Capítulo 34

1.9K 273 21
                                    

O resultado da corrida foi deprimente e frustante, meu avô venceu por uma questão de pouquíssimos metros e comemorou com entusiasmo e empolgação. Retornamos para casa e o bruxo se despediu com um breve aceno de mãos, era nítido o cansaço e exaustão em seu rosto e através da lentidão com que caminhava, mas ele jamais iria admitir isso em voz alta.

 Coloquei Trovão e Ambrosia em suas baias logo após retirar as celas e os cabrestos, depositando uma quantidade razoável e generosa de alimento para ambos os cavalos. Decidi cumprir com o combinado e cuidar das plantas carnívoras o mais rápido possível, esse trabalho pode ser emocionante e perigoso, mas é necessário paciência e cuidado.

 Caminhei até a estufa e logo avistei a enorme e imponente estrutura feita de metal e vidro, esse lugar foi construído sob ordens específicas e bastante claras de meu avô. Foi a forma que ele encontrou de expressar e mostrar que continua apaixonado pela esposa, mesmo depois de 50 anos discutindo e contrariando um ao outro, é palpável o quanto eles se completam.

 Empurrei a porta e entrei calmante no local, o ambiente possuía uma atmosfera tranquila e calmante, além de ser um verdadeiro colírio aos olhos. A quantidade e diversidade de plantas e flores é algo inacreditável e impressionante, essa estufa é administrada e cuidada por minha avó, foi através dela que descobri minha paixão e vocação com a herbologia.

- Ei, plantinhas, sentiram minha falta? - Perguntei ao me aproximar das plantas carnívoras - Espero que estejam calminhas - Implorei olhando para os espinhos afiados.

 Dioneia (Vênus Flytrap): as 2 folhas articuladas da planta servem como gaiola para insetos. As 3 presas são muito sensíveis e para a folha fechar, em torno de 2 tricomas devem ser estimuladas com 20 segundos pelo inseto rastejante. No momento que isso acontece, a folha é fechada dentro de 0.1 segundos; o inseto morre e é absorvido pelas folhas para nutrição.

 Peguei um jarro cheio de insetos e senti meu coração ficar apertado e cheio de angustia, é horrível que pequenos animaizinhos tenham que morrer para que o ciclo da vida continue. Retornei para mais perto da bancada e coloquei as luvas de proteção, entretanto, usei minhas habilidades com essas criaturas para que o sofrimento fosse reduzido ao máximo.

- Amélia, podemos conversar? - Pulei assustada ao ouvir a voz de Scamander.

- Maldição, Newt, eu quase morri de susto - Levei as mãos ao coração - Senhor, não faça mais isso - Respirei com um pouco de dificuldade.

- Desculpe, querida, não foi minha intenção - Afirmou e se aproximou de mim - O que está fazendo? - Questionou.

- Perdi uma aposta e estou cumprindo com o combinado - Sorri ao vê-lo encostar na bancada e cruzar os braços - Sobre o que quer conversar? - Liberei a magia e os mosquitos cessaram o vôo.

- Sobre o que aconteceu na cozinha mais cedo, tem algo a dizer? - Murmurou atento ao desenrolar da cena.

 Permaneci em silêncio e foquei meus esforços em completar a tarefa, destampei o jarro e alguns insetos voaram para fora da estrutura, indo direto ao encontro das plantas carnívoras. Fechei os olhos com força e pude sentir suas emoções oscilando entre pavor e medo, aumentei a intensidade do poder e lancei uma espécie de anestésico extremamente poderoso, eles não sentiriam dor ou angustia.

 Uma única lágrima escorreu por meu rosto e desceu lentamente por minha bochecha, continuei de olhos fechados enquanto a situação seguia o seu ciclo óbvio e necessário. Após um bom tempo consegui acalmar a avalanche em meu peito e reuni coragem para abrir os olhos, me deparando com o britânico bem próximo e demonstrando preocupação e empatia, Newt secou a lágrima com almejo.

Castelo Bruxo - Newt ScamanderOnde histórias criam vida. Descubra agora