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O corpo de Sigmund revoltou-se, animado pelos sentimentos que o mantinham submerso, se afogando em suas próprias angústias.

O menino enxergava, mas não ouvia. O tão odiado aroma do incenso, queimando no pagode, não podia ser sentido; o tão amado perfume de Ranna, preenchendo o local, não podia ser sentido.

Enquanto tentava, fracassadamente, retomar o controle de seu corpo, observou o caminho até o monastério... o caminho até Ketu.

Ketu sentou próximo ao menino, recitando seus mantras, e a visão de Sigmund turvou, antecedendo a paralisação de seu corpo.

Outros monges juntaram-se a Ketu, tentando alcançar Sigmund, mas o menino, ouvindo suas vozes, irascível, dificultou tal tarefa.

"Não quero vocês aqui!"

Foi seis horas onde Ketu e os monges não tiveram sucesso.

Percebendo que não desistiriam, Sigmund decidiu combatê-los ativamente. Estava em seu íntimo, logo, entendia ser mais poderoso.

Ao observar leves hemorragias nasais em alguns monges, Ketu gesticulou para pararem e dirigiu-se aos afetados:

— Não se firam. Descansem e chamem outros para substituí-los.

— Algo maligno vive com o garoto! — disse um deles, assustado.

— Lidaremos com qualquer mal. Se algo simples não frutificou, realizaremos algo adequado. Levem-no a um aposento. Mantenham-no desacordado. Prepararei tudo e os comunicarei ao término.

O grão-mestre deixou o local. Ranna estava recebendo amparo na entrada do monastério. Ao ver Ketu, se apressou para interpelá-lo.

— Como ele está? — perguntou, abalada, transbordando lágrimas preocupadas. — O que aconteceu? Ele ficará bem?

— Não o alcançamos. Alguns feriram-se. Recorreremos a uma cerimônia onde estaremos protegidos e conseguiremos lidar com qualquer mal que o aflige — respondeu Ketu, calmo.

— Posso me juntar? Talvez ajude! — ofereceu, sucedendo em se comedir, resumindo o mar de lágrimas a um fino córrego.

— Você tem um trabalho a executar. A manhã está chegando, vá se preparar. Se, ao término, ainda tiver forças, poderá se juntar a nós.

— Sim, senhor. Posso vê-lo?

— Sim. Está inconsciente em um aposento. Levem-na!

Ranna foi guiada ao quarto onde três monges acompanhavam Sigmund, mantendo-o desacordado através da constante recitação.

Em meio ao silêncio e a escuridão, Sigmund sentiu o chi de Ranna próximo. Teve o direito de acordar negado pelos mantras, mas um monge, sentindo sua consciência, cessou o mantra e levantou.

— Irmão, tudo bem? — perguntou Ranna, apreensiva.

— Sim. A consciência de Maung Sigmund oscilou. Reportarei a Sayadaw Ketu. Pode assumir minha posição, minha irmã?

— C-claro — concordou, juntando-se aos monges.

"É isso, Ranna!?", gritou Sigmund dentro de si, enraivecido.

"Ainda instável, Maung Sigmund?", indagou a mãe.

"Ranna, não sei porque me impedem de acordar, mas estou bem... me deixa acordar, me comporto", pediu, acalmando o tom de voz.

"Filho meu, estamos trabalhando para o seu bem. Prometa se comportar e falo com Sayadaw Ketu. Deve ficar até devolvermos sua razão, mas ele não deve negar", negociou, confiando na passividade.

Algos - Livro α - 3ª EdiçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora