— Qual é o acordo? — Sigmund o indagou.
— Cortar uma árvore impacta no futuro de uma grande área, apesar de pouco dada a vastidão da Criação. Direi o que ocorrerá em solo bengali e reflita falar ou não. Observe as pétalas do tempo... mediante o que ouvirá, meça os impactos nos vivos, nos mortos... Não precisa me dizer depois, mas estarei aqui para ouvir. — Ario sorriu.
— Se decisões extremas aguardam no futuro... é justo começar a tomá-las agora! — Sigmund riu. — Estamos acordados, Moros.
Ario levantou para servi-los com mais vinho.
— Uma catástrofe aproxima-se. Não sabemos da origem, mas não teremos nada inferior a um milhão de mortos. Não acionamos a sétima escadaria, pois, muitos participarão... será difícil! Se o secto local não achar intervenção externa, o trabalho será nosso.
— Um milhão!? — pasmou o menino.
— Um milhão são os que sinto como guardião. Ainda há Macas, Praxidice, Geras, Dissebia... logo esse número é maior! Uniremos forças para manutenir o solo, mas será difícil reparar rápido.
Sigmund arrepiou-se ao vislumbrar o território manchado de sangue; o vinho agitou-se na taça, mas, precavido, ele a pôs à mesa.
— Não termine o vinho por educação. Espero ter ajudado!
— Ajudou, Moros. Obrigado. Partirei para não expô-lo.
— Cuide-se, criança. Seja forte!
Sigmund o cumprimentou e retornou, pensativo. Foi ao quarto, ainda aturdido com o terrível cenário desenhado em sua mente.
"Não é sábio falar com ela tão instável, monge!"
"Desculpa. Pode pedir para a mãe chamá-la?", pediu.
"Posso, monge... Todo o solo é absurdo para mim também! Logo, também evitarei contatá-la para não maculá-la com a Loucura!"
"Será que também será assim no trabalho que o mestre disse?"
"Talvez ou pior... Se o acidente bengali tiver alguma causa anatural, sim, ele manchará tudo; entretanto, se for só a natureza, as manchas serão poucas, causadas pela corrupção que nascerá de Penia."
"Penia?"
"Da falta de meios, monge... O sétimo trabalho exige lidarmos com almas corruptas que abusam da vida que possuem... Logo, é mais fácil que lidemos com um solo manchado do que os nonos."
"Com isso, posso presumir menor incidência de sangue?"
"Impossível afirmar... Há guerra, abortos, destinos se cumprindo... com tantas mortes, pode haver muito sangue ou até mesmo envenenamento... sangue a longo prazo!"
O ar faltou em Sigmund, ele trincou os dentes, engolindo seco.
"Falarei com a mãe. Fique tranquilo, não soarei desesperado!"
— Obrigado. — Descuidou-se, falando em voz alta.
Sigmund deitou. Refletiu sobre tudo, mas acabou dormindo. Horríveis pesadelos de um país tomado pelo sangue o acometeram, acordando-o cedo, suado e trêmulo.
Ele foi ao banho devagar, respirando fundo em busca de estabilidade para a intensa inconstância.
"Continue assim e uma intervenção será inevitável!", debochou a outra face, parecendo satisfeito com a instabilidade do pobre monge.
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Algos - Livro α - 3ª Edição
EspiritualSe há dor em tudo, é realmente necessário curar? O que dói em ti? Presente, passado, futuro O tempo. No fim do dia, O anseio de tudo que vive é apenas ser livre! Mesmo que doa. O existir. Loucos podem chorar? Loucos podem lutar? Amar? Doentes podem...