Capítulo 02

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Quando a dor é grande demais a gente some.

Chão de folhas desativado.

Duas miseráveis semanas haviam se passado, e nada de mais havia acontecido, além de que a casa da frente foi mobiliada. Cheguei até mesmo a falar com alguns vizinhos querendo saber algo sobre os novos moradores, mas, ninguém soube me dizer muita coisa. Apenas que se tratava de um homem bonito e importante.

Por diversas vezes durante as aulas, ou até mesmo em casa sem fazer nada, eu me pegava curiosa sobre o homem misterioso. Tão curiosa que a.q.n.d.s.m. havia surgido em meus pensamentos brevemente nos últimos dias. Tanto que me sentia verdadeiramente grata ao desconhecido por ter feito em duas semanas, o que não fui capaz de fazer em cinco anos.

― Tia... ― Olhei para o garotinho de cabelos dourados parado em frente a minha mesa, e lhe dei um sorriso carinhoso.

― O que foi, Luca? ― Perguntei.

― Terminei a talefa. ― Respondeu, me entregando a folhinha com o desenho que tinha feito.

Olhei para o restante dos meus alunos e todos continuavam a desenhar. Apenas ele tinha terminado.

― Vamos ver o que fez aqui... ― estirei a mão para que ele se aproximasse.

― Minha mamãe... Ela está dodói. Quando ela não sente dor é a melhor parte do meu dia.

Senti o peito apertar ao escutar suas palavras e ver o desenho. Pedi aos meus alunos para desenharem um momento do dia que eles mais gostassem. Mas naquele momento, eu me sentia a pior pessoa do mundo por ter feito uma criança desenhar algo tão doloroso. 

Nem de perto era um desenho fácil de se entender, afinal, Luca tinha apenas quatro anos... Mas quando o garoto me disse do que se tratava, os rabiscos foram fazendo um pouco mais de sentido. Na folha de ofício havia um quadrado, e uma boneca dentro dele. Deduzi que a mãe da pobre criança estivesse deitada em uma cama. Também, havia um segundo boneco e sua mão estava ligada a mão da boneca.

A imagem era tão pura e singela que foi impossível não se emocionar. E o que mais pesava era que eu também havia passado pela mesma situação, e estava ciente de como doía. Luca não merecia passar pelo que passei.

― O que foi? ― Questionou o garoto quando viu uma lágrima solitária rolar pelo meu rosto.

Enxuguei a mesma rapidamente e me virei para olha-lo melhor. Mas ao encarar o garotinho de olhos azuis e bochechas rosadas, um sentimento de empatia encheu meu peito e senti vontade de protege-lo de qualquer dor.

― Eu sinto muito. ― passei os dedos pela franja que caía delicadamente sobre seus olhos. ― Sua mamãe vai ficar bem...

― Eu sei, tia. Ela me falou que papai do céu vai cuidar dela. ― dizendo isso, ele sorriu. O sorriso mais iluminado que eu já tinha visto.

― Vai sim, Luca. ― lhe devolvi o melhor sorriso que pude. O mesmo que eu não dava já havia alguns anos...

Havia sido um dia e tanto. Luca e seu desenho tinham passado a tarde me torturando, e não sosseguei enquanto não me informei mais sobre o estado da mãe do garoto. No final das aulas corri para a secretária e pedi o número da senhora Lopez. Quando cheguei em casa horas mais tarde, discar o número da família foi a primeira coisa que fiz. E enquanto esperava ansiosamente pelo o momento que alguém atenderia, minha uma do mindinho sofria entre meus dentes. Já estava sem esperanças quando passou do quarto bip e ninguém atendeu. No entanto, ao ouvir uma voz feminina do outro lado da linha, meu coração rexalou quase que por completo.

― Alô?!

― Ah, oi... eu sou Bárbara Passos, professora do Luca Lopez, e gostaria de falar com a Sra. Lopez. ― Minhas mãos tremiam enquanto apertava o aparelho em minha orelha.

― A senhora Margot não poderá falar no momento. Ela se sente indisposta, e a pedido do médico está descansando. ― respondeu a mulher educadamente.

Não sei, mas simpatizei com ela.

― Entendo... mas o que tenho a tratar pode ser com algum parente próximo! ― insisti.

― Não há nenhum que eu saiba, querida. ― disse a mulher, e por um breve segundo achei que estava falando com a minha avó materna.

A voz da desconhecia se parecia muito com a dela, sempre calma e gentil.

― Havia uma tia da senhora Margot, mas chegou a falecer ano passado. Até então, são só ela e o menino.

― Sem querer ser indelicada, mas o que a senhora é da família? ― Perguntei sentindo a apreensão me inundar. Se não houvesse com quem eu falar sobre a saúde de Margot, como eu poderia ajudar o meu aluno? Ouvi a mulher da risinhos do outro lado da linha, e então, voltou a falar:

― Não está sendo, querida! Sou a Lucy, governanta da família e a encarregada de cuidar da senhora Margot. ― disse calmamente.

― Dona Lucy, eu gostaria de me encontrar com a senhora para falar sobre a situação da Sra. Lopez. Sei que pode parecer que sou apenas uma pessoa xereta e mal educada, mas estou preocupada com o Luca. Ele vem estando muito para baixo ultimamente e quero saber como ajuda-lo. Já estive no lugar dele há alguns anos atrás, e me lembro bem o quão solitária me senti na época... só não quero que ele ache que está sozinho, entende? ― Meu corpo tremia com a possibilidade de estar sendo inoportuna ou estranha, no entanto, eu sentia uma necessidade imensa de cuidar daquela criança.

― Entendo, mas não acho que seja algo comum, Srta. Passos.

― Apenas Babi, por favor! ― Pedi.

― Certo, Babi! Mas como eu ia dizendo, não é de fato algo comum termos uma professora tão interessada em assuntos íntimos das família do seu aluno. ― droga, eu ia levar um chega para lá. ― No entanto, sei que Luca é um garoto maravilhoso e carrega elogios por onde passa. Vou chama-la pra nos visitar em breve, e caso eu simpatize pessoalmente com a senhorita o tanto que simpatizei pelo telefone, lhe contarei mais sobre a pequena família Lopez.

― Obrigada... ― um sorriso enorme preencheu meus lábios assim que as palavras soaram. Meu coração saltava de alegria e o motivo era ter a chance de contribuir em algo para trazer um pouco de felicidade ao olhos do Luca.

― Preciso desligar agora, mas entrarei em contato, Babi.

― Sim, claro! Estarei esperando... Obrigada mais uma vez. Tchau

― Até mais, querida.

Tirei o celular da orelha quando escutei o bip anunciando o fim da chamada.

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