Castelo Bruxo - Newt Scamander

Capítulo 43

Retornar para o Castelo Bruxo permitiu que eu tivesse uma intensa sensação de proteção e alívio, admito ter sido um pouco constrangedor encontrar a Sra. Benedita Dourado, ainda mais na situação deplorável e frágil que estava. Porém, a bruxa apenas sorriu de maneira doce e reconfortante, me levando consigo.

 Ela percebeu a discreta saliência em minha barriga, mas preferiu não comentar, no momento tínhamos coisas mais importantes para lidar e discutir. Os elfos da escola encheram a banheira com água quente e óleos hidratantes, eles inclusive lembraram do meu aroma preferido de cacau e grãos de café.

 Entrei na enorme banheira aquecida e observei a água ser tingida de marrom, toda sujeira e oleosidade de pele desaparecendo por completo. Um dos elfos trouxe uma bandeja cheia de comida e chá, e meu estômago implorou por qualquer alimento, lágrimas inundaram meus olhos e chorei ao sentir que estou finalmente livre.

 Depois de tantas horas intermináveis de tortura, dor e sofrimento, estou finalmente em casa, cheia de bruxos poderosos e habilidosos determinados a me proteger e a cuidar de meu filho. Respirei fundo e aos poucos o choro compulsivo diminuiu, até o ponto de restar apenas um pequeno rastro úmido causado pelas lágrimas.

 Estiquei uma das mãos e peguei a porção generosa de frutas frescas dentro da taça de vidro, era a opção mais tentadora e apetitosa de todas, além dos pãezinhos doces e a xícara de chá de camomila. O buraco no meu estômago foi desaparecendo, foi nesse instante que soube que a diretora entrou no banheiro e se sentou na poltrona mais próxima.

- Amélia, como está se sentindo agora? Colocamos poções de vitalidade no chá, será bom para o bebê - Comentou sorrindo de forma acolhedora.

- Obrigada por me encontrarem - Agradeci enfiando mais uma fatia de mamão na boca - Newt e minha família sabem do meu paradeiro? - Indaguei preocupada.

- Sim, eles chegaram em breve, minha querida - Respondeu e acenti em concordância - Alvo Dumbledore e Gellert Grindelwald também estam vindo, Amélia - Informou.

- Eles o quê? - Congelei ao compreender a gravidade da situação - Eles não... Isso é maluquice - Comentei e a bruxa riu.

- Foi uma surpresa e tanto saber que os dois deixaram aquela briga de lada e se uniram pelo mesmo objetivo, ou seja, você - Afirmou simplória.

- Merlim, eles destruirão metade do país, somente se isso significar causar dor e agonia na Charlotte - Alertei sabendo que isso iria acontecer.

 Levei as mãos a barriga e ignorei a nudes explícita de meu corpo, a mulher olhou com carinho para meu abdômen, talvez lembrando de algum momento importante de seu passado. Em minha mão permaneceu o anel de compromisso dado por Scamander, a jóia era simples e um pouco rústica, algo muito parecido com ele e sua personalidade minimalista.

 Levantei da banheira após retirar toda a sujeira acumulada e peguei a toalha estendida por Benedita Dourado, enrolei ao meu redor e com sua ajuda caminhei para o quarto cedido pelo Castelo. Havia um poderoso feitiço de proteção colocado sobre ele, impedindo a entrada de qualquer pessoa desconhecida, exceto para aqueles que eu permitir.

- Newt sabe da sua gravidez? - Questionou desviando o olhar quando vesti o pijama confortável e leve.

- Não, descobri enquanto estive sob controle daquela mulher psicótica e sádica - Respondi e me deitei sobre a cama.

- Ele é forte e extremamente poderoso, e a manteve protegida dos ataques mais violentos de sua tia - Comentou e sorri, sem nem mesmo saber o motivo.

- Ele me protegeu? - Sorri emocionada e puxei os lençóis para cima.

- Sim, minha querida - Afirmou bem humorada e mais leve - Durma bem, Amélia, vocês precisam disso - Alertou.

- Obrigada, de novo, por tudo - Sorri meio sonolenta e cansada.

 Encarei atentamente a diretora da escola sair do cômodo e aguardei o sono chegar, mas nada parecia acontecer conforme o esperado. Encarei fixamente o teto e lembranças dolorosas invadiram minha mente, as mais dolorosas e tristes de imaginar, em especial a risada horripilante e estridente de Charlotte. Dizem por aí que experiências traumáticas são difíceis de esquecer.

 Espero que meus família e amigos não enlouqueça quando souberem da gravidez e demonstre apoio, mas algo me diz que Scamander terá sérios problemas a enfrentar pela frente. As horas foram passando e o sono não veio, tornando a ocasião ainda mais forte e impactante. Felizmente, um elfo adorável entrou no quarto e entregou a poção que permitiria poucas horas de descanso.

 O efeito foi quase imediato e uma onda esmagadora de exaustão percorreu meu organismo, bocejei e posicionei as mãos de maneira protetora sobre a barriga. Ao menos tenho um pedacinho de Newt comigo, e apesar do nervosismo e insegurança, tenho absoluta certeza de que seremos bons pais, esse bebê será muito amado e receberá todos os cuidados.

 É um pensamento meio adiantado e precose, entretanto posso imaginar aquele serzinho correndo pela casa e enchendo tudo de alegria, felicidade e entusiasmo. Espero que ele herde as adoráveis sardas de Scamander e o meu cabelo castanho enrolado, essa seria a combinação perfeita de nós dois, além do jeito excêntrico e incomum de ambos.

- Você nem chegou ao mundo, mas é a melhor coisa que me aconteceu - Murmurei sonolenta - Não conte isso ao seu pai, ele pode ser muito dramático quando quer - Sorri com a lembrança.

 Fechei os olhos e permiti que a poção fizesse efeito, admito ter gostado da sensação agradável dos lençóis e o conforto do colchão macio. A luz prateada da lua entrou no cômodo e iluminou tudo no ambiente, tornando o cenário mais calmo e pacífico, o vazio em meu cérebro trouxe consigo certa nostalgia, quando foi a última vez que dormi tranquilamente?

(...)

 A garota adormeceu completamente e não percebeu a aproximação nada sútil de sua família e dos parentes de Scamander, além de Dumbledore e Grindelwald. Todos olharam para a jovem bruxa deitada na cama com tristeza e culpa, as cicatrizes espalhadas por todo o seu corpo eram nítidas e muito detalhadas, mas o que mais chamou atenção foi a imagem de sua barriga.

- Ela está grávida? Meu bebezinho terá uma criança? - Indagou o pai de Amélia, inconformado e em estado de choque - Newt, você se aproveitou da inocência da minha filhinha? - Exigiu.

- Senhor, eu... - Ele tentou falar, mas foi interrompido bruscamente.

- Eu vou matar você, bruxo pervertido - Gritou alto e cheio de raiva.

 A agitação no quarto foi impedida por Gellert Grindelwald, que apesar de frustado e entediado, entendia a preocupação latente do homem. Ele caminhou até a cama de Amélia e deslizou os dedos pelo rosto da bruxa, seu coração sendo inundado de saudades e o instinto de proteção, a brasileira era uma das poucas pessoas que realmente importavam em sua vida.

- Ninguém irá machuca-la de novo, lírio - Sussurrou ignorando a tentativa de assassinato proporcionada pelo pai de Amélia e o namorado da garota.