Um ar gélido tomou o templo, perfumando-o docemente.
Todos silenciaram e apenas a sinfonia agitada do vento lá fora podia ser ouvida. Os mestres e responsáveis das crianças, juntaram-se, perto da entrada, deixando os aprendizes a frente de Althea, sós.
— À lágrima que lhes habita, dou vida, crianças! — Althea orou.
A estátua verteu uma lágrima e o som de seu toque no chão ecoou. O vento cessou e a lágrima dividiu-se em muitas outras, viajando por entre as crianças e jovens.
A pequena gota aproximou-se de Sigmund como música. O gélido ponto em seu peito pulsou, ansiando por aquela parte de si.
Sigmund franziu o cenho, pôs a mão no peito, tomado por uma saudade avassaladora, como luto.
***
Olhando ao redor, viu-se num lugar diferente. As crianças diferiam. Os motivos nas paredes, muito parecidos, também diferiam. Olhando Althea, Sigmund viu uma jovem parecida.
Sua memória lembrou-se do nome da moça, Maija, com ternura.
— O que acontece!? — questionou, olhando-a.
— Manteremos nosso dever! Qualquer pecado ocorrerá com consciência de seu peso e execrabilidade — disse Maija, carregando o peso da guerra. — Não quero, mas estou disposta e devem estar! Ela não cairá por negligência! Ao vencer a Titanomaquia, os deuses pagaram caro. Ser drástico exige tratamento pós-guerra.
Crendo alucinar o menino fechou os olhos.
— Não nos desviaremos. Pecaremos, pagaremos e morreremos! — Finalizou a sacerdotisa com obstinação no tom de voz.
— Os herdeiros são jovens! Levá-los é loucura! Lidamos. O sétimo está louco, não cogite! — disse a grave voz de um homem.
***
Sigmund voltou a olhar e viu Althea sentada, o que o fez relaxar. Algumas crianças estavam paradas, com olhar perdido. Preocupado, ele decidiu afastar-se, abraçado em seu saung.
"Se recebemos herdeiros em meio à guerra é obrigação deles lutar!", ouviu Sigmund, o grito familiar de um homem, alterado, trêmulo.
Ele arrepiou, olhou e nada viu, pôs a mão na cabeça, suando frio. O pulsar da gélida lágrima em seu peito acalmou.
— Em meio a turbulenta vida e a tranquila morte, caminharemos, crianças... — Althea tomou a flauta. — Abraço-lhes em nossa casa, nossa família. Devolvo-lhes o que o Lete tomou. Estendo meus braços para lidarem com quem foram. Ofereço sabedoria para aprimorá-los!
Tonto, Sigmund sentou.
Outras crianças, sofrendo da mesma vertigem, também sentaram e alguns, tocados mais intensamente, caíram.
"Jamais o condenarei, pequeno Algos... Enxugo teu pranto e trago-te à minha casa, descanse... A vida pode suportar um dia sem dor e tu podes apreciar um dia sem a vida!", disse a voz de Macária.
— Diariamente me parece mais razoável! — Ele riu.
"Enquanto estiver comigo, deves suportar... Não precisas amar a vida para cuidar dela! Entender que tu e ela dependem um do outro para existir pode dar significado momentâneo a tua existência."
— E quando este significado padecer?
"Você terá conseguido outro! Como naquela vez...", riu gentil.
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Algos - Livro α - 3ª Edição
DuchoweSe há dor em tudo, é realmente necessário curar? O que dói em ti? Presente, passado, futuro O tempo. No fim do dia, O anseio de tudo que vive é apenas ser livre! Mesmo que doa. O existir. Loucos podem chorar? Loucos podem lutar? Amar? Doentes podem...