Dor intensa

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Não consegui pegar no sono, eu nem conseguiria até que ela acordasse, a torrente do lado de fora tornava o momento propício a única coisa que eu poderia fazer no momento, refletir e lembrar.

LEMBRANÇAS ONN

Eu concertava mais uma de minhas máquinas quando ouço uma voz animada.

-- Hey, Hey! -- Yuka aparece na porta do laboratório -- como está senhor cientista que não tem tempo para os amigos?

-- estaria melhor se não tivesse uma faladeira ao lado o atrapalhando -- falo arrogante, eu estava com um péssimo humor pois estava com dificuldades com a máquina.

-- nananinanão Senku! -- ela me puxa me forçando a me afastar da máquina -- chega de namorar a ciência! Taijou e Yuzuhira nos convidaram para um piquenique na hora do intervalo, mas você não deve ter ouvido.

Ela me puxou até fora da escola, fomos para um dos parques mais calmos da cidade, Taijou e Yuzuhira prepararam um piquenique para nós quatro, havia sanduíches, doces, sucos e vários "aperitivos", os três conversavam animadamente enquanto eu apenas encarava uma árvore, tentando achar a solução do meu problema, sabe aquele momento que você encara um ponto específico enquanto pensa em algo? Era exatamente isso.

-- tira o pensamento da ciência por um minuto pelo amor de Deus! -- Yuka foi alterando a voz lentamente, ela estava realmente irritada comigo -- poxa Senku! -- ela se levanta e vai embora.

-- por que ela está tão irritada? TPM? -- pergunto para Taijou e Yuzuhira que pareciam incrivelmente decepcionados.

-- quem diria que você é o aluno mais esperto da escola quando consegue ser tão tolo? -- Yuzuriha fala tranquilamente enquanto nega com a cabeça -- ela que deu a ideia do piquenique, e ela fez questão de comparar seus doces favoritos para ver se você descansa como uma pessoa normal por um dia.

Ficamos em silêncio por uns segundos.

-- tá esperando o que? Vai atrás dela cara! -- Taijou grita comigo, ele quer estourar meus tímpanos? Quase conseguiu.

Levanto e vou andando lentamente para a mesma direção que ela foi, Yuka estava parada em um ponto de ônibus, irritada, com o celular em mãos, dou uma espiada por cima do ombro, ela havia pedido para o irmão vir buscar ela.

-- Yuka? -- chamo e ela me olha surpresa.

-- por que me seguiu?

-- eles me expulsaram se lá.

-- e por que não voltou para o laboratório -- ela fala olhando irritada para os carros da rua, uma forte chuva começa do nada, mas como o ponto de ônibus estava cheio acabamos ficando de fora, por sorte ela era muito precavida, e sempre tinha um mini guarda-chuva na mochila.

Sempre.

-- por que é muito longe -- falo enquanto ela abre o guarda-chuva em cima de nós dois, eu tive que erguer a voz por conta da chuva e os carros -- e também, por que não quero perder a sua amizade -- ela me olha surpresa e levemente envergonhada -- esperava o que? Você é a única pessoa que se esforça para entender o que eu falo e faço.

-- achei que a tagarela atrapalhava o cientista -- ela fala quase gritando, dá onde vinha tanta chuva e relâmpagos?

-- um pouco, mas a tagarela é a melhor companhia se comparada aos figurantes, o escandaloso e a tímida -- eu não fazia ideia do porque estávamos falando daquele jeito, mas eu estava feliz, era divertido estar com ela, muito mais do que eu lembrava.

O irmão dela logo chega e ela me empresta o guarda-chuva para eu poder ir para casa, ela entra no carro e eles vão embora.

LEMBRANÇAS OFF

Eu estava muito mais perto dela agora, já não chorava, apenas encarava a parede com tristeza e nostálgia, como eu fui burro! Se eu tivesse percebido o que sentia!

-- me desculpe... -- falo segurando a mão dela com carinho -- é realmente incrível o quão burro eu fui nesses últimos tempos -- minha voz estava rouca pelo choro de antes -- Burro, burro, burro! -- com a mão livre eu seguro meu peito, estava com o coração apertado.

Se eu tivesse deixado ela ficar comigo lá na ponte eu poderia ter evitado isso, ela estaria bem agora!

-- por favor....-- minha voz parecia sumir enquanto eu observava o rosto sereno dela -- eu te amo tanto...

Sinto a mão dela apertar levemente a minha, eu me surpreeendo e quando volto a olhá-la, ela estava abrindo lentamente os olhos, ela lentamente move os lábios para falar algo, mas acaba soltando uma tosse brusca.

-- c-calma aí, não tente se esforçar, sua garganta deve estar muito danificada, você respirou muita fumaça -- falo meio rápido, ela apenas de contenta em sorrir fracamente -- você não vai conseguir falar por um tempo, não posso saber exatamente quanto pois não sei o quanto de fumaça você inspirou -- pego um copo de água e levanto a cabeça dela com cuidado, ela mal estava se mexendo -- aqui, beba um pouco...você realmente me assustou -- falo calmamente e suspirando com muito alívio.

Ela bebeu a água com dificuldade, o corpo dela estava fraco e mole pela falta de oxigênio no sangue e talvez até no cérebro, eu estava com medo de ela ter sequelas permanentes, mas ela estar viva já era o bastante por enquanto. Depois de beber a água ela se deita e fica me encarando preocupada, talvez por causa da vila, então conto tudo o que aconteceu para ela, e isso parece tranquilizá-la, quando eu ia me levantar ela segura minha roupa, ela estava tão fraca que nem seria um problema levantar e sair andando.

-- quer que eu fique aqui? -- ela assente com a cabeça, ela ainda parecia preocupada, talvez eu estivesse com uma cara péssima e ela provavelmente notou.

Isso não me surpreenderia, eu chorei por horas.

Me deito ao lado dela e fico a encarando, ela sorri e se aproxima lentamente, Yuka me abraça e coloca o rosto no meu peito, eu acabo ficando com o corpo inteiro tão rígido quanto uma pedra.

Ela não costuma ser tão ousada.

Yuka rapidamente pega no sono enquanto eu fiquei estático pensando sobre o que tinha acabado de acontecer, será que ela tinha ouvido eu dizer que a amo? Talvez sim, talvez não, eu teria de esperar até o dia seguinte para descobrir. Relaxo o meu corpo e faço um cafuné nela até pegar no sono.

Dentre todas as vezes que eu quase te perdi, essa foi a que eu mais senti medo.

3.700 Anos de amor (Senku X Leitora)Onde histórias criam vida. Descubra agora