Capítulo 25

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Me ame só como você sabe...

Ellie Goulding

Depois que terminei de tomar o soro, e Carol me empurrou um sanduíche
natural goela a baixo, decidi que estava na hora de ver Margot. Passei apenas
duas horas desacordada, mas sabia que minha amiga não resistiria por
muito tempo. Com o auxílio de Arthur, caminhei a passos lentos até o quarto da
minha amiga, mas antes reparei em Luca no final do corredor, sentado em
uma das cadeiras. Havia um homem com ele, mas não conseguir ver o rosto
pois a posição que estava sentado na cadeira lhe deixava de costas pra mim.
O desconhecido deve ter dito algo legal, já que o meu menino esboçou o
primeiro e único sorriso naquele dia trágico.

Tirando a atenção dos dois, entrei no quarto sentindo um desconforto em
minha garganta. A mulher deitada sobre a cama me recebeu com um
pequeno sorriso nos lábios. Caminhei em sua direção, quando senti a porta
sendo fechada atrás de mim; éramos só eu e ela.

-Fiquei preocupada, querida! Achei que não conseguiria uma última
conversa... - Sua voz rala e baixinha fez meu coração se encolher.

- Estou aqui. - Me forcei a engolir o enorme nó em minha garganta.

- Queria me desculpar por ter sido tão ríspida mais cedo... - se manteve em
silêncio por alguns segundos, até que voltou a falar: - Desde o dia que
descobri que estava doente que finjo não me importar com o fim, mas a
verdade é que estou com medo! Nunca senti tanto medo na minha vida
como estou sentindo agora. E não posso culpar ninguém a não ser eu mesma
por meus próprios erros estúpidos. Aproveitei a minha juventude como bem
quis e acabei perdendo um futuro ao lado do meu filho!! - Vi as lágrimas
encharcarem sua face ao poucos. A amargura em sem tom de voz era
palpável.
- Vou lhe fazer uma pergunta, e preciso que seja sincera comigo e com si
mesma, Bárbara! - Assenti com medo do que viria.

- Alguma parte sua guarda alguma mágoa por Flávia tê-la deixado sozinha? - Sua pergunta me pegou de surpresa, fazendo-me piscar atônita algumas vezes. Na verdade eu
não sabia bem o que responder. Respirei fundo pensando no que diria,
procurando uma resposta sincera assim como ela havia exigido.

- Quando voltei do colégio interno e descobri que minha mãe havia me
afastado para suportar toda a dor sozinha, confesso que senti muita raiva. De
mim, por não ter reparado nos detalhes. Do meu pai, por ter sido um
péssimo marido. E um pouco dela, por não ter aceitado ajuda e seguido a
vida como se nada tivesse acontecendo. Mas sacrifiquei essa raiva, e escolhi
passar cada último segundo ao seu lado. E não me arrependo. Sei que ela me
amava e fez tudo o que fez pensando no melhor para mim. Então, não! Eu
sinto muita falta dela todos os dias, mas não guardo nenhum sentimento
ruim direcionado a minha mãe. E sei que Luca também não guardará. Aquele
garotinho é louco por você, e nem se ele quisesse conseguiria te odiar. -
Garanti, sendo sincera. Margot, apenas, assentiu com um balançar de
cabeça, e finalmente deixou um choro forte cortar sua garganta. Segurei em
sua mão tentando de algum modo reconforta-la, porém, não surtil o efeito
desejado.

- Preciso que cuide dele para mim! - Sua voz chorosa e desesperada. E me
peguei, completamente, surpresa com o seu pedido.

- O que?

- Sei que o que estou pedindo é um absurdo! Você não tem nenhuma
obrigação, e cuidar de uma criança quer dizer abrir mão de muitas coisas. E
eu não te pediria algo assim se não estivesse realmente desesperada... não
consigo pensar em alguém melhor para cuidar do meu filho em minha
ausência. Lucy apesar de ser um amor, já está com a idade avançada. - Seus
lábios estavam ainda mais pálidos e minha amiga parecia cada vez mais
cansada. - Por favor, diga que sim, Passos! - Pediu outra vez e logo os
aparelhos começaram a apitar.
Eu não sabia o que fazer.
Não que eu me importasse com o que perderia se aceitasse a responsabilidade, porque Luca sempre sería o
mais importante. Mas me amedrontava a possibilidade de errar com ele e
com Margot.

Sempre é você |Vol. 2Onde histórias criam vida. Descubra agora