Capítulo 3

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"De vez em quando tu encontras-te com essas pessoas que te fazem pensar que apenas talvez tu tenhas feito algo certo depois de tudo para merecê-las na tua vida" –Anónima

P.O.V Harry

Quando acordei de manhã, encontrei um bilhete do Zayn na mesa da cozinha a dizer que tinha ido trabalhar e que eu poderia comer o que quisesse.
Era cedo e eu recusava-me a ficar em casa. Então, voltei para o quarto. Vesti umas calças de fato de treino, uma t-shirt, um casaco desportivo e calcei as minhas sapatilhas. Coloquei os fones nos ouvidos e saí de casa.

O sol não brilhava, porém também não parecia haver indícios de chuva, por isso comecei a correr.

A brisa fresca que despenteava levemente os meus cabelos fazia-me sentir leve. Era como se todos os males fossem arrancados de mim com o vento.

Enquanto corria, matinha a mente vazia e essa era uma das coisas que mais gostava sobre o desporto. Para além de nos ajudar a mantar um estilo de vida saudável (claro), ocupa-nos a cabeça e acreditem, quanto mais ocupada estiver a minha melhor. De facto, ela sempre foi uma espécie de inimiga para mim.

A verdade é que a nossa memória é selectiva, ou seja, ela selecciona apenas algumas recordações e arquiva-as. Eu poderia dizer que o meu cérebro é um canalha por não recordar nada de bom, mas ele não tem culpa. O meu passado está cheio de fantasmas que me atormentam à noite.

Durante 20 anos fui rejeitado e abandonado.

Durante 20 anos fui abandonado e deixado à minha sorte e, por isso, hoje não sei pertencer.

-Flashback on-

-Harry, a família Somers veio buscar-te.

Saltitante e brincalhão, como qualquer criança de 8 anos, despedi-me da Menina Margarett e entrei no carro do Senhor e da Senhora Somers.

Ao longo da viagem, enquanto ia assobiando as músicas que passavam na rádio, olhava pela janela da viatura e tentava desvendar a história de cada pessoa que via na rua.
(O mundo aos olhos de uma criança é tão diferente...)

Quando chegamos à mansão dos Somers o meu coração bateu mais forte e feliz do que nunca. Eles até tinham uma piscina!

Levaram-me ao quarto, que viria a ser meu, e eu fiquei lá a brincar com os brinquedos.

Passados uns 20 minutos eu já estava cansado. Fui de mansinho pelos corredores até chegar a uma divisão onde ouvia vozes. Permaneci parado à porta que se encontrava fechada.

"-Thomas, Beatrice, vocês não podem ficar com o miúdo!" – Um homem de voz grossa disse rudemente e os meus olhos começaram a brilhar.

"-Mas porquê, Marcos? O Harry é um rapaz tão adorável..." – Respondeu, entre soluços, Betrice.

"-Vocês têm compromissos, uma agenda repleta! Não há espaço para brincar às mães e aos filhos, Beatrice! És uma mulher de negócios, lida com isso!" – Ele praticamente gritou e o meu pequeno corpo estremeceu.

"-Tens razão...Amanhã, vamos leva-lo de volta." – Concordou, por fim, o Senhor Thomas.

Fui a correr até ao quarto, que nunca seria meu, e sentei-me no chão, com os joelhos a tocar no meu peito. Deixei as lágrimas rolarem pela minha frágil face.

Naquele dia, não saí mais do quarto e no dia seguinte estava, de novo, com a Menina Margarett.

-Flashback off-

Aquela não foi a primeira nem a última. Assim como a família Somers vieram outras. Pessoas diferentes, história diferentes, mas o mesmo desfecho. Foi assim durante anos. Foi assim até há 4 anos atrás.

Once in a LifetimeWhere stories live. Discover now