Capítulo 01

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É engraçado como alguém pode partir o seu coração, e você ainda amá-lo com todos os pedaços.

Autor desconhecido.

P.O.V Babi

Abri os olhos vagarosamente, no entanto, precisei voltar a fecha-los quando a claridade os atingiu violentamente. O barulho do despertador estava me deixando irritada, mas eu não fazia a mínima ideia de onde o maldito aparelho se encontrava. Minha cabeça parecia que iria explodir e meu corpo se desmanchar em meio aos lençóis. O cheiro de álcool impregnando o quarto era insuportável.

Me forcei a voltar nas lembranças da noite passada, me arrependendo no milésimo seguinte. As informações estavam confusas e embaralhadas, porém, consegui lembrar do casal vinte indo embora.

 E do Arthur dizendo que Augusto estava de volta. Mas de volta como? Em São Paulo ou no país? De volta pra minha vida? Sinceramente, eu não sabia qual possibilidade seria a pior. Me recordei também que depois do Ramos ter jogado a bomba, entrei em casa, peguei as chaves do carro e fui para o barzinho de sempre, onde bebi até o Barman gatinho me negar outra dose, e me botar dentro de um táxi.

 O garoto era um doce, isso eu não podia negar. Mas o trabalho dele era me servir bebidas até que a notícia do babaca estar de volta sumisse do meu cérebro.

 Que merda, Babi... Olha o que nos tornamos! Uma alcoólatra depressiva. E tudo por causa de um babaca que nunca, nunca te mereceu. Me levantei da cama com raiva, mas voltei a me sentar no colchão quando vi tudo rodar. Merda de ressaca! Depois de alguns minutos na mesma posição, finalmente, consegui levantar e ir até o banheiro, onde tomei um banho frio e depois um analgésico. Vesti uma roupa qualquer e tomei um café preto para o ritual de uma "pós ressaca" estar completo.

 Peguei a mochila jogada sobre o sofá, depois as chaves em cima do aparador e o celular. Fechei a casa e fui em direção a garagem, mas parei no meio do caminho ao lembrar que o tinha deixado o carro no bar. Bufei frustrada.

 Puxei o celular para fora do bolso e chamei um Urbe, explicando minha situação de atrasadíssima e que precisava de um serviço rápido. Enquanto esperava pelo meu querido/desconhecido motorista, ergui o olhar até a casa da frente, a que costumava ser a casa dele na época da nossa infância. Estranhei ao ver um movimento estranho na mansão. 

Não pisava alguém na mesma fazia anos, e apesar dela parecer bem cuidada por fora, não tinha mais esperanças de que alguém fosse querê-la. Mas pelo jeito eu estava enganada e logo teria vizinhos novos. O uber parou ao pé da minha calçada, anunciando a minha deixa. Jogando minha curiosidade para longe e focando unicamente no assunto da minha prova de cálculo, entrei no carro e saldei o motorista de cabelos grisalhos e barriga avantajada. Esse era um daqueles motoristas legais, sem dúvidas.

O dia havia demorado a passar, mas eu estava, finalmente, em casa. A prova de cálculo foi difícil como o inferno, porém, estava certa de que havia ido bem. No trabalho as coisas foram mais fáceis e alegres. As crianças me faziam um bem inexplicável, tanto que sempre que estava com elas esquecia qualquer pensamento sobre o Augusto. Pena que naquele momento eu estava em casa, sem fazer nada e meu subconsciente masoquista resolveu me sacanear mais uma vez.

 Victor estava no Brasil. 


Senti uma imensa vontade de ligar para o Arthur pedindo uma explicação, mas sabia que ia soar desesperado. E já bastava os olhares de pena que eu recebia do Moreno à cinco anos. A garotinha que foi abandonada e perdeu a mãe. 

Desliguei a TV e repousei o pote de sorvete sobre o centro da sala. Peguei o notebook que estava ao meu lado no sofá, e o coloquei sobre meu colo. Estava decidida a não ser mais essa garotinha, e o primeiro passo seria me desapegar de todas as coisas que me lembrassem "o rei dos babacas". Os humilhantes e-mails que havia escrito durante três anos precisavam sumir da face da terra. 

Sempre é você |Vol. 2Onde histórias criam vida. Descubra agora