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No quarto, o rapaz estava acordado, sentado enquanto realizava um exercício fisioterapêutico. Parecia muito focado.

— Soube que é herdeiro de Ftonos. — Sigmund disse, entrando e fechando a porta. — Como foi... ser louco por alguns instantes?

A palidez do rapaz intensificou e ele olhou-lhe, amedrontado. A Loucura resquicial se agitou e Sigmund se aproximou.

— Não vim piorar seu quadro — disse o menino.

Ele aproximou-se e o tocou, tomando de sua Loucura. O extremo prazer foi imediatamente aquietado por seu insano eu.

— Vim conversar e, acredite se quiser, civilizadamente — riu, sentando ao chão, mantendo o toque nos pés do rapaz para seguir drenando a Loucura que insistia em obedecer ao pavor.

— Você é um monstro! — exclamou o rapaz.

— Eu ainda sou o bom moço. Não quero fazer mal. Como está?

— Como pensa que estou!? Nunca mais serei o mesmo! Estou doente e não tem cura! — esbravejou.

— Sei como é. Eu nunca fui o mesmo... nem o mestre; Epifron; Profasis; Pseudos; Potos; Hormes; Anesiquia; Ftisis; Himeros; Hibris; Calis... Tudo seria melhor sem sua crueldade e insensibilidade.

O menino respirou fundo, olhando-o.

— Somos antissociais, mas isso não justifica nos estressarem mais, deixando de lado o fato que somos doentes e não temos cura.

— Era inofensivo; não havia necessidade! — reclamou o rapaz.

"Loucura também é inofensiva...", seu insano eu gargalhou.

Sigmund riu, silenciou por alguns instantes, olhando-o.

— O que lhe ocorreu com mínimo estresse? Devemos parar de intervir para sua visão nublar? Foi inofensivo? — arguiu Sigmund.

O rapaz nada disse.

— Em Burma, tinha alguém... Em meio a Loucura que me bombardeava; sendo ignorante, resultado de uma insana engenharia... esse alguém foi como você e julgou ser inofensivo...

Pesar passeou no semblante de Sigmund e ele fitou o insano olhar do rapaz que tinha um misto de confusão e raiva no rosto.

— De novo... não foi inofensivo. Um grande caos em minha mente me dá certeza que carregamos muito de seu sangue.

— Não é crime vir aqui me ameaçar ou vir e me matar!?

— Seria, mas este não é meu propósito aqui! Não vim ameaçá-lo, feri-lo ou oferecê-lo misericórdia alguma... por isto não o matarei.

O rapaz engoliu seco.

— Naquele momento de nossa vida, éramos só uma criança. Falando por mim, ingenuidade corria minhas veias e mesmo meu insano eu não estava pleno de suas faculdades mentais.

Suspirando, tristeza terminou de invadi-lo.

— Quando age contra mim, quando os seus agem contra os meus não é inofensivo e instila instabilidade na minha casa. Por nunca optarem nos matar e seguirem nos torturando, eu não o matarei.

Lágrimas inundaram os olhos de Sigmund.

— Por todo mal que causam... pelo mestre e meus futuros irmãos de horda... Por seguirem nos perseguindo e castrando em silêncio, por semearem nossa Loucura. Espero que viva por muito tempo! Outros virão porque não matarei nenhum de vocês.

Sigmund tornou a suspirar.

— Queremos que sintam o que é estar cego, longe, afogado no sangue que corrói e corrompe. Queremos que sintam o que sentimos quando perpetramos o pranto dos que juramos proteger.

Algos - Livro α - 3ª EdiçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora