Capítulo 28

467 37 11
                                    

Você é a única com quem sonho todos os dias.

Rihanna

P.o.v Victor

Fechei o notebook e me escorei na cadeira, jogando a cabeça para trás e
encarando o teto do meu escritório em Brasília. Já faziam duas - miseráveis
- semanas que estava de volta ao inferno, e me sentia exausto com a
montanha de trabalho.

Devido a minha ida a São Paulo sem nenhum
planejamento, o trabalho acabou acumulando. E apesar de todos os meus
esforços trabalhando pelo computador, não chegou a ser o suficiente. No
entanto, faria tudo de novo se fosse preciso.

Os quatro dias que passei ao
lado dela havia valido cada segundo, e sinceramente, não sabia como ainda
estava suportando passar tanto tempo longe da mesma.

Por um lado, era bom estar ocupado, já que durante o dia era fácil não
pensar com tanta frequência no seu sorriso sapeca ou na textura dos seus
lábios pequenos e macios. Mas quando o expediente acabava e eu tinha que
voltar para o hotel, todas as lembranças me bombardeavam com força
máxima fazendo-me sentir um vazio do lado esquerdo do peito ainda pior
que antes.

Ela finalmente era minha namorada. Por tanto tempo isso foi
apenas o que desejei, mas agora que o tinha não era o suficiente... por que
diabos não era o suficiente?

“Precisa ir logo atrás dela, e pedi a garota em casamento de uma vez.” A voz
do Ramos soou em minha cabeça.

"Quero que seja minha, Passos; que seja minha esposa e mãe dos meus
filhos”. Lembrei das minhas palavras no último e-mail que havia enviado a
garota. Qual ela havia tirado sarro.

Droga! Ramos havia botado essa ideia maluca na minha cabeça e Babi,
possivelmente, não estava nem pronta para um passo tão grande. Pelo
menos foi isso que ela deixou parecer em seu último e-mail.

oque diabos eu deveria fazer, então?
Passei as mãos pelo cabelo extremamente frustrado com toda a situação.
Ramos iria me pagar!!

- Deveria estar trabalhando. Se me lembro bem, você inventou uma viajem
de férias e atrasou muitos dos nossos projetos. - Meu pai declarou ranzinza.

Ele adorava entrar na minha sala sem bater.
Forcei um sorriso, esperando que ele não tivesse vindo me dar mais um dos
seus sermões.

- O que quer? - Perguntei arrastado, olhando-o se sentar em uma das
cadeiras
que ficava de frente para a minha mesa.

- Apenas conversar... - Respondeu no mesmo tom.

- O senhor nunca quer, apenas, conversar. E como mesmo disse, tenho muito
trabalho a fazer. Então, vamos parar com a enrolação.
Com a expressão ainda passiva, o Augusto mais velho levou a mão direita até
a barba por fazer e sorriu com escárnio.

- Não acredito que aquela pobre garota foi capaz de perdoar todas as suas
crueldades contra ela... - Soltou com desdém me fazendo trincar o maxilar.

- Como ficou sabendo da Bárbara? - Perguntei atordoado.

- Não sei se é muito ingênuo ou idiota, garoto. Eu sei de tudo que acontece
na sua vida, desde as corridas ilegais, as quais participava no ensino médio,
até a sua novela mexicana com a pequena Babi. Mas dessa vez não precisei
mexer um dedo para obter informações, elas apenas caíram no meu colo
hoje cedo. O casinho de vocês está em todas as manchetes de jornais e sites
de fofocas... - Sorriu cínico, e ralhei os olhos.

Mas era claro que a imprensa não deixaria isso passar. Eles estavam por
todo lugar e por mais que eu tentasse ser discreto, sempre descobriam onde
eu estava e com quem.

- Tenho a leve impressão que está com inveja do meu relacionamento, pai. –
falei, escondendo a irritação, enquanto o provocava. Precisava descobrir
logo de uma vez onde diabos ele queria chegar.

Provavelmente tentar me fazer desistir da Bárbara, já que herdeiros
precisavam se relacionar com herdeiros para o benefício de ambos os lados.
Foi isso que ele tentou forçar entre mim e a Suelen
Foda-se! Eu não estava nem ai para as merdas que ele achava ser o correto.
Nem ele, nem ninguém me faria abrir mão da mulher que amo.

- Não sinto inveja do que já tive, e muito menos do que abomino. - sua
expressão era de pura repulsa. Meu querido pai ainda era louco pela Angélica,
mesmo depois de anos do divórcio. Quanta mediocridade.

- Deveria ser menos revoltado com o amor, Sr. Augusto. Nem todas as mulheres
são iguais.

- Será mesmo, garoto? Pra mim não a diferença alguma...

- Passos não é igual aquela mulher! - Falei sentindo-me enojado só de me
lembrar dela. - Babi é verdadeira, amável e altruísta. E ela me amou por todos
esses anos, enquanto nem os meus próprios pais foram capazes de me amar.
- Cuspi as palavras sentindo um gosto amargo na boca.
O homem a minha frente, apenas, me fitou com o seu olhar vazio de
sempre. E senti a raiva pulsar em minhas veias, por ter demonstrado que me
importava com a falta deles. Mas que droga...

- Case com ela. - O escutei dizer depois de um tempo, me fazendo duvidar
da minha própria audição.

- O que disse? - Declarei surpreso.

- Então case com ela, Victor. - Afirmou sério e paralisei. - Você é meu único
filho e se não fui capaz de ama-lo, o que posso fazer é torcer para que
alguém o ame. Não quero que acabe um amargurado assim como eu. - Pela
primeira vez em anos fui capaz de presenciar meu pai sendo vulnerável. Ele
havia derrubado as paredes anti-emoções e puder ver a verdadeira dor que
sentia estampada em seus olhos.

- Pai...

- Não planejei que tudo acabasse dessa forma. Eu amava a sua mãe e ela
destruiu a minha vida, e eu não aguentava mais todos os olhares de pena
sobre mim, inclusive o seu. Foi por isso que me afastei de todos e até do meu
próprio filho. Então, a peça em casamento de uma vez, antes que os genes
defeituosos da nossa família afastem ela de você.

Sinceramente eu não sabia se Augusto estava tentando me incentivar
ou me amedrontar, mas acho que uma parte minha gostou do que ouvia.
Passei boa parte da minha vida sentindo raiva do mesmo por ter me afastado
dele quando a nossa família ruiu, no entanto, eu conseguia entender o seu
sofrimento. Sim, ele era um idiota por ainda ama-la e longe de mim querer
comparar Bárbara Passos com a Angelica, mas passamos bastante tempo em uma
relação conturbada. E foi a pior parte da minha vida.

- Realmente não se importa com o fato da Bárbara não vir de uma família
renomada? – Perguntei atônito.
Meu pai se pôs de pé em silêncio e então voltou a me encarar.

-Babi sempre foi uma boa menina e nenhuma patricinha conseguiria aturar
um moleque feito você. – Torceu o nariz ao falar e sorri. O homem que mais
parecia um clone meu, apenas um pouco mais velho, girou sobre os
calcanhares e começou a andar em direção a saída.

- Obrigada, Pai. - Falei antes que ele saísse pela porta.
Peguei o celular sobre a mesa e depois de discar o numero, levei o aparelho
até o ouvido. Esperei que o idiotasse atendesse até o terceiro bip.

– Já está com saudades, Augusto? - Sua voz irritante soou do outro lado da
linha e ralhei os olhos.

- Vai sonhando, idiota. - Escutei uma risada anasalada. - Meu assunto é com
a sua noiva histérica. Carolina está por ai?

- Que tal começar me tratando melhor? E talvez eu passe o telefone pra
minha mu...

"Me passe esse celular de uma vez, Arthur!"Escutei a voz da loira murmurar
impaciente, e achei graça.

- O que quer falar comigo, namorado da Bárbara Passos? - perguntou ansiosa. E
enquanto isso ouvi Arthur murmurar um "chata" ao fundo.

- Preciso que me ajude a planejar um pedido de casamento. - Confidenciei
enquanto sorria para o nada.

Sempre é você |Vol. 2Onde histórias criam vida. Descubra agora