ao relento - Respondeu pulando em seu único pé e vindo para meu lado, tão dramático.

- Para sua informação, eu sou uma bruxa, sei me defender muito bem - Afirmei indo para o lado e tomando distância - E, você não deveria estar perturbando alguma alma desavisada por aí? - Insisti, aliviada ao avistar o tom dourado da estrutura da escola.

- Prefiro ficar com você, minha cocadinha - Respondeu e engoli seco, nervosa e sem saber como lidar com a situação.

 Além de suas travessuras, é importante ressaltar que o Saci tem o domínio das matas, é o guardião das ervas e plantas medicinais, além de conhecer técnicas de manuseio e de preparo, bem como a utilização acerca dos medicamentos feitos a parte de plantas. Em muitas regiões, é considerado maléfico, ele guarda e cuida das ervas sagradas presentes na mata e costuma atrapalhar e confundir as pessoas que as coleta sem autorização.

 A lenda garante que para capturar o Saci-pererê, a pessoa deve arremessar uma peneira dentro dos redemoinhos de vento. Dessa maneira, após captura-lo, é necessário retirar-lhe o gorro para prendê-lo em uma garra. Acredita-se que o Saci nasceu do broto de bambu, permanecendo ali até os sete anos e, após esse período, vive mais setenta e sete praticando travessuras entre os humanos e os animais. Por fim, ao morrer, torna-se um cogumelo venenoso.

- Pelos cabelos de Tupã, pare de me seguir - Choraminguei, muito tentada a lançar uma azaração poderosa na criatura.

- Minha deusa... - Começou e esse foi meu limite, esse apelido consumiu cada célula de paciência existente em meu corpo e alma.

- Amélia, meu nome é, Amélia - Anunciei pausadamente, apertando a varinha entre os dedos.

- Um belíssimo nome para uma bela dama - Paquerou e arfei surpresa, os batimentos de meu coração batendo mais rápido.

 Infelizmente, no momento em que decidi correr o risco de ser interrogada pelo ministério e acertar o saci com um feitiço poderoso, o som de galhos quebrando captou minha atenção. Um suspiro de alívio escapou de minha boca quando reconheci os cabelos ruivos e bagunçados de Newt em meio as árvores, ver o britânico reacendeu a chama trêmula de esperança quase apagada em meu coração, eu preciso de sua ajuda para obter minha liberdade e quietude.

- Scamander - Chamei em um tom alto e urgente, correndo ao seu encontro.

- Meu amor, espere por mim - Gritou o garoto vindo logo em meu encalço.

 O magizoologista ouvia a confusão e buscou por sua origem, Newt não pareceu surpreso ao perceber que estou no centro de tudo, situações constrangedoras sempre acontecem comigo e não há nada que possa ser feito. Continuei correndo e desviando de galhos  e pedras espalhados pelo chão, o rosto do britânico foi tomado por expressões de curiosidade e assombramento quando avistou a criatura de gorro vermelho que estava me seguindo.

Castelo Bruxo - Newt ScamanderOnde histórias criam vida. Descubra agora