Castelo Bruxo - Newt Scamander

Capítulo 20

Newt Scamander

 A oportunidade de viajar para o Brasil surgiu como uma verdadeira válvula de escape e salvação, meu relacionamento com Tina se tornou tóxico, rude e cansativo, nem mesmo parecíamos possuir quaisquer laços de amizade. Ela evitava permanecer no mesmo cômodo que eu, as conversas se tornaram frivolas, frias e sem sentido, além de simplesmente sumir durante dias.

 Foi quando descobri seu relacionamento amoroso e afetuoso com meu irmão, e não pude culpa-la, afinal quem não ficaria apaixonada por um herói de guerra? Mais uma vez meu coração ficou partido e o mundo tornou-se ainda mais vazio e cinzento, foi como reviver a sensação dolorosa proporcionada por Leta Lestrange, a rejeição é algo muito presente e vivo em minha história.

 Organizei minhas roupas, livros e pertences pessoais, e embarquei no primeiro navio que ia direto a América do Sul, especificamente nas águas brasileiras, evitei despedidas constrangedoras e enviei cartas sobre a viagem para meus amigos. Foram longos e intermináveis dias em alto mar, enjôos e inúmeras tentativas de fuga por parte dos animais e criaturas mágicas guardadas em minha maleta.

 As primeiras impressões foram marcantes e extremamente curiosas, as pessoas possuíam uma áurea acolhedora e eram muito gentis, em nada lembravam os bruxos reservados e distantes da Europa. O clima quente foi um dos pontos mais difíceis e preocupantes na fase de adaptação, embora tivesse conhecimento que o Brasil é um país tropical, nada havia me preparado para a realidade.

 Após longas e entediantes horas desperdiçadas com negociações e a burocracia, finalmente pude embarcar no trem que me levaria direto ao Castelo Bruxo. Uma das escolas mais importantes e influentes no mundo bruxo, comandado pela excelentíssima e mundialmente conhecida, Sra. Benedita Dourado. Foi emocionante receber sua carta de autorização permitindo minha estadia por tempo indeterminado em sua imensa propriedade, quase um sonho realizado.

 Fui escoltado por um guardião mágico até que chegássemos a floresta Amazônica, a atmosfera misteriosa e mágica se fez presente logo nos primeiros passos. O som de diferentes animais rastejando foi algo de tirar o fôlego, galhos se quebrando e partindo foi um indicativo de que eu estava sendo observado e de bem perto. Uma criatura peluda e curiosa veio ao meu encontro e pegou minha bagagem, o segui sem qualquer outra alternativa.

 Caminhamos em silêncio por entre as árvores densas e a vegetação fechada, algo naquele animal não permitiu que eu confiasse inteiramente em suas atitudes. Era como se ele fosse envolvido por uma camada grossa de desconfiança e malandragem, tudo piorou quando realizamos um desvio suspeito na trilha. Ignorei o desconforto e os instintos de sobrevivência e continuei seguindo seus comandos silenciosos.

 Foi nesse momento que ouvi uma voz doce e extremamente aveludada repreender a pobre criatura, perdi todo o fôlego ao contemplar tamanha beleza. Seus olhos possuíam uma tonalidade profunda e incomum de azul, sua pele branca apresentava um discreto e quase imperceptível bronzeado, além dos lábios grossos e rosados, o cabelo castanho exibia cachos rebeldes e indefinidos.

 Congelei ao imaginar que ela deveria ser apenas uma alucinação proporcionada por meu cérebro, talvez um espírito protetor da floresta ou, como diriam os trouxas, um anjo enviado direto dos céus. Amélia, demonstrou gentileza e bondade, não havia estranheza ao perceber meu modo excêntrico e estranho de agir, em momento algum a bruxa brasileira me julgou, e serei eternamente grato por sua atitude.

 Foi óbvio que Amélia tentou diminuir o nervosismo e a tensão que senti, seus comentários aleatórios e repletos de divertimento teve o efeito desejado, éramos apenas duas pessoas conversando. Fiquei embasbacado com a visão do Castelo Bruxo, sua estrutura dourada era a visão do paraíso, ainda mais quando isolado e escondido pela própria floresta e suas criaturas.