Capítulo 04

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E as boas garotas estão em casa, com o coração partido.

John Mayer

Tomando coragem o suficiente, me virei em sua direção. Uma súbita onde de eletricidade passou pelo meu corpo quando o vi ali tão perto. Apenas um passo e eu estaria em seus braços.

Mas não era assim tão fácil... Não quando havia tantas coisas em jogo. Quando meus sentimentos estavam se embolando em uma confusão sem fim até virar uma bola de neve gigantesca. A mágoa e a raiva me inundaram de uma forma insana, destruído qualquer autocontrole que estivesse pela frente. Não sabia o que fazer ou falar. Eu devia mesmo dizer alguma coisa?

Fechei as mãos em punho para que as mesmas parassem de tremer. Ainda atônita pisquei algumas dezenas de vezes, esperando que aquela cena horrível fosse somente um dos meus pesadelos constantes. No entanto, Victor Augusto ainda se encontrava a minha frente, parecendo estar tão paralisado quanto eu, no entanto, sua face se encontrava inexpressiva.

Seu olhar vazio como se o nosso reencontro não fosse nada... Como se nada do que estava acontecendo o afetasse de alguma forma. E subitamente comecei a me sentir uma idiota por ter derrubado as barreiras quando mais precisei delas. Por que eu não podia, simplesmente, ser como ele?

― Você está bêbada? ― perguntou quebrando o silêncio constrangedor. Contudo, não gostei da forma que as palavras foram ditas. Como se eu fosse um estorvo que tivesse atrapalhando.

― Não. ― E por incrível que pareça, eu estava mais sóbria naquele momento. Augusto franziu a testa fazendo com que um vezinho se formasse entre suas sobrancelhas.

― Então o que está fazendo aqui?

― Como? ― perguntei confusa.

― O que veio fazer aqui? Como descobriu o meu endereço? ― seu tom de voz acusador me deixou irritada.

― Eu não vim te procurar. ― Soltei incrédula com o que escutava. ― E eu que deveria perguntar o que diabos você está fazendo aqui...

― Estou morando aqui novamente. ― Victor apontou para a casa atrás dele, e meu coração errou uma batida.

Então, ele era mesmo o vizinho misterioso?
O encarei nos olhos pela primeira vez àquela noite, e só então reparei no quanto havia sentido falta daquilo. Olha-ló nos olhos sempre foi algo que me acalmou, apesar de qualquer ocasião. E aquela não foi uma exceção. Reparei também no quanto o tempo lhe tinha sido generoso. O garoto desde criança nunca precisou de esforços para chamar atenção por onde passava, mas agora ele estava de tirar o fôlego.

O menino que eu conhecia, agora carregava traços fortes de um homem e usava uma barba rala. O seu porte também havia melhorado, não tinha virado um saco de hormônios, no entanto, parecia bem mais forte e mais alto. Nada exagerado, mas ainda sim um homem sem defeitos algum. Se não estivermos incluindo o caráter, claro.

― Por que voltou, Augusto? ― Questionei confusa. ― E no que diabos estava pensando quando decidiu voltar a ser meu vizinho?

― Não escolhi nada disso, Passos. ― declarou ríspidamemte.

― Eu pensei que estivesse morando com o seu pai no Rio... e achei que a minha casa em São Paulo seria o melhor lugar pra ficar. Pisquei algumas vezes, incrédula. Não dava pra acreditar que aquela conversa estava verdadeiramente acontecendo.

― Você é um idiota.

― Por que ficou morando sozinha? ― disse, ignorando meu comentário.

― Realmente acha que lhe devo alguma satisfação depois de tanto tempo sem notícias suas? ― cuspi com desgosto.

― Não ligo para o que você faz ou deixa de fazer, Bárbara Passos. Foi apenas uma pergunta. ― Victor revirou os olhos e botou as mãos dentro dos bolsos do moletom que usava.

― Surpreendente seria se você dissesse que ligava, já que deixou bem claro o quanto se importa comigo a cinco anos atrás. ― mordi os lábios tentando afastar as lágrimas. O homem parado a minha frente desviou o olhar para os próprios sapatos, visivelmente incomodado. ― Não consigo entender o porquê de você só não ter ido e pronto. Mas teve que deixar aquela maldita carta pra me atormentar por todos esses anos. Augusto levantou o olhar amargurado e me encarou.

― Deixei a carta para me despedir, Passos... queria que soubesse que precisei ir embora para te manter longe de qualquer sofrimento que eu pudesse vir a causar. Você já estava sofrendo o suficiente. Sorri afetada com essas palavras.

― Deve me achar uma idiota, não é mesmo? ― desviei o olhar rapidamente para um carro parado na calçada da vizinha. ― O único motivo de ter deixar aquela carta foi pra você mesmo acreditar nessa mentira. Foi embora porquê é uma das poucas coisas que você faz bem. Só espero que não tenha voltado pra brincar comigo, outra vez. ― Girei sobre os calcanhares e comecei a caminhar até a porta de casa. E uma vez atrás dela, tinha certeza que desabaria e soltaria as malditas lágrimas.

― Não estou aqui por você, Passos. Há outras coisas em jogo. ― o ouvi gritar.

― Vai se fuder, seu cretino! ― gritei de volta, sem interromper meus passos. Só parei para pegar as chaves de casa dentro da bolsa. Quando as achei, abri a fechadura e me empurrei para dentro, fechando a porta atrás de mim em um baque alto.

Caminhei até o banheiro para tomar um banho, mas antes de chegar em meu quarto as lágrimas já haviam io ainda amava cada átomo presente no corpo dele.nundado meu rosto. Meu corpo parecia estar pesando toneladas e me sentia no limite.

Eu, definitivamente, não estava preparada para um reencontro. Victor ainda era um assunto delicado e depois desse encontro desastroso, não havia nem possibilidade de enganar a mim mesma. Droga. Cada átomo do meu corpo amava cada átomo do corpo dele.

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Sempre é você |Vol. 2Onde histórias criam vida. Descubra agora