Capítulo 1

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“Tudo acontece por uma razão” – Anónimo.

 

Umas horas antes

P.O.V Harry

Por vezes, não basta virar a página, pois facilmente o vento a viraria de novo. Por vezes, o melhor é mesmo fechar o livro e escrever um novo. Não concordo com quem acha que devemos queimar o anterior, isso seria como queimar uma parte de nós, dado que aquele livro conta uma fração da nossa história.

A verdade é que, na maioria das vezes, as pessoas são demasiado apegadas e por isso não conseguem virar a página, quanto mais escrever um novo livro. Mas eu nunca fui assim. Nunca soube o que é pertencer a algum lado, a alguém. Sempre fui uma espécie de folha que se soltou de um ramo e que agora voa livre com o vento.

Algumas pessoas acham-me um sortudo, mas eu acho-me um amaldiçoado, uma pessoa estragada. Uma pessoa que talvez nem possa ser considerada pessoa, ou talvez uma pessoa vazia

Sinto que abriram uma janela no meu peito e tudo que lá havia voou…

 

“-Última chamada para o voo com destino a Nova Iorque.”

A senhora com voz nasalada chamou a minha atenção. Levantei-me do banco onde estava sentado e procurei a porta que me levaria ao avião. Quando finalmente entrei, fui até ao meu lugar e deixei-me repousar no assento. Aqui vamos nós…

-Adeus Chicago.– Sussurrei, olhando pela janela e, em seguida, fechei os meus olhos.

[…]

-Mas que raio?!

Acordei com o meu assento a abanar por tudo quanto era lado e quando tentava perceber a causa, dei de caras com um miúdo que dava pontapés no meu banco!

-Hei, rapaz! Miúdo! – O pequeno diabrete parecia não ouvir o que eu dizia.

Por isso, levantei-me e tirei-lhe os fones dos ouvidos.

-Miúdo, podes por favor parar de dar pontapés ao meu assento? Estás a incomodar-me.

-Problema teu! – O rapaz tirou os fones das minhas mãos, mostrou-me a língua e continuou a pontapear a parte de trás do meu lugar!

Incrédulo e um tanto aborrecido sentei-me de novo e tentei respirar fundo. Porém, em vão. Eu não sou mal-educado e até gosto de crianças, mas este puto dos infernos está a dar-me uma carga de nervos!

-Desculpe, senhor. – Levantei-me, de novo, e acordei o homem que dormia ao lado do diabinho com dentes de leite. – Este rapaz é seu filho?

-É sim, porquê?

-Bem, o seu filho está a pontapear o meu banco, será que podia faze-lo parar? Por favor? – Tentei pedir com toda a educação do mundo, já que o homem olhava para mim como se me fosse comer vivo!

-Tenha paciência! É uma criança! – Resmungou.

-Sim, eu sei que é uma criança. No entanto, não é correto o que ele está a fazer…

O Homem careca e rude olhou para mim com indiferença, encostou a cabeça ao assento e fechou os olhos! O meu queixo caiu de perplexidade e o pirralho mostrou-me de novo a língua! 

A viagem vai ser longa…

Com um livro na mão e uma dose extra de paciência, que é permita a alguém que tem o banco a abanar que nem um touro mecânico, observava por entre as nuvens a minha nova morada (pelo menos, durante os próximos meses).

Once in a LifetimeWhere stories live. Discover now